- Introdução
O transtorno bipolar (TBtranstorno bipolar) é uma enfermidade descrita há milênios e firmada nos anos 1850 tal como é conhecida atualmente. No final do século XIX, Emil Kraepelin separou as grandes psicoses em “dementia praecox” (referindo-se ao grupo das esquizofrenias) e “insanidade maníaco-depressiva”.1 Ele foi o primeiro a descrever o que seria chamado de “espectro bipolar” nos dias de hoje, incluindo no conceito formas graves, leves e “predisposições temperamentais”, além das depressões recorrentes. Para Kraepelin, a principal característica era o curso recorrente das alterações de humor, de cognição e comportamentais, de prognóstico melhor do que a esquizofrenia. Coube a Dunner e Fieve, nos anos 1970, a divisão do TBtranstorno bipolar nos subtipos I e II.1
O diagnóstico de psicose maníaco-depressiva foi substituído pelo de TBtranstorno bipolar na década de 1980 nos EUA e, assim, incluído na 3ª Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (DSM-III) da American Psychological Association (APAAmerican Psychological Association). Mas, somente em 1993 foi incluído na 10ª Edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-1010ª Edição da Classificação Internacional de Doenças) da Organização Mundial da Saúde (OMS). O diagnóstico de TBtranstorno bipolar tipo II (TBtranstorno bipolar II), entretanto, só foi oficializado em 1994, na 4ª Edição do DSM (DSM-IV4ª Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais).
O transtorno bipolar tipo I (TBtranstorno bipolar I) se caracteriza pela presença de, pelo menos, um episódio de mania no decorrer da vida. O TBtranstorno bipolar II cursa, no máximo, com hipomania, a forma branda da mania. Os critérios diagnósticos operacionais distinguem mania (TBtranstorno bipolar I) de hipomania (TBtranstorno bipolar II) com base na presença de sintomas psicóticos, hospitalização e gravidade. A hipomania é determinada por consequências “significativas” devidas aos sintomas maníacos, portanto, subjetivamente avaliada. Para preencher os critérios rígidos do DSM-5, é impossível não apresentá-las.
De fato, a literatura é mais pobre no que tange ao TBtranstorno bipolar II, e a maior parte do conhecimento científico provém de amostras mistas de ambos os subtipos do TBtranstorno bipolar. Soma-se a isso maior demora na identificação do TBtranstorno bipolar II.
Um recente estudo de coorte de TBtranstorno bipolar II determinou o início da sintomatologia afetiva por volta dos 17 anos de idade, a procura de tratamento por volta dos 22 anos e o diagnóstico de TBtranstorno bipolar II aos 37 anos, 20 anos depois do início do quadro clínico.2 A ciclotimia tem sido ainda menos investigada, apesar de ser considerada a forma mais prevalente do TBtranstorno bipolar, com início na infância ou na adolescência.3
As comorbidades, o diagnóstico diferencial e o curso divergem, bem como a indicação de uso de antidepressivos (ADantidepressivos). As formas subsindrômicas do TBtranstorno bipolar causam maior impacto psicossocial do que o transtorno depressivo maior (TDMtranstorno depressivo maior).
Os diagnósticos de TBtranstorno bipolar I e TBtranstorno bipolar II são de fundamental importância, principalmente em pacientes com depressões recorrentes e de difícil tratamento, nas quais a demora no diagnóstico eleva a morbidade e mortalidade do TBtranstorno bipolar, implicando no retardo ao início do tratamento com estabilizadores do humor (EHestabilizador do humors) e/ou antipsicóticos atípicos (APAAmerican Psychological Association .
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
- descrever os principais dados epidemiológicos e etiológicos dos subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- identificar o quadro clínico dos subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- reconhecer as comorbidades psiquiátricas e não psiquiátricas que cursam com os subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- estabelecer o diagnóstico diferencial em relação aos subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- analisar a evolução e curso dos subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- indicar o tratamento dos subtipos I e II do TBtranstorno bipolar;
- classificar o “TBtranstorno bipolar e relacionados” do DSM-5 descrevendo os critérios diagnósticos operacionalizados.
- Esquema conceitual