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TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM

Autores: Ana Maria Maaz Acosta Alvarez , Maura Lígia Sanchez, Elena Zaidan
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  • Introdução

Há uma crença, quase generalizada, de que crianças que começam mal a vida escolar continuam sempre com baixo aproveitamento acadêmico, o que, no futuro, prejudicaria o seu sucesso profissional. Uma boa observação dos pais e dos educadores ao lado de avaliações profissionais que tragam subsídios para um diagnóstico diferencial que possibilite intervenções eficazes são os melhores aliados para que essa crença seja desmentida.

De 5 a 15% de crianças em idade escolar de diferentes culturas e idiomas e, aproximadamente, 4 entre 100 adultos apresentam um quadro de distúrbio de aprendizagem classificado como transtorno específico da aprendizagem (TAtranstorno específico da aprendizagem) no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-5Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição).1

O TAtranstorno específico da aprendizagem é um transtorno desenvolvimental de origem biológica, que frequentemente ocorre em famílias e que se traduz por um conjunto de sinais e sintomas que provocam uma série de alterações nos processos de aprendizado, impactando negativamente a aquisição, o desenvolvimento e o uso eficiente da leitura, da expressão escrita e da matemática. Consequentemente, a aquisição de conhecimento nessa população fica prejudicada, e seu desempenho, substancialmente abaixo do esperado para a idade cronológica.

Suspeita-se da presença de TAtranstorno específico da aprendizagem quando o indivíduo apresenta dificuldades persistentes para assimilar e armazenar o conteúdo acadêmico, tendo funcionamento intelectual dentro do esperado para a idade, ausência de alterações sensoriais ou motoras e nível sociocultural compatível com o conteúdo a ser aprendido. Para o seu diagnóstico, dados do histórico clínico e desenvolvimental do indivíduo e da família devem ser analisados conjuntamente aos relatórios escolares e de avaliações multidisciplinares.

Para o diagnóstico de TAtranstorno específico da aprendizagem, pelo menos um dos seguintes sintomas deve estar presente por mais de seis meses:

 

  • leitura lenta e imprecisa que demanda esforço desproporcional à dificuldade do conteúdo proposto;
  • dificuldade na compreensão leitora;
  • substituição, adição, omissão e organização serial de consoantes e vogais na expressão escrita;
  • elaboração escrita prejudicada por desorganização sequencial entre parágrafos, uso inadequado da pontuação ou falta de clareza para expressar ideias;
  • inaptidão para gerenciar estimativas de quantidade, senso numérico e cálculo;
  • dificuldades no raciocínio e na aplicação de conceitos matemáticos.

Para efeito de classificação e codificação, os principais sintomas do TAtranstorno específico da aprendizagem foram reunidos em três domínios principais: transtorno da leitura, transtorno da matemática e transtorno da expressão escrita.

Ao se identificar o TAtranstorno específico da aprendizagem, os domínios afetados devem ser descritos e caracterizados. Por exemplo, um indivíduo que apresente TAtranstorno específico da aprendizagem caracterizado por alteração de leitura, comumente denominada dislexia, e da matemática, comumente denominada discalculia, receberá duas classificações no DSM-5Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição1 e na Classificação Internacional de Doenças (CID 10)2: 315.00 (F81.0) e 315.1 (F81.2).

O TAtranstorno específico da aprendizagem torna-se aparente desde os primeiros anos de escolaridade, e sinais sutis, quando intencionalmente investigados ou triados, podem ser identificados antes dos 5 anos de vida, como a prática clínica tem mostrado. Observa-se, então, a ocorrência frequente de dificuldades para:

 

  • treinar o uso do banheiro;
  • compreender situações de causa e efeito;
  • aprender a partir de consequências;
  • regular as manifestações emocionais;
  • aceitar mudanças na rotina;
  • colocar habilidades de autopreservação em uso;
  • obedecer a regras e instruções;
  • adquirir e nomear conceitos próprios para a idade, como nomear cores a partir dos 3 anos de idade, figuras geométricas a partir dos 3 anos e 6 meses, nomear números e letras a partir dos 5 anos;
  • conter a impulsividade;
  • organizar-se;
  • flexibilizar o pensamento.

LEMBRAR

Sinais sutis de TAtranstorno específico da aprendizagem podem ser identificados antes dos 5 anos de vida.

Esses pontos já haviam sido descritos no passado por autores que empregavam novos protocolos de exame neurológico, cuja abrangência se estendia à aplicação de triagens comportamentais e de consciência fonológica. Os resultados permitiam a identificação precoce de crianças em risco de apresentar TAtranstorno específico da aprendizagem e norteavam estratégias diferenciais de aprendizado, o que provou ser um auxílio valioso, pois alguns indivíduos com TAtranstorno específico da aprendizagem só começam a apresentar evidências claras de suas dificuldades quando a demanda acadêmica excede suas capacidades, como, por exemplo, em avaliações cronometradas, ou diante do aumento da exigência linguística no conteúdo programático.

Quanto à severidade, o TAtranstorno específico da aprendizagem pode manifestar-se em três diferentes níveis:1

 

  • leve: os domínios acadêmicos afetados podem ser compensados por medidas de acomodação na escola e suporte escolar ou extracurricular;
  • moderada: o indivíduo apresenta dificuldades acentuadas em um ou dois domínios e deve receber acompanhamento escolar frequente e sistemático na escola e em casa para realizar as atividades de classe e de casa de maneira precisa e eficiente;
  • severa: o TAtranstorno específico da aprendizagem afeta vários domínios acadêmicos, e o indivíduo provavelmente deverá ter conteúdo programático desenvolvido de maneira singular em casa e na escola, uma vez que pode não ser capaz de aprender e de cumprir tarefas sem ajuda especializada.

Dificuldade de aprendizagem é diferente de TAtranstorno específico da aprendizagem. O TAtranstorno específico da aprendizagem persiste durante a vida, mas suas consequências são passíveis de compensações por meio de estratégias específicas.

Propostas simples, como nomear cores e formas, e compreender consequências facilmente verificáveis fornecem indícios valiosos de dificuldades que podem ser motivo de encaminhamento a um profissional especializado.

É necessário enfatizar que o TAtranstorno específico da aprendizagem pode ocorrer, e é comum que isso aconteça em comorbidade a outros transtornos neurodesenvolvimentais, como o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAHtranstorno de déficit de atenção/hiperatividade) e os transtornos específicos da linguagem; e mentais, como transtornos depressivos, de ansiedade e bipolar.1 Também não é incomum de se encontrar indivíduos que apresentem TAtranstorno específico da aprendizagem e, como consequência de sua baixa tolerância aos constantes insucessos, com baixa autoestima, desmotivação e até mesmo com quadros depressivos.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

 

  • identificar indivíduos em risco de apresentar TAtranstorno específico da aprendizagem e encaminhá-los para avaliações especializadas;
  • reconhecer os dados das avaliações especializadas do TAtranstorno específico da aprendizagem, entrecruzando as informações com condições clínicas do paciente pediátrico;
  • caracterizar as alterações do TAtranstorno específico da aprendizagem de acordo com o impacto negativo na vida acadêmica, social e pessoal;
  • estabelecer o desenho dos planos de intervenção e das estratégias compensatórias para a terapêutica do TAtranstorno específico da aprendizagem em pediatria;
  • orientar o indivíduo, a família e os educadores sobre o desconforto interior que o TAtranstorno específico da aprendizagem pode trazer à criança e sobre as possibilidades de alívio e de compensação que uma intervenção terapêutica bem planejada e executada pode propiciar.
  • Esquema conceitual
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