- Introdução
Tumores são doenças muito incomuns em crianças, o que é uma excelente notícia. No entanto, exatamente pela raridade dessas enfermidades, existe um limiar muito alto para a sua suspeita e detecção.
Tumores não estão entre as primeiras hipóteses aventadas para sintomas clínicos em crianças, o que com frequência determina atrasos diagnósticos, em especial frente a quadros pouco específicos ou atípicos. Como consequência, diagnósticos e tratamentos tardios são comuns, o que piora muito o prognóstico.
Adicionalmente, a dificuldade de acesso a exames sofisticados, em especial aqueles que envolvem classificação genética de tumores, testes de biologia molecular e imagens de alta qualidade compromete a aplicação precisa de terapêutica adequada a cada paciente, o que também piora os resultados finais, seja com aumento de mortalidade, seja com o surgimento de sequelas que poderiam ter sido evitadas.
A grande maioria das neoplasias malignas pediátricas é de origem hematológica (leucoses e linfomas), ou são tumores primários de sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central). Os tumores de origem hematológica não exigem envolvimento direto dos cirurgiões, exceto como auxílio diagnóstico (biópsias ganglionares, fundamentalmente) ou para a inserção de cateteres venosos centrais de longa permanência. Os tumores do SNCsistema nervoso central são tratados por neurocirurgiões.
Os cirurgiões pediátricos têm papel fundamental no tratamento dos tumores sólidos. Neste artigo serão abordados os cinco grandes grupos de tumores sólidos mais comuns e mais típicos da faixa etária pediátrica:
- nefroblastomas;
- neuroblastomas;
- tumores de células germinativas (predominantemente teratomas sacrococcígeos [TSCs], tumores ovarianos e tumores testiculares);
- rabdomiossarcomas;
- hepatoblastomas.
A maioria desses tumores predomina entre o segundo e o quarto anos de vida, à exceção dos TSCs, típicos de neonatos e lactentes jovens, e dos teratomas ovarianos, incidentes sobretudo em adolescentes. Neuroblastomas podem regredir espontaneamente ou se apresentar sob a forma de síndromes paraneoplásicas.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar os principais tumores malignos típicos das crianças e de reconhecer sua expressão clínica;
- orientar os responsáveis por crianças portadoras de tumores sólidos quanto à suspeita diagnóstica, terapêutica e prognóstico prováveis para a situação encontrada;
- reconhecer as principais apresentações clínicas de malignidades sólidas em crianças, de forma a ter suspeita diagnóstica da doença em tempo hábil e encaminhar os pacientes a especialistas, sem prejuízo do tratamento por atraso de suspeita diagnóstica.
- Esquema conceitual