Introdução
As alergias ou reações de hipersensibilidade são decorrentes de uma resposta imunológica exagerada, após exposição a uma determinada substância, em indivíduos suscetíveis e previamente sensibilizados. As alergias a medicamentos podem ocorrer com qualquer dose ou via de administração e não estão necessariamente relacionadas à farmacocinética ou à farmacodinâmica do medicamento. Alergias a medicamentos podem, inclusive, estar associadas à composição dos seus excipientes, tais como corantes, espessantes ou conservantes.1,2
É possível identificar as alergias previamente conhecidas do paciente durante a anamnese ou entrevista de conciliação de medicamentos, de modo a prevenir reações de hipersensibilidade.1,2
Uma reação adversa é qualquer resposta prejudicial, indesejável, inesperada e não intencional decorrente do uso de um medicamento nas doses normalmente utilizadas no ser humano para profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças ou para modificação de funções fisiológicas.2,3
As reações adversas a medicamentos (RAM) diferenciam-se dos efeitos colaterais, uma vez que estes são previstos pelos mecanismos de ação dos fármacos.2,3
Pacientes em unidades de terapia intensiva (UTI) são particularmente vulneráveis ao risco de reações de hipersensibilidade e RAM, bem como aos efeitos colaterais dos fármacos. Portanto, é importante que os profissionais que atuam nessas unidades saibam discernir os sinais e sintomas relacionados aos potenciais efeitos negativos decorrentes do uso de medicamentos e como prestar assistência aos pacientes quando da ocorrência de algum dano.4
Uma revisão sistemática publicada em 2017 revelou que a prevalência de RAM em UTI chega a cerca de 34%, sendo mais de 60% consideradas previsíveis e evitáveis. As classes farmacológicas mais frequentemente relacionadas são:4
- antimicrobianos;
- ani-hipertensivos;
- anticoagulantes;
- analgésicos;
- sedativos.
Um dos estudos incluídos na revisão indicou 25,5% de óbitos por RAM.4
As RAM são um importante problema de saúde pública que pode levar à mortalidade, à internação hospitalar e ao aumento do tempo de internação e dos custos em saúde.5
As RAM são consideradas inevitáveis na maioria das vezes, e prevenir ou minimizar o dano decorrente delas é um desafio para a equipe multiprofissional. Pesquisas farmacogenômicas têm buscado identificar biomarcadores genéticos e medicamentos que mais se associem ao risco de RAM em pacientes críticos; no entanto, ainda não existem resultados concretos que auxiliem a identificar previamente a possibilidade de ocorrência desses eventos.5
Atualmente, a forma mais eficiente de monitorar RAM potenciais é por meio dos resultados de estudos de farmacovigilância (estudos clínicos de fase 4 ou pós-comercialização), seja por vigilância ativa, seja por vigilância passiva. Tais resultados devem ser encaminhados ao sistema oficial de vigilância sanitária, que, no Brasil, é o Vigimed, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As informações obtidas por esses sistemas podem provocar alterações nas bulas dos medicamentos e até contribuir para que determinadas substâncias sejam retiradas do mercado, caso os riscos não compensem os benefícios do uso, além de gerar alertas importantes associados à monografia dos medicamentos nas principais bases de informações científicas.1,2
LEMBRAR
Uma das importantes tarefas do farmacêutico clínico na UTI é contribuir para a prevenção de danos relacionados aos medicamentos, inclusive aqueles advindos das RAM, oferecendo suporte à equipe multiprofissional com as informações necessárias ao cuidado dos pacientes.3
Neste capítulo, são abordadas as diferenças, as classificações, os conceitos básicos, a assistência e as principais repercussões clínicas relacionados às reações de hipersensibilidade e às RAM em UTI.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as reações de hipersensibilidade e as RAM;
- reconhecer os meios de prevenir ou minimizar as reações de hipersensibilidade e as RAM;
- identificar as síndromes potencialmente fatais relacionadas a RAM na UTI;
- reconhecer a importância do monitoramento das reações de hipersensibilidade e das RAM por meio da farmacovigilância no Brasil e no mundo.