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ABORDAGEM DA DESIDRATAÇÃO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA EM PACIENTES ADULTOS E PEDIÁTRICOS

Adriana Elisa Carcereri de Oliveira

Everton Bazanella Ferla

Estefani da Silva Braga

epub-BR-PROENF-URG-C11V3_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • identificar sinais e sintomas de desidratação em pacientes adultos e pediátricos;
  • classificar os tipos de desidratação por meio do quadro de acometimento do indivíduo;
  • selecionar as medidas terapêuticas de acordo com as particularidades de cada paciente com distúrbios hidreletrolíticos;
  • aplicar a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) ao paciente com distúrbios hidreletrolíticos;
  • estabelecer medidas de prevenção e promoção dos cuidados ao paciente com distúrbios hidreletrolíticos.

Esquema conceitual

Introdução

O equilíbrio no conteúdo de água corporal é essencial para a manutenção do equilíbrio hidreletrolítico e da homeostase. Em indivíduos normais, o ganho hídrico é semelhante à perda hídrica. A desidratação se caracteriza pela redução de água corporal total e ocorre em situações patológicas, em que a perda de água supera o ganho.1

No Quadro 1, apresentam-se os principais mecanismos e causas de desidratação.

QUADRO 1

PRINCIPAIS MECANISMOS E CAUSAS DE DESIDRATAÇÃO

Perdas cutâneas

Febre, sudorese excessiva, queimaduras.

Perdas gastrintestinais

Vômitos, diarreia.

Perdas respiratórias

Hiperventilação.

Perdas urinárias

Uso de diuréticos, diabetes insípido.

Perdas por desvio de líquidos

Choques distributivos (anafilático e séptico), cirrose, pancreatite, complicações em pós-operatório de cirurgia abdominal.

Hipodipsia

Idosos restritos ao leito, distúrbios psiquiátricos.

// Fonte: Elaborado pelos autores.

O ganho hídrico varia com a idade, o nível de atividade física e a temperatura ambiental, e ocorre por meio de ingestão de água na forma de líquidos ou alimentos. Em adultos, a quantidade de água corporal é de 60% e, para manter a hidratação adequada, é necessária uma ingesta hídrica de 30mL/kg/dia.1

Em lactentes, o percentual de água no peso corporal corresponde de 75 a 80%; geralmente, indica-se:2

  • para crianças com peso corporal menor que 10kg, 100mL/kg/dia (aproximadamente, 4mL/kg/h);
  • para crianças com peso corporal entre 11 e 20kg, 1.000mL + 50mL/kg (para cada quilograma acima de 10kg) por dia;
  • para crianças com mais de 20kg, 1.500mL + 20mL/kg (para cada quilograma acima de 20kg) por dia.

A desidratação é uma condição clínica comum, que ocorre quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, levando a desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos. Ela pode ser especialmente preocupante em pacientes idosos e pediátricos quando se apresenta em um cenário de urgência ou emergência em saúde.

Neste capítulo, os principais aspectos relacionados à desidratação em pacientes de diferentes faixas etárias serão expostos, considerando-se avaliação clínica, tratamento e medidas de suporte necessárias para garantir a recuperação adequada e a prevenção de complicações graves da desidratação.

É fundamental reconhecer os sinais e sintomas da desidratação, diagnosticá-la precocemente e implementar intervenções terapêuticas adequadas para otimizar os resultados clínicos e garantir o bem-estar dos pacientes. Nesse contexto, a abordagem da desidratação na urgência e emergência desempenha papel crucial na prática da enfermagem, exigindo entendimento abrangente dos melhores manejos e protocolos para garantir um atendimento eficaz e seguro.

Composição dos fluidos corporais

O volume líquido no corpo humano constitui, do peso corporal total, aproximadamente, 75 a 80% em crianças e 60% em adultos. Os fluidos estão presentes em todas as células, tecidos, órgãos e sistemas do corpo. Atualmente, duas formas de distribuição desse líquido no corpo humano são conhecidas: o líquido extracelular (LEC) e o líquido intracelular (LIC). Ambos serão detalhados a seguir.1,2

Extracelular significa “fora da célula”, de forma que todo e qualquer líquido encontrado em outras cavidades corporais constitui, coletivamente, o LEC, e representa cerca de um terço da água corporal total.1,2

Os líquidos corporais dissipam-se entre várias cavidades e meios e recebem diversas terminologias, dependendo de onde estejam localizados e de sua composição, como, por exemplo o líquido intravascular, encontrado dentro dos vasos sanguíneos, que é o componente primário do sangue e exerce fundamental papel no transporte de nutrientes e outras substâncias por todo o organismo, compondo quase um quarto do LEC, isto é, aproximadamente, 3 litros.1,2

O plasma é o elemento não celular do sangue e faz contínuas trocas de diversos elementos com o líquido intersticial, que corresponde a cerca de três quartos do LEC, ou seja, em torno de 11 litros. O plasma encontra-se fora dos vasos sanguíneos, banhando as células e mantendo-as estáveis. Desse modo, os fluidos extracelulares estão mantendo contínuas interações e têm praticamente a mesma composição, com exceção das proteínas, em grande quantidade no plasma.1

