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SEGUIMENTO DO RECÉM-NASCIDO DE ALTO RISCO

Halina Cidrini Ferreira

Rosana Silva dos Santos

epub-BR-PROFISIO-PED-C12V4_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • identificar o significado de seguimento (follow-up) para recém-nascidos (RNs) de alto risco;
  • reconhecer as bases anatomofisiológicas para a indicação do seguimento em RNs de alto risco;
  • apontar os instrumentos mais indicados no seguimento de RNs de alto risco;
  • indicar um modelo de protocolo para serviço de seguimento (fisioterapia).

Esquema conceitual

Introdução

Durante as últimas décadas, com os avanços técnico-científicos cada vez maiores, mais RNs de risco têm a chance de sobreviver. Entretanto, esse crescimento trouxe consigo muitas sequelas de diferentes naturezas com as quais as famílias precisaram entrar em contato e conviver. Por isso, é claro que o sucesso de um tratamento intensivo no início da vida não pode ser determinado apenas pela sobrevivência e pela alta hospitalar, mas também pelo reforço dos vínculos hospitalares e pela construção de vínculos que garantirão a continuidade dos cuidados e/ou terapias após a alta.1

Define-se RN de risco como aquele que apresenta maior chance de um desfecho desfavorável do que o da média da morbidade e da mortalidade da mesma população.2

Os critérios para classificação de risco definidos pelo Ministério da Saúde incluem pelo menos um dos seguintes casos:2–4

 

  • baixo peso ao nascer (menos de 2.500g);
  • menos de 37 semanas de idade gestacional (IG);
  • asfixia grave (Índice de Apgar inferior a 7 no 5º minuto de vida);
  • presença de alterações na ultrassonografia transfontanelar (USTF);
  • aleitamento misto após a alta hospitalar;
  • maior tempo de internação após o nascimento;
  • idade materna inferior a 18 anos;
  • maternidade solo;
  • mãe com menos de 8 anos de estudo;
  • estresse materno durante a gestação;
  • assistência pré-natal ausente ou inadequada;
  • residência em área de risco;
  • óbito de crianças menores de 5 anos na família.

Dentre as causas citadas para possíveis riscos e consequências desfavoráveis, como atraso e desenvolvimento de anormalidades na primeira infância, destaca-se o nascimento prematuro, correspondendo a 11% dos partos mundiais, aproximadamente 15 milhões de bebês anualmente.5

Em 2013, o parto prematuro assumiu o ranking de principal causa de óbitos infantis no período neonatal,6 e as complicações secundárias ao nascimento prematuro configuram atualmente a segunda maior causa de morte de crianças menores de 5 anos.7,8 Esse panorama vem sendo relacionado a um maior número de gestações gemelares consequentes ao aprimoramento das técnicas reprodutivas, assim como a mudanças no comportamento social que levam as mulheres a planejarem suas gestações para idades mais avançadas.9

Outro conceito necessário no campo da conceituação de risco são as condições ambientais adversas (ou epigenética adversa) que algumas famílias enfrentam, dificultando, muitas vezes, a adesão das famílias a tudo de que o bebê precisará depois da saída do hospital.10

Fatores epigenéticos, como educação dos pais, condição social, hábitos culturais, cuidados ineficazes na gestação ou no parto, estresse contínuo e longas jornadas de trabalho, somam-se a outras dificuldades, aumentando o risco de um nascimento em condições desfavoráveis e acarretando um desfecho incerto ao desenvolvimento da criança.11,12

Diante do exposto, impõe-se a necessidade da realização do seguimento de prematuros e/ou demais RNs de risco, já que pode minimizar riscos, orientar e empoderar as famílias.10

O seguimento é considerado a melhor estratégia para acompanhar o desenvolvimento dos RNs de alto risco.13 O seguimento consiste em avaliações longitudinais sistematizadas com equipes multi ou interdisciplinares a fim de identificar e prevenir atrasos, anormalidades transitórias ou permanentes.14,15 Além disso, articula e instrumentaliza a equipe para que as ações de intervenção ocorram o mais precocemente possível.14

A equipe recomendada no Brasil para composição dos ambulatórios de seguimento inclui pediatras, neonatologistas, neuropediatras, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. Cada categoria profissional realiza suas ações de expertise própria, contribuindo para uma abordagem ampla e integrada.14

O seguimento dos bebês vai além das aquisições do desenvolvimento infantil esperadas para cada idade. É preciso ampliar o olhar e atentar para a qualidade do vínculo pais–bebê e para a ocorrência da estruturação objetiva e subjetiva, reconhecendo riscos, sinais, tipos de abordagens e tratamentos que podem estar implicados em ter uma criança que precisa de cuidados especiais após o nascimento e, por vezes, durante toda a vida.16

Para que o profissional possa acompanhar o desenvolvimento infantil de forma adequada, é preciso compreender a origem e a evolução dos movimentos, com suas características e nuances ao longo do crescimento. Por isso, serão mencionadas aqui as principais informações necessárias para embasar e justificar a necessidade do seguimento dos bebês de risco de forma mais precoce possível, de preferência, ainda dentro das unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais, dos berçários e das unidades de cuidados intermediários.