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A CLÍNICA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista

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Introdução

A Análise Existencial (Daseinsanalyse) nomeia uma abordagem psicoterápica iniciada nos anos 1930 e desenvolvida na segunda metade do século XX. O termo em alemão faz referência à noção de Dasein, cuja tradução mais corrente é ser-aí, termo reservado pelo filósofo Martin Heidegger (1889–1976) para se referir à essência humana da existência, isto é, o que a diferencia dos animais e das coisas. Por esse motivo, a tradução de Daseinsanalyse costuma ser “Análise Existencial”.

A essência da psicoterapia daseinsanalítica pode ser indicada por três princípios, que serão discutidos ao longo deste capítulo:

 

  • utilização do método fenomenológico de investigação;
  • o terapeuta e o paciente são existências;
  • o foco do processo é o encontro (relação terapêutica).

Esses três princípios são encontrados em outras abordagens psicológicas que se fundamentam nas filosofias fenomenológicas e existenciais de Edmund Husserl (1859–1938) e Martin Heidegger, e dos que as levaram adiante, como Edith Stein (1891–1942), Jean-Paul Sartre (1905–1980), Maurice Merleau-Ponty (1908–1961), Martin Buber (1878–1965). Entre as outras abordagens mencionadas, vale destacar a Gestalt-Terapia, a Logoterapia, o Psicodrama, a Psicanálise Existencial Sartriana, a terapia existencial-humanista de Rollo May, a Análise Existencial de Alfried Längle (Figura 1). Por isso, todas podem ser consideradas fenomenológico-existenciais.1

Figura 1 — Psicoterapias existenciais.

Fonte: Giovanetti (2012);1 Evangelista (2015).2

O presente texto toma como eixo a Análise Existencial (Daseinsanalyse) stricto sensu, isto é, a desenvolvida por Ludwig Binswanger (1881–1956) e Medard Boss (1903–1990), por ser a primeira a se desenvolver tomando como fundamentação o método fenomenológico de Husserl e sua aplicação em uma descrição de existência não cindida em soma e psique realizada por Heidegger.

Na Psicologia norteamericana, a Daseinsanalyse foi apresentada em 1958, quando foi publicado o livro Existence: A new dimension in Psychiatry and Psychology, que trazia textos introdutórios às questões existenciais básicas para uma psicoterapia daseinsanalítica e traduções de alguns escritos de Binswanger. Foi imediatamente assimilada como uma abordagem psicológica da Terceira Força em Psicologia, isto é, do movimento organizado por Abraham Maslow (1908–1970) que reunia as teorias que enfatizavam a liberdade e a responsabilidade e os aspectos criativos humanos contra o que consideravam determinismos das abordagens comportamentais e psicanalíticas.3

Contudo, essa incorporação acabou obscurecendo uma das especificidades da Analítica Existencial, que é o diálogo com a psicanálise freudiana, não tanto para negá-la, mas para complementá-la com fundamentos filosóficos e antropológicos; mais especificamente, com o método fenomenológico e uma concepção de existência essencialmente livre. Ou seja, do ponto de vista da prática clínica, a Análise Existencial acompanha as propostas da psicanálise freudiana. As diferenças aparecem no que tange o entendimento dos fenômenos clínicos.3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • discutir a respeito da história da Análise Existencial e seus principais autores;
  • aprofundar-se nos fundamentos filosóficos, antropológicos e psicológicos da Análise Existencial;
  • reconhecer os objetivos da psicoterapia da Análise Existencial;
  • aproximar-se do manejo clínico na psicoterapia;
  • compreender os fenômenos clínicos no contexto teórico da Análise Existencial.

Esquema conceitual

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