Introdução
As áreas de enfermagem obstétrica e neonatológica lidam com o início da vida e a ampliação da família, muitas vezes não planejada, e que precisará de apoio para dar conta das novas responsabilidades e tarefas.
O conceito mais usual de família consiste em um grupo de pessoas que se relacionam e convivem por questões de consanguinidade, adoção ou casamento, representado por pais, filhos, irmãos, tios e avós. No entanto, essa formação tradicional de família não atende às demandas da sociedade moderna, e é preciso ampliar esse conceito para cuidar da família.
Neste capítulo, adota-se a definição de família proposta pelas pesquisadoras Wright e Leahey,1 “Família é o que a pessoa diz que é”. Esse conceito pauta-se nos laços afetivos, significados e vínculos construídos entre as pessoas. Dessa maneira, pode-se dizer que família é quem a pessoa escolheu para ser seu familiar,1–3 e é nessa perspectiva que se acredita que os profissionais de saúde devem se pautar para se aproximar e cuidar das famílias nos ambientes das instituições de saúde.
O período que engloba gestação, parto e puerpério é uma fase muito delicada na vida da mulher, pois envolve, além de mudanças físicas e biológicas no seu corpo, alterações emocionais e uma mistura de sentimentos que podem ser de anseios, dúvidas e medo. Mas, diante das questões biológicas, o cuidado é comumente focado no binômio mãe–recém-nascido (RN) e, muitas vezes, não se inclui a família nesse processo.4
O nascimento de uma criança representa um período de transição e muitas mudanças para a família. A chegada de um novo membro pode impactar toda a dinâmica familiar, principalmente quando ocorre a necessidade de internação do RN, quer seja em unidade de tratamento intensivo neonatal (UTIN), em unidade de cuidados intermediários neonatal convencional (UCINCo) ou mesmo após a transferência para a unidade de cuidados intermediários neonatal canguru (UCINCa) — nomenclatura oficial padronizada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), conforme a Portaria nº 930/2012.5
Esse é um momento de intenso estresse e vulnerabilidade da família, no qual permeiam sentimentos de angústia, medo e insegurança pelo futuro. Nesse contexto, o acolhimento e o cuidado da equipe de enfermagem com a família são essenciais para que eles possam enfrentar esse período de dificuldades e conflitos, além de colaborar na construção da parentalidade e na prevenção de possíveis traumas pós-hospitalização.3,6
Diante desse cenário, é importante que a equipe de enfermagem esteja preparada para acolher a família em todo o período perinatológico, desde a gestação até os 7 dias de vida da criança e durante e após o período neonatal. Esse acolhimento independe da internação de mãe e filho em alojamento conjunto ou na necessidade de uma UTIN. Em todos esses ambientes de cuidado, a família necessita de apoio, orientação e cuidado.
Este capítulo tem como objetivo abordar a temática do modelo de Cuidado Centrado no Paciente e na Família (CCPF) no contexto obstétrico e neonatal, como uma forma de promover o melhor cuidado da família inserida nos diferentes contextos de atendimento à saúde, permitindo que sejam protagonistas nos cuidados de seus membros internados.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever os pressupostos do CCPF;
- discutir sobre as barreiras para a adoção do CCPF e propor ações de melhorias;
- instituir um plano de cuidados à puérpera, ao RN e à família, utilizando a estrutura da sistematização de assistência de enfermagem (SAE) e os pressupostos do CCPF.