- Introdução
A perda da consciência forma um dos pilares do conceito de anestesia geral. A possibilidade de o paciente recordar de situações e estímulos álgicos intraoperatórios sempre foi uma preocupação dos anestesiologistas.
De início, a mensuração da profundidade anestésica se baseou em parâmetros fisiológicos, como pressão arterial, frequência cardíaca, sudorese, lacrimejamento ou atividade motora. Entretanto, a depender das comorbidades do paciente e das medicações utilizadas, tais parâmetros são pouco representativos do estado de consciência.1
Em busca de parâmetros mais confiáveis, foi observado que o eletroencefalograma (EEGeletroencefalograma) poderia ser utilizado na avaliação da profundidade anestésica. Após, foram desenvolvidas tecnologias que faziam um rápido processamento matemático dos dados do EEGeletroencefalograma e se tornaram ferramentas fundamentais na prática anestésica.
O EEGeletroencefalograma é uma representação da atividade elétrica encefálica, resultado da soma das atividades excitatórias e inibitórias pós-sinápticas.2
Diversos modelos de montagem e nomenclatura foram propostos até a aceitação, por questões de padronização, do modelo proposto por Jasper e depois modificado por Klem, chamado de sistema internacional 10–20.3
Em 1937, observou-se que mudanças sistemáticas ocorrem no EEGeletroencefalograma com o aumento da dose de éter ou pentobarbital, assim, foi proposto que tais mudanças poderiam ser úteis na mensuração da profundidade anestésica.4 No entanto, devido à sua complexidade, à montagem minuciosa e à profusa quantidade de informações, o EEGeletroencefalograma intraoperatório teve pouca aceitação na dinâmica prática anestésica.1
Com o intuito de dar aplicabilidade a esses conceitos, na década de 1990, a análise bispectral foi utilizada no processamento matemático dos dados do EEGeletroencefalograma, traduzindo-os em um valor numérico a partir de um canal frontal.1 Considerado hoje uma ferramenta essencial para a boa prática anestésica, a utilização do índice bispectral (BIS, do inglês, bispectral index) mostrou:
- significativa redução da incidência de consciência intraoperatória, disfunção cognitiva pós-operatória e delirium;5
- menor consumo de anestésicos;6,7
- menor tempo para resposta a comando verbal, abertura ocular, extubação e recuperação anestésica.6–7
O BIS utiliza um sistema de eletrodos padronizados na região frontotemporal, podendo ser unilateral ou bilateral, que amplificam o sinal elétrico encefálico, filtram artefatos e — por meio da análise de parâmetros de frequência, voltagem e tempo — os traduzem em um valor numérico, que varia em uma escala de 0 a 100. Os valores mínimos correspondem à inatividade elétrica e a níveis profundos de anestesia ou coma, já os valores máximos referem-se ao estado de vigília e consciência.
Em algumas situações, porém, o posicionamento clássico padronizado dos eletrodos não é possível, como em algumas neurocirurgias, cirurgias plásticas ou otorrinolaringológicas, nas quais o campo operatório situa-se na região frontoparietal. Surgiu, então, a necessidade de posições alternativas ao padrão para monitoração intraoperatória.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar os padrões elétricos encefálicos sob anestesia geral;
- correlacionar a montagem padrão do EEGeletroencefalograma com o BIS;
- descrever os diversos posicionamentos alternativos do BIS;
- comparar o posicionamento alternativo com o padrão do BIS.
- Esquema conceitual