Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- citar o papel do médico de família e comunidade na atenção integral a problemas gastrintestinais crônicos em crianças e adolescentes;
- explicar os problemas gastrintestinais crônicos em crianças e adolescentes que são prevalentes na Atenção Primária à Saúde (APS);
- descrever o diagnóstico diferencial entre problemas gastrintestinais funcionais e orgânicos;
- estabelecer projeto terapêutico para problemas gastrintestinais crônicos em crianças e adolescentes prevalentes na APS;
- listar as competências necessárias para coordenar o cuidado na abordagem a problemas gastrintestinais da criança e do adolescente na APS.
Esquema conceitual
![](https://api.plataforma.grupoa.education/v1/portalsecad/articles/13567/links/Images/EC_Gastro.png)
Introdução
As queixas do aparelho digestivo são prevalentes na infância e na adolescência, tendo grande parte delas carácter inespecífico, principalmente na prática da medicina de família e comunidade (MFC), pois o cuidado nessa área é direcionado a problemas diversos, que se apresentam de maneira inicial ou pouco diferenciada, dificultando o processo de definição diagnóstica. Essas queixas podem ser tanto devido a infecções agudas quanto crônicas. Além disso, em crianças menores, os sintomas são relatados pelo familiar e sofrem influência da percepção do observador.
Tais aspectos podem tornar a abordagem de problemas gastrintestinais em crianças e adolescentes desafiadora. Ressalta-se que, para melhor interpretação desses sinais e sintomas, é fundamental uma história clínica detalhada, contextualizada no tempo, descrevendo fatores de melhora e de piora, identificando sinais de alarme, bem como antecedentes pessoais, familiares e diário alimentar detalhado.1
Além disso, comorbidades psicológicas são comuns em problemas gastrintestinais crônicos em crianças e adolescentes.1 Experiências persistentes de dor e de medo ou suspeita de doença grave podem ter um efeito adverso na saúde mental da criança e dos pais.1,2 Assim, informações sobre fatores biopsicossociais que podem desencadear ou reforçar a dor, independente da etiologia, são úteis na formulação de um plano de manejo.1
A abordagem centrada na criança/adolescente, entendendo a pessoa como um todo — o indivíduo, a família e o contexto — e fortalecendo a relação médico-paciente-família, é fundamental para a elaboração do plano conjunto de manejo do(s) problema(s). A maioria das crianças e adolescentes com queixas gastrintestinais pode ser tratada no ambiente de cuidados primários. O encaminhamento pode ser necessário para pacientes que não melhoram com intervenções de cuidados primários ou que precisem de intervenções diagnósticas ou terapêuticas no âmbito da atenção secundária ou terciária.