Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as manifestações que compõem a síndrome de Charles Bonnet e caracterizá-las, permitindo o diagnóstico diferencial com outras condições causadoras de alucinações e síndromes demenciais;
- descrever aspectos básicos da fisiologia da visão que permitem o reconhecimento de condições médicas causadoras de alterações visuais;
- elencar as informações essenciais a serem pesquisadas durante o exame clínico de um paciente com queixa de alucinações visuais, para raciocínio e correto diagnóstico da síndrome de Charles Bonnet;
- reconhecer a complexidade diagnóstica da síndrome de Charles Bonnet e de seus impactos na dimensão biopsicossocial da saúde do paciente idoso para uma abordagem essencialmente não farmacológica, em detrimento do pouco avanço de opções medicamentosas eficazes.
Esquema conceitual
Introdução
A síndrome de Charles Bonnet é um daqueles desafios em Medicina Geriátrica. No momento em que a discussão sobre etarismo já alcança o público leigo, os médicos devem evitar raciocínios clínicos superficiais nas pessoas idosas.
O encontro de sintomas neurocomportamentais não pode, de modo simplista, levar ao diagnóstico de comprometimento cognitivo, embora seja bastante comum nessa faixa etária. Trata-se, na verdade, de uma condição em que indivíduos cognitivamente normais, mas com deficiência visual, experimentam alucinações visuais simples ou até mesmo complexas.
A patogênese exata ainda é pouco conhecida, aceitando a desaferentação como um possível mecanismo causal. O conhecimento e a conscientização sobre essa condição entre os médicos ainda são muito baixos.
Este capítulo propõe ao leitor não só o conhecimento da síndrome, mas a devida caracterização dos sintomas, passando por uma breve revisão da fisiologia da visão. É importante também reconhecer seu caráter benigno e o fato de ser um importante diagnóstico diferencial de síndromes demenciais.
O diagnóstico correto possui grande impacto na qualidade de vida dos pacientes que sofrem com o temor e o estigma de doenças psiquiátricas devido a falhas em terapias instituídas e com a possibilidade de declínio cognitivo iminente. Como será visto, uma das formas mais corretas de abordagem consiste no esclarecimento sobre a síndrome, tão ou mais importante do que a correção do déficit visual.