Introdução
A administração de oxigênio (O2) suplementar é uma das terapias mais utilizadas em unidades de terapia intensiva (UTI). Seu uso se baseia na reversão ou prevenção da hipoxemia, a fim de manter um transporte de O2 (DO2) adequado aos tecidos para a respiração celular aeróbia com geração de trifosfato de adenosina (ATP) com vistas à manutenção do metabolismo celular.1–3
A molécula de O2 foi descrita pela primeira vez a partir dos experimentos de Joseph Priestley, Carl Wilhelm Scheele e Antoine Laurent Lavoisier na década de 1770. O O2 foi reconhecido inicialmente como um elemento químico caracterizado por seu papel na combustão e na corrosão. Atualmente, sabe-se que esse é o segundo elemento químico mais comum da atmosfera terrestre. Lavoisier também foi o primeiro a determinar experimentalmente sua concentração no ar ambiente, de aproximadamente 21%.4
Em 1886, George Emanuel Holtzapple fez o primeiro relato do uso de O2 como terapia, para o tratamento de um caso de pneumonia.5 Desde então, a oxigenoterapia se tornou um dos pilares do tratamento da insuficiência respiratória aguda, tendo em vista que a hipoxemia é o principal fator que pode levar ao óbito nessa condição. A oxigenoterapia é uma das terapias mais utilizadas no ambiente hospitalar.1,6,7
Pelo receio das consequências da hipoxemia e pelo fato de o O2 estar facilmente disponível no ambiente hospitalar, há uma tendência ao uso liberal da oxigenoterapia, com menor atenção às consequências da hiperoxemia. Além de representar um gasto inadequado para o sistema de saúde, isso pode levar diretamente a lesão pulmonar, geração de espécies reativas de O2 (ERO) e outras condições adversas.3,4–9
É comum que profissionais de saúde considerem a oxigenoterapia isenta de risco e de uso seguro mesmo na ausência de hipoxemia.4,10,11 Porém, diversos estudos têm mostrado uma associação entre hiperoxemia e piores de desfechos em várias condições clínicas, incluindo aumento de mortalidade.4,10–17
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir oxigenoterapia;
- distinguir os sistemas de oxigenoterapia;
- comparar as vantagens e desvantagens dos sistemas de oxigenoterapia;
- descrever o processo da respiração;
- reconhecer as consequências da hipoxia e da hipoxemia;
- discutir as consequências da hiperoxemia e da toxicidade do O2;
- identificar as indicações e metas da oxigenoterapia.