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PSICOEDUCAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO PARA TRAÇOS DE PERSONALIDADE NA INFÂNCIA

Autor: Marcela Mansur Alves
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Introdução

Este capítulo pretende abordar duas temáticas centrais da psicologia: a personalidade e as intervenções. Além da abordagem isolada de cada uma dessas temáticas, pretende-se estabelecer um diálogo entre elas.

Os conceitos de personalidade e intervenção talvez figurem entre os mais importantes no campo da clínica psicológica. Ou seja, no que se refere à intervenção, todas as principais teorias da psicologia clínica tiveram suas origens atreladas a propostas e modelos de intervenções psicossociais, inicialmente com foco apenas no tratamento e, aos poucos, migrando para a prevenção primária e secundária.

As vertentes da psicanálise, no humanismo, na Gestalt-terapia e na terapia cognitivo-comportamental (TCCterapia cognitivo-comportamental) objetivavam lidar com o sofrimento psicológico, ou melhor, com a saúde mental das pessoas. Intervir seria, pois, uma das funções primordiais do psicólogo. Atualmente, em especial nas últimas décadas, fala-se de modelos de intervenção muito mais sofisticados, em que se destaca uma grande preocupação com:1

 

  • a padronização do relato dos resultados da intervenção;
  • os delineamentos metodológicos rigorosos;
  • a tentativa de explicar os mecanismos de mudança.

A psicologia da personalidade teve seu desenvolvimento inicial atrelado à psicologia clínica, ainda que, em algum ponto, o progresso das teorias e dos modelos de personalidade tenham se afastado da clínica para constituírem um campo próprio de investigação na psicologia. Nesse sentido, todas as principais abordagens teóricas da psicologia clínica fazem menção à personalidade humana ou trazem uma concepção do que essa seria.

Faz-se referência a aspectos ou componentes da personalidade quando:

 

  • a psicanálise traz os conceitos de id, ego e superego;
  • o humanismo visa a trabalhar a autoatualização do sujeito;
  • a terapia cognitivo-comportamental (TCCterapia cognitivo-comportamental) explora os conceitos de crenças, esquemas ou valores.

Embora existam várias definições para a personalidade, no campo das teorias psicológicas, aqui ela é entendida como um sistema usado para explicar os padrões coerentes e estáveis — temporal e situacionalmente — de afetos, cognições, motivações e comportamentos. Esse sistema é composto por diversos elementos que interagem de maneira complexa e dinâmica.2,3

Os diversos elementos que compõem esse sistema são praticamente os mesmos para todas as pessoas; ou seja, a estrutura da personalidade seria um universal (ou quase universal) humano.4 Não obstante, a forma como esses elementos interagem e influenciam um ao outro, os processos que operam em um dado momento para promover essas interações e a quantidade (nível) de cada elemento que cada indivíduo possui são extremamente particulares, formando algo semelhante a uma assinatura ou impressão digital socioemocional.2

Os componentes desse sistema podem estar operando de forma homeostática e funcional, favorecendo o bem-estar físico e mental. Por outro lado, é possível que estejam operando um estado chamado de entropia psicológica, ou seja, de desorganização, incerteza e imprevisibilidade quanto à capacidade de se movimentar em direção aos objetivos e metas.2 Esse estado, que pode ser resultante de vulnerabilidades individuais e fatores de risco ambientais, é potencialmente prejudicial à saúde dos indivíduos.

Nesse sentido, parece plausível supor que, de uma maneira geral, as diferentes estratégias e protocolos de prevenção e intervenção encontrados na clínica psicológica tenham por objetivo promover mudanças positivas nesse sistema (personalidade), possibilitando o bem-estar psicológico e prevenindo o adoecimento mental. Não há dúvidas de que as intervenções psicológicas funcionam e que as evidências compiladas em revisões sistemáticas e metanálises são praticamente uníssonas nessa direção. Não obstante, pouco ainda se sabe sobre a eficácia das intervenções psicológicas para alguns componentes da personalidade e seus mecanismos de ação.1

O presente capítulo tem como principais questões as possibilidades e a eficácia das intervenções psicológicas nos traços de personalidade e os possíveis mecanismos de ação para essas mudanças. Para tanto, traz os principais conceitos a serem trabalhados em uma primeira seção; em seguida, apresenta os possíveis mecanismos de ação das técnicas ou protocolos utilizados nas intervenções na clínica psicológica para promoção de mudanças nos traços e, por fim, sugere técnicas de intervenção nos traços de personalidade, com foco específico na psicoeducação.

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • definir personalidade e reconhecer a estrutura que, atualmente, é investigada e debatida;
  • atualizar-se sobre as pesquisas que tratam das mudanças nos traços de personalidade;
  • discutir sobre os mecanismos que operam para a promoção das mudanças nos traços de personalidade;
  • caracterizar algumas técnicas e ferramentas que poderiam atuar promovendo mudanças nos traços de personalidade, com foco na psicoeducação;
  • considerar as possibilidades para a atuação profissional na área.

Esquema conceitual

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