Introdução
Atualmente, a prematuridade se configura como um problema de saúde pública mundial. Em 2014, no mundo, ocorreram 14,84 milhões de nascimentos prematuros (antes de se completarem as 37 semanas de gestação); ainda, entre o total de nascidos com baixo peso (BPbaixo peso), 80% são pré-termo (PT).1
Os recém-nascidos pré-termo (RNPTrecém-nascido pré-termos) com BPbaixo peso compõem a maior proporção de RNrecém-nascidos hospitalizados em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINunidade de terapia intensiva neonatals). Isso requer investimentos em alta tecnologia e profissionais especializados para propiciar sobrevida a tais pacientes e reduzir as morbidades advindas da prematuridade, bem como as intercorrências após a alta hospitalar, principalmente nos primeiros anos de vida. Quanto menor a idade gestacional (IGidade gestacional), maior o risco de o RNrecém-nascido apresentar sequelas.2
Todo RNrecém-nascido exposto a situações em que há maior chance de evolução desfavorável é considerado de risco. As condições podem estar presentes ao nascimento (BPbaixo peso ao nascimento [BPN], prematuridade, mãe adolescente e/ou com baixa instrução) ou se desenvolver ao longo das primeiras semanas de vida (desnutrição e internações recorrentes).3 Além dos cuidados da equipe de saúde da atenção primária à saúde (APSatenção primária à saúde), esses RNrecém-nascidos demandam, na maioria das vezes, atendimento especializado e acompanhamento em ambulatório para pacientes de alto risco.4
Nas últimas décadas, com os avanços da ciência e da tecnologia, com o aprimoramento do conhecimento dos profissionais e a consequente melhoria dos cuidados neonatais, a sobrevida dos RNrecém-nascidos cada vez mais prematuros aumentou, principalmente daqueles de maior risco, como os RNPTrecém-nascido pré-termos de muito BPbaixo peso (MBPmuito baixo peso) ao nascer (PNpeso ao nascimento inferior a 1.500g), aqueles com IGidade gestacional entre 28 e 32 semanas e os RNPTrecém-nascido pré-termos extremo (RNPTErecém-nascido pré-termo extremo) — IGidade gestacional inferior a 28 semanas.4
Apesar da maior sobrevida desses RNrecém-nascidos, o componente neonatal precoce está cada vez mais presente nas taxas de mortalidade na infância. No Brasil, desde 2000, tem sido observado que mais de 50% dos óbitos infantis ocorreram na primeira semana de vida; desses casos, mais de 57% correspondiam a RNPTrecém-nascido pré-termos.4
Os RNPTrecém-nascido pré-termos têm maior risco de apresentar crescimento e desenvolvimento inadequados, o que os expõem à maior utilização dos serviços de saúde em curto e longo prazo, assim como a reinternações hospitalares durante os primeiros anos de vida.5 Considerando a incidência de morbidades decorrentes da prematuridade extrema, é fundamental a organização de um serviço estruturado para o atendimento desse grupo.5,6
O seguimento do RNrecém-nascido de risco — que é uma continuidade do cuidado neonatal — inicia-se durante a internação na UTINunidade de terapia intensiva neonatal e deve ter como objetivo prover e estimular a monitoração do crescimento e do desenvolvimento, bem como a vigilância das morbidades tão comuns nessa população. O acompanhamento deve ser realizado por equipe interdisciplinar apta a realizar o atendimento, capaz de identificar e intervir precocemente nos problemas que surgirem durante os atendimentos no ambulatório de seguimento.6,7
Este capítulo apresenta a estrutura de um serviço de seguimento de RNrecém-nascidos de risco, especificamente de RNPTrecém-nascido pré-termos. Serão abordadas considerações pertinentes à equipe interdisciplinar, que conta com a atuação do enfermeiro, conforme as principais demandas de atenção à saúde desse grupo de pacientes.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as complicações mais comuns do RNPTrecém-nascido pré-termo de risco após a alta da UTINunidade de terapia intensiva neonatal;
- elencar as particularidades e os riscos associados ao desenvolvimento do RNPTrecém-nascido pré-termo;
- discutir aspectos relacionados ao crescimento do RNPTrecém-nascido pré-termo após a alta hospitalar e às possíveis causas de falhas nesse processo;
- reconhecer a importância do seguimento interdisciplinar do RNPTrecém-nascido pré-termo;
- distinguir as funções e os cuidados de cada membro da equipe que atua em ambulatório de seguimento de RNrecém-nascido de risco;
- descrever a atuação do enfermeiro no ambulatório de seguimento do RNPTrecém-nascido pré-termo.