Além do líquido intravascular e do plasma, podem ser citados o líquido cefalorraquidiano (LCR), que realiza proteção mecânica para o encéfalo e a medula espinhal contra choques e pressão, e muitos outros, como o líquido sinovial e o líquido pleural. Juntos, tais líquidos compõem, mais ou menos, 20% do peso corporal, o que significa 14 litros em um homem adulto com 70kg.1,2

O termo LIC é autoexplicativo. Esse líquido existe internamente nas cem trilhões de células, compondo dois terços da água corporal e sendo importante componente do citoplasma celular.1,2 De tal forma, o LIC representa, sensivelmente, cerca de 40% do peso corporal total de uma pessoa.2

Cada célula tem substâncias únicas em sua composição individual, mas as concentrações de substâncias são parecidas entre todas as células. Tal regra se aplica, inclusive, às células de diferentes animais, desde microrganismos primitivos a seres humanos. Por isso, o LIC está presente em todas as diferentes células e é visto como um único e imenso compartimento de líquido.2

Diferenças entre os líquidos extracelular e intracelular

O LEC tem significativa quantidade de sódio (Na), cloreto e íons, bicarbonato (HCO3) e nutrientes para as células, como oxigênio (O2), glicose, ácidos graxos e aminoácidos. Tem, ainda, dióxido de carbono (CO2), que é levado das células para os pulmões para ser eliminado do corpo humano, além de outras moléculas de excreção celular, que são levadas para os rins para serem eliminadas.1,2

A composição do LEC é minimamente regulada por vários sistemas, mas, principalmente, pelos rins. Esses ajustes designam que as células permaneçam continuamente banhadas por líquido que contém a concentração necessária de eletrólitos e nutrientes para a atividade celular perfeita.1,2

O LIC é extremamente diferente, em composição, do LEC; por exemplo, ele tem significativas quantidades de íons potássio (K+), magnésio (Mg2+) e fosfato (PO43–), em vez dos íons Na+ e cloreto (Cl), encontrados no LEC. Essas diferentes concentrações entre LIC e LEC são mantidas por mecanismos especiais, que possibilitam o transporte de íons através das membranas celulares.1–3

A respeito do LIC, é consolidado que o líquido intersticial é mantido separado, delimitado pela membrana celular, que é capaz de ser permeável à água, porém praticamente impermeável aos íons. Levando isso em consideração, associado ao metabolismo intracelular, é possível afirmar que a composição química desses dois líquidos é consideravelmente diferente, todavia, estão em equilíbrio osmótico.1–3

A principal função do LEC é exercida imediatamente na interface entre o líquido intersticial e o LIC e consiste em prover às células os componentes essenciais ao seu funcionamento e sobrevivência, servindo-lhes ao mesmo tempo como “emultório” para seu metabolismo.3

O principal fator comportamental que auxilia na regulação hídrica do corpo é a sede, e o responsável por gerar essa sensação vital é denominado centro da sede e fica localizado no hipotálamo. O centro consegue captar quando as taxas de eletrólitos estão começando a ficar em uma concentração maior ao seu redor e, a seguir, executa um comando para o indivíduo, criando o desejo intenso de beber água.1–3

O hipotálamo pode, também, regular a água corporal, pelo controle de excreção da água na urina, o qual é realizado, especialmente, no núcleo supraóptico e opera semelhantemente ao centro da sede; quando a concentração de eletrólitos nos líquidos corporais é alterada nessa área, os neurônios são estimulados.4

As fibras dos neurônios se salientam para baixo, pelo infundíbulo do hipotálamo, em direção à hipófise posterior, na qual as terminações nervosas são estimuladas a secretar o hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina. Logo, o ADH é conduzido para os rins, onde atua nos ductos coletores visando ao aumento da reabsorção de água.4

A necessidade de água identificada pela sede em conjunto com o ADH contribui para a manutenção da regulação hídrica e osmolaridade do corpo humano.4

Vias de perda dos líquidos

As vias pelas quais líquidos são eliminados do organismo são várias: através da urina (perda renal), pele (perda cutânea), pulmões (perda respiratória), fezes e vômitos (perda gastrintestinal), lágrimas e leite materno, sendo, entre essas, a urina a via mais comum de perda de água corporal.5

Os rins filtram, aproximadamente, 180 litros de sangue cotidianamente. Depois de filtrados, os produtos da excreção (ureia, excesso de sais minerais e substâncias) são eliminados pela urina. Apesar de os rins filtrarem 180 litros de sangue, apenas 1,8 litro de urina é produzido por dia.5

A excreção de água pelos rins é rigidamente controlada pela vasopressina, também conhecida como ADH da hipófise posterior. A secreção de ADH é regulada pela osmolaridade plasmática. O aumento da osmolaridade promove a secreção de ADH, o que leva ao aumento da reabsorção de água pelos túbulos renais (menos urina é formada).1–5

Por outro lado, a diminuição da osmolaridade inibe a secreção de ADH, resultando em diminuição da reabsorção de água pelos túbulos renais (aumento do débito urinário). A osmolaridade plasmática depende, em grande parte, da concentração de Na, que, indiretamente, controla a quantidade de água no corpo.1–5

