- Introdução
O ato da prescrição medicamentosa deve sempre ser encarado como um procedimento médico com os riscos e os benefícios intrínsecos a ele.
Aparentemente singelo, o tratamento medicamentoso adquire destaque em pacientes idosos pelas peculiaridades fisiológicas inerentes ao processo do envelhecimento humano associadas ao consumo progressivo de vários medicamentos de forma simultânea.
Desse modo, tem-se a somatória de um processamento farmacológico (farmacocinética e farmacodinâmica) vinculado à faixa etária com o desenvolvimento do risco de interações medicamentosas e de efeitos colaterais.
A farmacocinética consiste no processamento do medicamento pelo corpo humano após sua administração.1
Englobam-se, no conceito de farmacocinética, quatro etapas em sequência:1
- absorção;
- distribuição;
- metabolização;
- excreção.
A farmacodinâmica abrange as respostas do organismo humano determinadas pelas concentrações do fármaco no receptor, pelas interações receptoras dos medicamentos (variações no número de receptores, afinidade do receptor, resposta do mensageiro e resposta celular) e pela regulação homeostática.2
Às peculiaridades fisiológicas inerentes ao envelhecimento que interferem na ação dos fármacos nas etapas farmacocinética e farmacodinâmica, agrega-se o consumo progressivo de vários medicamentos simultaneamente, originando a observação frequente de eventos adversos e de interações medicamentosas, a presença de medicamentos potencialmente inapropriados (MPImedicamento potencialmente inapropriados) para idosos e a polifarmácia. Soma-se a regular análise da real necessidade de todos os fármacos em uso, utilizando-se para isso técnicas de desprescrição.
O evento adverso ou efeito colateral é qualquer consequência indesejável ou inesperada de um procedimento preventivo, diagnóstico ou terapêutico.3
O termo polifarmácia é utilizado qualitativamente para descrever o consumo de medicamentos múltiplos, excessivos, desnecessários ou não indicados para a terapia proposta. Cada definição qualitativa de polifarmácia indica que o paciente se expôs a um padrão diferente de risco com implicações específicas quanto a custo e hospitalizações, índice de reações adversas, adesão ao tratamento e qualidade de vida.3–5
A definição quantitativa de polifarmácia (uso regular e simultâneo de cinco ou mais medicamentos) permite certa uniformização de resultados e comparação com outros estudos. Igualmente, é mais simples na prática clínica, auxiliando no rápido diagnóstico de risco iatrogênico medicamentoso.3–5
Os MPImedicamento potencialmente inapropriados para idosos são fármacos que apresentam maior possibilidade de provocar efeitos adversos do que de gerar benefícios para pacientes dessa faixa etária. Há várias listas e critérios sobre MPImedicamento potencialmente inapropriados que serão apresentados posteriormente.6–8
A desprescrição, considerada parcela significativa da boa prescrição, é definida como o ajuste medicamentoso a doses mínimas efetivas e/ou a interrupção do medicamento quando o quadro clínico do paciente não justifica mais seu consumo, ou seus efeitos colaterais e/ou interações medicamentosas se tornam superiores ao benefício para o usuário.9
O uso racional de medicamentos e com regras farmacológicas inerentes à faixa etária, embora um desafio clínico permanente, propicia gratificação pela qualidade de vida que é mantida no paciente idoso.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer os aspectos básicos de farmacologia aplicados em pacientes idosos;
- identificar conceitos relacionados com farmacocinética e farmacodinâmica, polifarmácia, MPImedicamento potencialmente inapropriados para idosos e desprescrição;
- analisar as peculiaridades do processo do envelhecimento e sua relação com o consumo medicamentoso sob a perspectiva da prática clínica e da assistência ao paciente idoso.
- Esquema conceitual