Introdução
A doença do coronavírus 2019 (em inglês, coronavirus disease 2019 [COVID-19]), provocada pelo vírus causador da síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (em inglês, severe ascute respiratory syndrome coronavirus 2 [SARS-CoV-2]), é uma emergência de saúde pública de importância internacional, que causou uma crise na saúde mundialmente. O seu espectro clínico pode variar de sintomas leves a síndromes respiratórias agudas graves, com taxa de letalidade que varia conforme os países, a depender de fatores como:1
- idade;
- estado de saúde da população;
- medidas de controle adotadas;
- acesso ao tratamento necessário.
Até o mês de novembro de 2020, o vírus causador da SARS-CoV-2 havia infectado mais de 55 milhões de pessoas e causado a morte de mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo, entretanto, esses números atualmente são maiores.
Alguns grupos populacionais são considerados mais vulneráveis à infecção, definidos com base na experiência prévia com outras síndromes respiratórias, como a síndrome respiratória aguda grave (em inglês, severe acute respiratory syndrome [SARS]) e a síndrome do Oriente Médio (em inglês, Middle East respiratory syndrome [MERS]), causadas por outros subtipos de coronavírus, SARS-CoV e MERS-CoV, respectivamente, como também pelo conhecimento atual do comportamento do SARS-CoV-2 em populações específicas.2
Dentre os grupos de risco, destacam-se2
- idosos;
- pessoas convivendo com doenças crônicas e imunossuprimidas;
- profissionais de saúde;
- gestantes;
- recém-nascidos (RNs);
- crianças.
As mulheres grávidas são particularmente vulneráveis aos patógenos respiratórios e à pneumonia grave, fator associado ao aumento da morbidade infecciosa e a altas taxas de mortalidade materna.3 Isso acontece em decorrência das alterações fisiológicas adaptativas da gestação, predispondo as grávidas às formas mais graves da doença. O número de mortes maternas decorrente da COVID-19 tem gerado alerta sanitário para a gravidade da situação no Brasil, que lidera o número de óbitos mundialmente.4
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), juntamente com a Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou um alerta epidemiológico sobre o número de casos confirmados em gestantes e de óbitos maternos nos países da América. Segundo os dados, o Brasil apresentou o segundo maior número de casos confirmados em gestantes (2.256 casos) na América do Sul e o primeiro em número de óbitos (135 casos) do mundo.5
Na maioria das situações, as gestantes se apresentam assintomáticas ou com sinais e sintomas gerais similares aos de gripes comuns causadas pelo vírus influenza, mas a OMS afirma que as gestantes têm maior probabilidade de1
- serem hospitalizadas;
- demandarem admissão em unidade de terapia intensiva (UTI);
- receberem ventilação mecânica (VM).
Além disso, até o presente momento, observaram-se complicações, como:6
- número maior de partos prematuros associados à interrupção por comprometimento materno e/ou fetal;
- desaceleração fetal durante o trabalho de parto;
- crescimento intrauterino restrito (CIUR);
- necessidade maior de suporte ventilatório às gestantes e às puérperas;
- risco maior de tromboembolismo no puerpério;
- taxas de óbitos elevadas no Brasil tanto em gestantes quanto em puérperas.
Nesse contexto, a COVID-19 demandou dos serviços de saúde e das sociedades científicas respostas e intervenções rápidas para o seu manejo, o que só é viável mediante o conhecimento sobre suas causas, evolução, prevenção e tratamento. As publicações científicas existentes respondem a alguns questionamentos; no entanto, em relação aos desfechos maternos e neonatais e ao real impacto da COVID-19 durante a gestação, o nascimento e o puerpério,7 as informações ainda necessitam ser ampliadas e mais bem elucidadas por meio de estudos de maior qualidade e com o decorrer da pandemia.
Diante do exposto, faz-se necessário compreender o contexto da pandemia de COVID-19 e conhecer as melhores evidências e recomendações disponíveis para que os serviços possam conduzir e prestar cuidados seguros e de qualidade às gestantes e aos RNs. Para tanto, faz-se imprescindível que a enfermagem esteja atualizada sobre a temática, a fim de subsidiar ações mais assertivas da prática diária durante a pandemia, com o intuito de evitar que a infecção atinja muitos indivíduos em reduzido período, promover a saúde, evitar e reduzir a morbidade e a mortalidade materna e neonatal.
Além do mais, as instituições e os profissionais de saúde devem garantir a prestação do melhor cuidado assistencial possível e assegurar, mesmo no contexto da pandemia, a experiência positiva de parto e nascimento para as mulheres e suas famílias, bem como o cuidado baseado em evidência.
Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- discutir o contexto da pandemia da COVID-2019 relacionado à saúde da mulher e do RN, especialmente no cenário da assistência ao parto e ao nascimento;
- atualizar-se quanto às principais recomendações a serem seguidas nos serviços de atenção ao parto e ao nascimento, no contexto da pandemia;
- identificar os principais cuidados, baseados nas recomendações atuais, a serem realizados na assistência ao parto e ao nascimento nas situações envolvendo gestantes com suspeita ou confirmação da COVID-19.