Sobre a perda pelo trato gastrintestinal, a maior parte da água que entra no trato digestivo é reabsorvida no intestino. A perda de água nas fezes em condições normais do sistema é bastante pequena, cerca de 100mL/dia e 20mEq/L de Na+ em adultos saudáveis; em crianças saudáveis, a perda diária corresponde a 10mEq/L de Na+; em caso de diarreia, a perda de água e eletrólitos aumenta consideravelmente, dependendo da intensidade e do tipo de diarreia.6

A perda de água pela pele é um mecanismo termorregulador e, em geral, é de cerca de 500mL por dia, entretanto, pode ser aumentada com exercícios físicos em locais com alta temperatura ou em caso de queimaduras. Além disso, atividade física e calor são dois fatores que contribuem para a diminuição da produção de urina. Estima-se que, para cada aumento de 1ºC na temperatura corporal, a perda de água pela pele aumenta, aproximadamente, 15%.1–4

Durante a respiração, aproximadamente 400mL de água são perdidos pelo ar expirado por dia. A taxa de ventilação e a umidade relativa do ar circundante são responsáveis pela perda de água pela respiração.1–4

A perda de água pela transpiração (através da pele) e pela respiração (pelos pulmões) é referida coletivamente como perda insensível.1–4

Sinais e sintomas clínicos de perda de líquidos

A princípio, os sinais mais comuns de perda de líquidos são sede e boca seca, porém apenas a sede não é parâmetro para medir a necessidade de água no corpo. A sede exagerada deve estar atrelada a outros sintomas, como boca e pele seca, diminuição da elasticidade da pele, olhos fundos, cansaço excessivo, fraqueza, tontura, cefaleia, oligúria, hipotensão, taquicardia. Em crianças, além dos sintomas apresentados, deve-se ficar atento a choro sem lágrima, irritabilidade ou letargia, e, em bebês, a fontanela afundada pode ser um forte fator indicativo.7,8

Em geral, os sinais físicos de desidratação têm pouca especificidade, devendo-se estar atento à instalação de sintomas neurológicos e de hipovolemia, os quais sinalizam a gravidade do quadro e exigem pronta correção. De acordo com a gravidade da desidratação, é possível classificá-la em leve, moderada e grave conforme são observados os sintomas apresentados.8,9

Na desidratação leve (menos de 5% de perda de peso), pode-se observar sinais como sede, diminuição da sudorese, redução na micção, falta de elasticidade da pele e sensação de boca seca (xerostomia). As crianças, além desses sinais, podem apresentar choro sem lágrimas e menos interação.8,9

A desidratação moderada é classificada por perda de peso entre 6 e 9%, os sintomas são basicamente os mesmos observados na desidratação leve, entretanto, com intensidade mais elevada e com propensão a agravamento do caso. Em crianças, é possível notar mais sonolência, apatia, hipoatividade, saliva muito espessa, temperatura do corpo mais elevada e vômitos.8,9

A desidratação grave é caracterizada por perda de peso maior que 10%, na qual pode-se observar sensação de sede extrema, hipotensão, sensação de desmaio ou desmaio em si ao se levantar (hipotensão ortostática), olhos encovados, extremidades frias, taquicardia, xeroftalmia e anuria, o que também se aplica a crianças, e piora dos sintomas da desidratação moderada.8,9

Em casos mais graves de desidratação, pode-se notar irritabilidade, letargia e confusão mental, pois as células cerebrais são bastante suscetíveis a níveis altos de desidratação, portanto tem-se os problemas cognitivos como grande indicativo no diagnóstico da desidratação grave. Por conseguinte, caso não haja melhora no episódio, é possível que o prognóstico seja desfavorável, levando ao coma e, posteriormente, ao óbito.8,9

ATIVIDADES

1. Sobre desidratação, assinale a alternativa correta.

A) É uma condição clínica comum, que ocorre quando o corpo perde muito líquido pelo suor, levando a desequilíbrio nos níveis de água.

B) Pode ser notadamente preocupante em idosos e crianças quando se apresenta no contexto de urgência ou emergência em saúde.

C) É uma condição clínica rara, que acontece quando o corpo perde mais líquidos do que é capaz de repor, o que causa desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos.

D) É especialmente preocupante em pacientes atletas e pediátricos quando se apresenta no cenário de urgência ou emergência em saúde.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


A desidratação é uma condição comum, que se dá quando o corpo perde mais líquidos do que é capaz de repor, o que resulta em desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos; ela pode ser sobretudo preocupante em idosos e crianças na urgência ou emergência em saúde.

Resposta correta.


A desidratação é uma condição comum, que se dá quando o corpo perde mais líquidos do que é capaz de repor, o que resulta em desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos; ela pode ser sobretudo preocupante em idosos e crianças na urgência ou emergência em saúde.

A alternativa correta é a "B".


A desidratação é uma condição comum, que se dá quando o corpo perde mais líquidos do que é capaz de repor, o que resulta em desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos; ela pode ser sobretudo preocupante em idosos e crianças na urgência ou emergência em saúde.

2. Sobre os fluidos corporais, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).

É possível encontrar LEC fora das células.

O LIC é inteiramente igual quando se refere às substâncias que o compõem.

