- Introdução
Em geral, as crianças apresentam maior amplitude de movimento (ADMamplitude de movimento) articular do que os adultos, sendo que as meninas, independentemente da idade, apresentam maior lassidão articular ou hipermobilidade articular (HMAhipermobilidade articular). Entretanto, essa lassidão articular fisiológica diminui logo no final da infância ou no início da adolescência e, mais lentamente, ao longo da vida adulta.1 Esse declínio da mobilidade relacionado à idade tem sido atribuído às progressivas mudanças bioquímicas na estrutura do colágeno que resultam em rigidez dos tecidos conectivos que compõem a articulação.2
A HMAhipermobilidade articular na infância é uma vantagem na seleção de indivíduos para atividades que requerem amplo grau de flexibilidade e maior ADMamplitude de movimento, como na dança e na ginástica de elite, e para atividades de músicos, como violinistas e pianistas.3,4 No entanto, a HMAhipermobilidade articular pode se tornar sintomática, sendo diagnosticada como síndrome da hipermobilidade articular (SHMAsíndrome da hipermobilidade articular), uma vez descartados quaisquer indícios de doenças reumáticas, neurológicas ou metabólicas nas crianças.2
Os sintomas podem levar a limitações nas atividades e participações sociais. Os pacientes relatam:
- artralgia;
- luxações/subluxações;
- fadiga; e
- diminuição da força muscular e do condicionamento físico.
“Eu tenho somente 19 anos de idade, mas, se tivessem me dito, aos 16, eu não teria tantas dores como eu tenho [...] se tivessem me ensinado mais sobre a patologia e como tratá-la, certamente ela não estaria tão ruim como agora.” (FG3, sexo feminino, 19 anos).5
As crianças são mais ativas do que os adultos, e as atividades dinâmicas são importantes no desenvolvimento das suas habilidades motoras fundamentais, além de fazerem parte da sua vida social. Assim, as alterações na estrutura e na função do corpo na SHMAsíndrome da hipermobilidade articular, inicialmente, limitam as crianças e os adolescentes e, depois, os adultos, quanto às atividades e à participação social.6
Os adultos com a SHMAsíndrome da hipermobilidade articular podem ter recorrentes episódios de lesões em tecidos moles, associados a:4
- dor localizada ou generalizada;
- depressão; e
- prematura osteoartrite (OAosteoartrite) de joelho.
O diagnóstico e a intervenção precoce são peças fundamentais para minimizar os danos da SHMAsíndrome da hipermobilidade articular ao sistema musculoesquelético.
A HMAhipermobilidade articular na infância e na adolescência é recorrente na prática clínica do fisioterapeuta pediátrico, mas as pesquisas sobre esse tema são limitadas, o que prejudica a habilidade do profissional em avaliar, traçar o diagnóstico cinético-funcional e efetuar uma terapêutica adequada.
O tratamento envolve uma equipe multi e interdisciplinar. Nesse contexto, os serviços de fisioterapia precisam reconhecer a natureza crônica da SHMAsíndrome da hipermobilidade articular, objetivando a melhora dos sintomas e sua prevenção no longo prazo. Além disso, educar os profissionais envolvidos, os familiares e os pacientes é de suma importância para otimizar a intervenção fisioterapêutica.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- definir HMAhipermobilidade articular e SHMAsíndrome da hipermobilidade articular e explicar suas diferenças;
- reconhecer o quadro clínico e o prognóstico do paciente, estabelecendo critérios para a identificação da HMAhipermobilidade articular e da SHMAsíndrome da hipermobilidade articular;
- estabelecer um raciocínio clínico, com habilidades para avaliar um paciente com HMAhipermobilidade articular e/ou SHMAsíndrome da hipermobilidade articular;
- reconhecer os tratamentos disponíveis e aplicá-los corretamente;
- revisar a literatura acerca da prevenção e do tratamento dos sintomas da SHMAsíndrome da hipermobilidade articular.
- Esquema conceitual
