Introdução
O crescimento epidêmico e exponencial da população mundial classificada como com sobrepeso e obesa chega a números alarmantes.1 Ainda que alguns países demonstrem discreta estabilização na taxa de obesidade nos últimos anos, esse dado não é consenso na comunidade científica, uma vez que a obesidade é definida por meio do índice de massa corporal (IMC), que apresenta grandes diferenças interindividuais, no percentual de gordura corporal, relacionadas com variáveis como idade, sexo e etnia.2 No Brasil, a obesidade se elevou em todas as faixas etárias e em ambos os sexos.3
O crescimento da população obesa tem refletido em sua prevalência no ambiente hospitalar, sobretudo alcançando números de aproximadamente 20% em pacientes em unidades de terapia intensiva (UTI).4
O número crescente de pacientes obesos no ambiente hospitalar, associado a diversos fatores de risco, comorbidades e complicações inerentes à obesidade, impacta no tempo de permanência hospitalar.4 Na UTI, pacientes obesos sob suporte ventilatório geralmente apresentam tempo prolongado de ventilação mecânica (VM) e maior tempo para o desmame e a extubação.4
Quando comparados com a população em geral, pacientes obesos apresentam maior mortalidade, geralmente, associada a diversas doenças que os acometem.5 No entanto, um fato curioso que tem sido descrito por alguns pesquisadores foi recentemente denominado de paradoxo da obesidade.4,6,7
O paradoxo da obesidade é definido como o fenômeno da associação inversa entre a obesidade e a mortalidade, sendo a obesidade, nesses casos, um fator protetor determinante em pacientes críticos na UTI.4,6,7
Dessa forma, o grande desafio para os profissionais de saúde que atuam em UTI com o paciente obeso é considerar as especificidades fisiopatológicas cardiopulmonares e sistêmicas, otimizar o manejo das vias aéreas, o gerenciamento da ventilação mecânica não invasiva (VMNI) ou invasiva (VMI), acelerar o processo de desmame e extubação e reduzir o tempo de permanência intra-hospitalar.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir e classificar a obesidade;
- identificar alterações sistêmicas no paciente obeso;
- detectar as indicações básicas de VMNI e de alto fluxo no obeso;
- indicar a VMI, a seleção do modo e os ajustes ventilatórios;
- calcular o comportamento da mecânica pulmonar;
- identificar a melhor estratégia ventilatória em situações específicas;
- reconhecer a melhor tomada de decisão para o desmame e a extubação.