Plasma sanguíneo é considerado LIC.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V — V — F

B) F — V — V

C) V — F — F

D) F — F — V

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


A terceira afirmativa é falsa porque plasma é o elemento não celular do sangue e realiza constantes trocas, de vários elementos, com o líquido intersticial, que corresponde a aproximadamente três quartos do LEC, e fica fora dos vasos sanguíneos, irrigando as células e mantendo-as estáveis.

Resposta correta.


A terceira afirmativa é falsa porque plasma é o elemento não celular do sangue e realiza constantes trocas, de vários elementos, com o líquido intersticial, que corresponde a aproximadamente três quartos do LEC, e fica fora dos vasos sanguíneos, irrigando as células e mantendo-as estáveis.

A alternativa correta é a "A".


A terceira afirmativa é falsa porque plasma é o elemento não celular do sangue e realiza constantes trocas, de vários elementos, com o líquido intersticial, que corresponde a aproximadamente três quartos do LEC, e fica fora dos vasos sanguíneos, irrigando as células e mantendo-as estáveis.

Tipos de desidratação

Desidratação isotônica

A desidratação isotônica é considerada o tipo mais frequente entre todas; ela também pode ser denominada isonatrêmica e é caracterizada por taxas de Na sérico entre 130 e 150mEq/L. Ela ocorre quando a perda de água é equivalente à depleção de Na, havendo apenas diminuição proporcional na concentração do LEC sem gradiente osmótico entre os compartimentos, ou seja, não ocorre desvio de água do LIC para o LEC, já que a osmolaridade deles se mantém igual.7

Entre alguns fatores que causam desidratação isotônica, podem-se citar hemorragias, vômito e diarreia. Como resultado da diminuição do LEC, pode-se afirmar que essa desidratação é a que mais resulta em choque hipovolêmico.7

Desidratação hipertônica

A desidratação hipertônica, ou hipernatrêmica, como também pode ser chamada, é caracterizada por Na sérico maior que 150mEq/L. Nela, ocorre perda de fluido hipotônico, que corresponde à perda tanto de Na quanto de água, porém a depleção hídrica se mostra superior. Portanto, há gradiente osmótico, em que a maior tonicidade do LEC leva à desidratação celular, com diversos sintomas secundários.1,7

Na desidratação hipertônica, como consequência do aumento da osmolalidade do LEC, há migração da água do LIC na tentativa de igualar a osmolalidade entre eles, o que resulta em perda de volume intracelular.1,7

Podem-se citar como agentes causadores de desidratação hipertônica ingestão insuficiente de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de medicamentos diuréticos. É comum que seja diagnosticada em pacientes portadores de diabetes melito (DM).1,7

Desidratação hipotônica

A desidratação hipotônica também pode ser designada como hiponatremia e seu caracterizante é Na sérico menor que 130mEq/L. Nela, ocorre perda de fluido hipertônico, o que significa que há, sim, perda de Na e água, porém a depleção do Na se mostra mais elevada em relação à depleção hídrica.1,7

A hipotonicidade do LEC origina um gradiente osmótico, com consequente movimentação da água do espaço extracelular para o intracelular que resulta em agravamento do déficit extracelular; logo, os sintomas da desidratação hipotônica são acentuados.1,7

Em outros termos, na desidratação hipotônica, na tentativa de igualar a osmolaridade dos dois compartimentos, a água começa a migrar do LEC para o LIC, o que gera perda de volemia mais intensa.1,6 Alguns fatores que podem desencadear desidratação hipotônica são alterações gastrintestinais e renais, malnutrição e uso de diuréticos sem reposição adequada de Na.6

Excluindo as causas infecciosas e metabólicas, a desidratação é um fenômeno mais comum em crianças e idosos.6

A anamnese e o exame físico podem sinalizar a etiologia e a gravidade do quadro. Devem-se avaliar quantidade e tipos de fluidos ingeridos nas últimas horas (hiper ou hipotônico), débito urinário e características da urina (se concentrada ou diluída), e se hematúria está presente, assim como diarreia, êmese ou febre. Devem-se registrar, ainda:6

  • presença de comorbidades;
  • uso recente de antibióticos;
  • história de perda de peso;
  • tipo de dieta;
  • presença de restrições alimentares;
  • viagens recentes;
  • possibilidade de intoxicação alimentar;
  • contato com pessoas doentes;
  • internação hospitalar;
  • residência em asilos ou instituições de saúde.

No Quadro 2, resumem-se os tipos de desidratação e as respectivas causas.

QUADRO 2

TIPOS DE DESIDRATAÇÃO E PRINCIPAIS CAUSAS

Tipo de desidratação

Isotônica

Hipertônica

Hipotônica

Perda de H2O e eletrólitos

Perda de H2O > eletrólitos

Perda de H2O < eletrólitos

Causas

  • Uso de diuréticos
  • Vômitos
  • Hemorragias
  • Diminuição do aporte de líquidos
  • Hiperventilação
  • Febre alta
  • Diarreia aquosa
  • Cetoacidose diabética
  • Diabetes insípido
  • Jejum prolongado
  • Administração de fluidos hipertônicos
  • Excesso de HCO3
  • Dieta enteral sem água

