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ABORDAGEM AO RECÉM-NASCIDO COM TROMBOCITOPENIA PRECOCE

Regina Paula Guimarães Vieira Cavalcante da Silva

Paulyne Stadler Venzon

epub-BR-PRORN-C19V2_Artigo3

Objetivos

  • revisar aspectos da megacariopoese e da função plaquetária no período fetal e neonatal;
  • compreender a discussão sobre os valores de referência para contagem de plaquetas em recém-nascidos (RNs);
  • reconhecer os aspectos epidemiológicos da trombocitopenia neonatal precoce;
  • revisar os conceitos relacionados à fisiopatologia da trombocitopenia neonatal precoce;
  • identificar a etiologia e os aspectos clínicos da trombocitopenia neonatal precoce;
  • reconhecer os conceitos relacionados à abordagem diagnóstica e ao manejo terapêutico da trombocitopenia neonatal precoce;
  • identificar os riscos da transfusão de plaquetas em RNs;
  • reconhecer as implicações para pesquisas futuras e perspectivas para o manejo de RNs trombocitopênicos.

Esquema conceitual

INTRODUÇÃO

A trombocitopenia é tradicionalmente definida como a contagem de plaquetas inferior a 150.000/mm3. Em RNs, é classificada como precoce — quando se manifesta ao nascimento ou nas primeiras 72 horas de vida ou tardia — quando ocorre após esse período.1

Trata-se de uma das alterações hematológicas mais comumente encontradas no período neonatal e afeta especialmente os RNs de extremo baixo peso e/ou pequenos para a idade gestacional (IG).2,3

Em RNs, a etiologia da trombocitopenia é variável e pode estar relacionada a aumento do consumo de plaquetas, à diminuição da produção de plaquetas ou à combinação de ambos os mecanismos. A forma precoce frequentemente está associada à insuficiência placentária, com restrição de crescimento intrauterino (RCIU), a infecções ou a reações imunes, enquanto as causas mais frequentes de trombocitopenia tardia são a sepse e a enterocolite necrosante (ECN).1

Quanto à gravidade, as trombocitopenias são classificadas como leves (contagem de plaquetas entre 100.000 e 149.000/mm3), moderadas (contagem de plaquetas entre 50.000 e 99.000/mm3) e graves (contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mm3).2 Entretanto, essa classificação não parece estar fortemente correlacionada ao risco individual de sangramento no RN, uma vez que outros aspectos, como estado dos fatores de coagulação plasmáticos, grau de prematuridade, entre outros, influenciam significativamente a ocorrência de distúrbios hemorrágicos.2,4

No período neonatal, observa-se que, na maior parte dos casos, a trombocitopenia é leve e não requer qualquer intervenção. Por outro lado, em casos classificados como graves ou em RNs clinicamente instáveis, é frequente a transfusão profilática de plaquetas com o objetivo de prevenir sangramentos, particularmente a hemorragia peri-intraventricular (HPIV) — causa importante de óbito e dano cerebral em RNs prematuros. Com isso, estima-se que cerca de 15% desses RNs e até 25% dos nascidos com muito baixo peso recebam transfusões de plaquetas durante sua internação na unidade neonatal.3

Entretanto, apesar de frequente, tal prática não se apoia em evidências científicas claras e, até o momento, não há consenso sobre as indicações e os valores limiares de contagem de plaquetas para transfusões em RNs.5 Os benefícios da utilização de limiares altos (mais liberais) de contagens de plaquetas para indicar transfusões têm sido questionados nesses pacientes, uma vez que os estudos não têm demonstrado redução da incidência de hemorragias e da mortalidade.5–7 Ao mesmo tempo, relatos de aumento de mortalidade e morbidade e da ocorrência de outros possíveis efeitos adversos em RNs expostos a múltiplas transfusões de plaquetas têm motivado estudos que buscam esclarecer a segurança da transfusão profilática de plaquetas na população neonatal.3,8

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