Calor excessivo

Características

  • Na+ entre 135–145mEq/L
  • Osmolaridade sérica entre 275– 290mOsm/L
  • Redução de LEC, sem modificação do equilíbrio osmótico
  • Não altera LIC
  • Na+ > 145mEq/L;
  • Osmolaridade sérica > 290mOsm/L
  • Redução proporcional do LEC e LIC
  • Desidratação celular
  • Na+ < 135mEq/L;
  • osmolaridade sérica < 275mOsm/L
  • Edema celular (esse tipo de desidratação pode cursar com aumento da PIC, causando cefaleia e confusão mental)

H2O: água; Na+: íon Na; HCO3: bicarbonato; LEC: líquido extracelular; LIC: líquido intracelular; PIC: pressão intracraniana. // Fonte: Adaptado de Brasil (2021).7

ATIVIDADES

3. Sobre o principal motivo da desidratação infantil, assinale a alternativa correta.

A) Falta de higiene.

B) Consumo excessivo de água durante atividades físicas.

C) Exposição prolongada ao sol.

D) Perda excessiva de líquidos e eletrólitos.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


A desidratação se dá quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, levando a desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos.

Resposta correta.


A desidratação se dá quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, levando a desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos.

A alternativa correta é a "D".


A desidratação se dá quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, levando a desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos.

4. Se um indivíduo não ingerir água suficientemente, sobre qual tipo de desidratação ele poderá desenvolver, assinale a alternativa correta.

A) Isotônica.

B) Hipertônica.

C) Hipotensa.

D) Hipertensa.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "B".


As causas de desidratação hipertônica são ingestão insuficiente de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de medicamentos diuréticos.

Resposta correta.


As causas de desidratação hipertônica são ingestão insuficiente de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de medicamentos diuréticos.

A alternativa correta é a "B".


As causas de desidratação hipertônica são ingestão insuficiente de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de medicamentos diuréticos.

Exames complementares de urgência na avaliação de desidratação grave

A desidratação grave é uma condição clínica que requer intervenção imediata, uma vez que pode levar a complicações potencialmente fatais. A avaliação inicial dos pacientes deve incluir análise de dados clínicos, sinais vitais (SSVV) e exames complementares para guiar o tratamento adequado. Os exames complementares de urgência mais relevantes utilizados na avaliação de pacientes com desidratação grave serão discutidos na sequência.3

Exames laboratoriais

Hemograma completo

O hemograma completo é um exame complementar que pode ser útil na avaliação de um paciente com desidratação grave. Embora não seja específico para a desidratação em si, o hemograma completo fornece informações importantes sobre o estado geral de saúde do paciente, ajudando a identificar possíveis complicações relacionadas à desidratação ou outras condições subjacentes.3

Ao realizar um hemograma completo, são avaliados os componentes do sangue, incluindo:

  • contagem de glóbulos vermelhos (hemácias) — a desidratação grave pode levar à concentração aumentada de glóbulos vermelhos, o que resulta em contagem elevada;3,9
  • hemoglobina (Hb) — a concentração de Hb no sangue pode estar aumentada em decorrência da desidratação, refletindo maior concentração das células sanguíneas;3,7
  • hematócrito (Ht) — é uma medida da porcentagem de glóbulos vermelhos no sangue; em casos de desidratação grave, o Ht pode estar elevado em razão da redução do volume plasmático;3,7,10
  • contagem de glóbulos brancos (leucócitos) — o número total de glóbulos brancos no sangue pode ser afetado pela desidratação, mas esse valor pode variar dependendo de outros fatores, como infecções ou inflamações associadas;3,7,9
  • plaquetas — a desidratação grave pode causar aumento ou diminuição na contagem de plaquetas.3,9

Eletrólitos séricos

Os exames de eletrólitos séricos são, frequentemente, utilizados como exames complementares na avaliação da desidratação em adultos. Esses exames ajudam a avaliar os níveis de eletrólitos, como Na, K e Cl, no sangue, fornecendo informações valiosas sobre o equilíbrio eletrolítico do organismo.3,10,11

Na desidratação grave, os níveis de eletrólitos podem estar desequilibrados pela perda excessiva de líquidos.3,10,11

Os exames de eletrólitos séricos podem ajudar a identificar alterações específicas, como:3,10,11

  • íon Na (Na+) — a desidratação grave pode resultar em hiponatremia (baixos níveis de Na no sangue) ou hipernatremia (altos níveis de Na no sangue), dependendo das causas subjacentes e da gravidade da desidratação;
  • íon K (K+) — a perda excessiva de líquidos pode causar hipocalemia (baixos níveis de K no sangue) ou, em alguns casos, hipercalemia (altos níveis de K no sangue);
  • íon Cl — o desequilíbrio de Cl também pode ocorrer na desidratação grave, levando a níveis anormalmente baixos (hipocloremia) ou altos (hipercloremia) no sangue.

Além desses eletrólitos, outros parâmetros, como HCO3 e cálcio (Ca2+), também podem ser avaliados para fornecer uma visão mais completa do equilíbrio acidobásico e do estado eletrolítico do paciente. Esses exames de eletrólitos séricos são importantes para auxiliar no diagnóstico da desidratação, determinar sua gravidade e guiar o tratamento adequado.3,7–11

Gasometria arterial

A gasometria arterial é um exame complementar útil na avaliação de pacientes com desidratação grave. Ela fornece informações sobre o equilíbrio acidobásico e os níveis de O2 e CO2 no sangue arterial.12

Na desidratação grave, o desequilíbrio de líquidos e eletrólitos pode afetar o equilíbrio acidobásico do organismo.12

A gasometria arterial pode revelar alterações nos seguintes parâmetros:

  • pH arterial — o pH sanguíneo indica se o organismo está em estado de acidose (pH baixo) ou alcalose (pH alto); a desidratação grave pode levar à acidose metabólica em razão do acúmulo de ácidos no sangue;12
  • pressão parcial de O2 arterial (PaO2) — a desidratação grave pode afetar a oxigenação adequada dos tecidos; a queda da PaO2 indica hipoxemia, ou seja, baixos níveis de O2 no sangue arterial;12
  • pressão parcial de CO2 arterial (PaCO2) — a desidratação grave pode levar à elevação da PaCO2, indicando possível retenção de CO2 e respiração inadequada;12
  • HCO3 — o nível de HCO3 no sangue é um indicador do estado acidobásico do organismo; na desidratação grave, pode ocorrer diminuição do HCO3 sérico (HCO3 baixo), indicando acidose metabólica.3,12

Além desses parâmetros, a gasometria arterial também dá informações sobre a saturação de O2 (SatO2) e a diferença de base, que ajudam na avaliação global da função respiratória e acidobásica do organismo.3,12

Função renal

A avaliação da função renal é um componente importante na investigação da desidratação grave em adultos. A desidratação pode afetar a função renal, e, portanto, a análise dos marcadores renais ajuda a compreender o impacto da desidratação nos rins e identificar possíveis complicações associadas.11

Alguns dos exames complementares que podem ser úteis na avaliação da função renal durante a desidratação grave incluem:11

  • creatinina sérica — a creatinina é um produto de resíduos metabólicos que é filtrado pelos rins; seus níveis sanguíneos aumentam quando a função renal está comprometida; a avaliação da creatinina sérica permite monitorar a função renal e identificar a presença de disfunção renal aguda;
  • nitrogênio ureico no sangue (BUN, de blood urea nitrogen) — é um marcador que reflete a quantidade de ureia no sangue, que é um produto do metabolismo das proteínas; níveis elevados de BUN podem indicar disfunção renal, especialmente quando combinados com outros achados clínicos;
  • clearances de creatinina e ureia — esses testes são utilizados para medir a taxa de filtração glomerular (TFG) e a eficiência dos rins em excretar ureia; A avaliação da depuração de creatinina e ureia pode dar informações mais precisas sobre a função renal e a gravidade da disfunção renal associada à desidratação grave;
  • eletrólitos urinários — a análise dos eletrólitos na urina, como Na e K, pode ajudar a identificar a capacidade dos rins de reabsorvê-los e excretá-los, o que pode estar alterado na desidratação grave.

Hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e função renal são exames complementares úteis na avaliação da função renal durante a desidratação grave, permitindo a compreensão mais abrangente do estado renal e auxiliando no diagnóstico e no monitoramento da função renal comprometida.11,12

A avaliação adequada da desidratação é essencial para o tratamento eficaz da condição e para a prevenção de complicações. Os exames complementares são fundamentais para a avaliação da desidratação e para identificar suas causas, permitindo a prescrição do tratamento mais adequado.9,11,12

ATIVIDADES

5. Sobre quais são os principais exames laboratoriais utilizados na avaliação de um paciente adulto com desidratação grave, assinale a alternativa correta.

A) Hemograma completo, eletrólitos séricos e ureia e creatinina.

B) Eletrólitos séricos, gasometria arterial e fezes e urina.

C) Hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e avaliação da função renal.

D) Hemograma completo, eletrólitos séricos, ureia e creatinina e glicemia.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


Os principais exames laboratoriais utilizados na avaliação de paciente adulto com desidratação grave são hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e avaliação da função renal.

Resposta correta.


Os principais exames laboratoriais utilizados na avaliação de paciente adulto com desidratação grave são hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e avaliação da função renal.

A alternativa correta é a "C".


Os principais exames laboratoriais utilizados na avaliação de paciente adulto com desidratação grave são hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e avaliação da função renal.

6. Sobre quais são os principais eletrólitos avaliados nos exames de eletrólitos séricos em pacientes com desidratação grave, assinale a alternativa correta.

A) Na+, K+, Cl e outros parâmetros, como HCO3 e Ca2+.

B) Cl, Ca2+ e outros parâmetros, como Na+ e K+.

C) Na+, K+, HCO3 e Ca2+.

D) Cl, HCO3 e Ca2+.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Os principais eletrólitos avaliados em exames de eletrólitos séricos em pacientes gravemente desidratados são Na+, K+, Cl e outros parâmetros, como HCO3 e Ca2 +.

Resposta correta.


Os principais eletrólitos avaliados em exames de eletrólitos séricos em pacientes gravemente desidratados são Na+, K+, Cl e outros parâmetros, como HCO3 e Ca2 +.

A alternativa correta é a "A".


Os principais eletrólitos avaliados em exames de eletrólitos séricos em pacientes gravemente desidratados são Na+, K+, Cl e outros parâmetros, como HCO3 e Ca2 +.

7. Sobre por que a gasometria arterial é um exame complementar útil na avaliação de pacientes com desidratação grave, assinale a alternativa correta.

A) Porque mensura os níveis de CO2 no sangue arterial, os quais podem estar alterados pela desidratação grave.

B) Porque informa sobre o desequilíbrio acidobásico no sangue arterial, o que é causa de alteração dos níveis de O2 e CO2.

C) Porque dá informações sobre o tempo de desidratação, que, se elevado, causa desequilíbrio acidobásico.

D) Porque dá informações sobre o equilíbrio acidobásico e os níveis de O2 e CO2 no sangue arterial, que podem ser afetados pela desidratação grave.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


A gasometria arterial é útil na avaliação de pacientes gravemente desidratados porque oferece informações acerca do equilíbrio acidobásico e dos níveis de O2 e CO2 no sangue arterial, que podem ser afetados por esse tipo de desidratação.

Resposta correta.


A gasometria arterial é útil na avaliação de pacientes gravemente desidratados porque oferece informações acerca do equilíbrio acidobásico e dos níveis de O2 e CO2 no sangue arterial, que podem ser afetados por esse tipo de desidratação.

A alternativa correta é a "D".


A gasometria arterial é útil na avaliação de pacientes gravemente desidratados porque oferece informações acerca do equilíbrio acidobásico e dos níveis de O2 e CO2 no sangue arterial, que podem ser afetados por esse tipo de desidratação.

Reposição hidreletrolítica em pacientes adultos e pediátricos com desidratação

A necessidade basal de fluido e eletrólitos em um indivíduo adulto, em 24 horas, é de, aproximadamente, 30mL/kg de água, 1mEq/kg de Na, K e Cl. Em média, o indivíduo adulto ingere 2,5 litros de fluidos/dia. Desses, cerca de 1,2 litro é proveniente da ingestão de líquidos, 1 litro proveniente dos alimentos e 300mL de água endógena, do metabolismo basal. As perdas diárias são de, aproximadamente:13

  • 500mL pela respiração;
  • 100mL pelas fezes;
  • 1,4 litro pela urina em pacientes com função renal preservada.

Pacientes com hipertermia devem receber 100mL de fluido a mais por pico febril para cada 1ºC acima de 37ºC. Reposições de Mg e Ca só devem ser ofertadas para corrigir déficits estabelecidos, ou em pacientes em dieta zero há alguns dias, hepatopatas ou indivíduos com diarreia profusa.13

Caso haja sinais de hipoperfusão e hipovolemia, a reposição volêmica deve ser realizada com soluções isotônicas em bolo, ou seja, alíquotas de volume de 250 ou 500mL, em 20 a 30 minutos, até a correção da volemia.13

A criança é mais suscetível à desidratação se comparada ao adulto, em função de características como:13–15

  • grande nível metabólico, gerando necessidades hídricas basais em lactente de 150mL/kg
    • para crianças de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 100mL/kg;
    • para crianças de 11 a 20kg, o fluido necessário é de 1.000mL/kg + 50mL/kg a cada quilograma acima de 10kg;
    • para crianças com mais de 20kg, o fluido diário necessário é de 1.500mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL diários;
  • perdas mínimas obrigatórias maiores em razão de maior superfície corporal em relação ao peso e maior frequência respiratória (FR);
  • imaturidade do sistema imunológico, o que predispõe a infecções;
  • imaturidade renal, determinando dificuldade de adaptação em situações patológicas que geram perda excessiva de água, sobrecarga eletrolítica, entre outros.

A reposição hidreletrolítica desempenha papel crucial na recuperação dos pacientes com desidratação grave. Sua administração correta e individualizada é fundamental para prevenir complicações e garantir a recuperação rápida e eficaz.10,13,14

Tratamento na urgência em pacientes com desidratação

O objetivo inicial da abordagem terapêutica em adultos e crianças desidratados deve ser remover ou corrigir o fator causal da desidratação e restaurar o equilíbrio volêmico, hidreletrolítico e acidobásico. Devem-se identificar e excluir prontamente focos infecciosos, iniciar antibioticoterapia apropriada e/ou proceder com hemostasia de hemorragias quando indicado.16

Casos de desidratação leve a moderada, normalmente, respondem à terapia de reidratação oral (TRO). A RO é um método aceitável de reposição de perda hídrica e administração de líquidos de manutenção em crianças admitidas com vômito e diarreia.5,12,17

Para crianças que apresentam êmese, as soluções de RO (SRO) devem começar após 1 a 2 horas de jejum por parte da criança ou do lactente. São algumas considerações relevantes:5,12,17

  • administrar soluções apropriadas, para restabelecer a normalidade dos níveis de açúcares e eletrólitos necessários;
  • durante 4 a 6 horas, a quantidade de SRO é prescrita de acordo com o déficit de líquido, geralmente, 50mL/kg na desidratação leve e 100mL/kg na desidratação moderada; importante repor 10mL/kg ou 120 a 240mL de SRO para cada evacuação diarreica;
  • atentar para o início da TRO com menores quantidades de SRO;
  • para crianças menores de 2 anos, o ideal é 120mL; para crianças com mais de 2 anos, a quantidade é de 120 a 240mL, divididos em pequenas quantidades a cada 15 minutos;
  • se houver episódios de vômito, ofertar de 5 a 10mL até cessar o vômito e poder retornar com o esquema de TRO.

A presença de vômitos, geralmente, não consiste em contraindicação para TRO com SRO; entretanto, se há evidência de obstrução intestinal ou abdome agudo, deve-se iniciar hidratação venosa prontamente.3,5

O déficit de água estimado para crianças que estão grave ou moderadamente desidratadas varia na classificação do distúrbio de Na. A rápida recuperação do volume circulatório é crítica para lactentes e crianças gravemente desidratadas (de 10 a 15% estimativa de desidratação). O cálculo típico para reposição do déficit é:3,10–12

  • isotônico — 100 a 150mL/kg;
  • hipotônico — 50 a 100mL/kg;
  • hipertônico — 120 a 150mL/kg.

Nos momentos de desidratação grave, o desequilíbrio precisa ser corrigido corretamente. As seguintes fórmulas são usadas para recuperar o volume circulatório:

  • bolos hídricos de 20mL/kg de cristaloide (soro fisiológico [SF]) intravenoso (IV);
  • bolos hídricos de 10mL/kg de coloide (5% de albumina) IV.

O bolo hídrico deve ser dado tão rapidamente quanto possível e repetido até que se observem sinais de melhora na circulação, como pele quente, melhora do enchimento capilar e recuperação da urina eliminada. Deve-se atentar aos sinais de insuficiência renal e cardíaca enquanto se administram os bolos.

No Quadro 3, apresenta-se o esquema para tratamento de crianças menores de 5 anos com desidratação grave seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).5,18

QUADRO 3

FASE RÁPIDA (EXPANSÃO) — MENORES DE 5 ANOS

Solução

Volume

Tempo de administração

SF a 0,9%

Iniciar com 20mL/kg de peso. Repetir essa quantidade até que a criança esteja hidratada, reavaliando os sinais clínicos após cada fase de expansão administrada.

30min

Para RNs e cardiopatas graves, começar com 10mL/kg de peso.

SF: soro fisiológico; RNs: recém-nascidos. // Fonte: Adaptado de Brasil (2023).5

Na fase rápida (expansão) para menores de 5 anos, é importante avaliar o paciente continuamente.

O Quadro 4 apresenta o esquema para tratamento de crianças maiores de 5 anos com desidratação grave conforme recomendações da OMS.

QUADRO 4

FASE RÁPIDA (EXPANSÃO) — MAIORES DE 5 ANOS

Solução

Volume total

Tempo de administração

Inicialmente, SF a 0,9%

30mL/kg

30min

Depois, ringer lactato

70mL/kg

2h30min

SF: soro fisiológico. // Fonte: Adaptado de Brasil (2023).5

O Quadro 5 mostra o esquema da fase de manutenção e de reposição da hidratação para todas as faixas etárias.

QUADRO 5

FASE DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS

Solução

Volume em 24 horas

SG a 5% + SF a 0,9% na proporção de 4:1 (manutenção)

Peso até 10kg

100mL/kg

Peso 10–20kg

1.000mL + 50mL/kg de peso que exceder 10kg

Peso > 20kg

1.500mL + 20mL/kg de peso que exceder 20kg

SG a 5% + SF a 0,9% na proporção de 1:1 (reposição)

Iniciar com 50mL/kg/dia. Reavaliar essa quantidade de acordo com as perdas do paciente.

KCl a 10%

2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção.

SG: soro glicosado; SF: soro fisiológico; KCl: cloreto de K. // Fonte: Adaptado de Brasil (2023).5

Na fase de manutenção e reposição, em todas as faixas etárias, deve-se avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, é necessário aumentar a velocidade de infusão.5,18

Quando o paciente puder beber, geralmente em 2 a 3 horas após o início da reidratação venosa, deve-se iniciar a reidratação por via oral (VO) com SRO, mantendo a reidratação venosa. Deve-se interromper a reidratação por via IV somente quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações.5,18

A quantidade de SRO a ser ingerida deve ser maior nas primeiras 24 horas de tratamento.5,18

Pacientes que estiverem sendo reidratados por via IV devem permanecer na unidade de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por VO. É necessário observar o paciente por, pelo menos, 6 horas.5,18

Em adultos, a composição do fluido utilizado dependerá das características da perda e de distúrbios hidreletrolíticos subjacentes. Desse modo, soluções hipotônicas, como salina a 0,45% ou dextrose a 0,5%, devem ser reservadas para indivíduos com desidratação hipertônica.

Devem-se administrar soluções isotônicas, como salina a 0,9% e ringer lactato, para indivíduos com desidratação isotônica, e salina hipertônica nos casos de desidratação hipotônica. Pacientes desidratados euvolêmicos devem ser reidratados com solução glicofisiológica, que também será utilizada em pacientes hipoglicêmicos, alcoolizados ou com cetose de jejum.19

Os tipos de fluidos IVs utilizados mais frequentemente em desidratação grave são:19,20

  • soro glicosado (SG) a 5, 10 e 50%;
  • NaCl a 0,45, 0,9 e 3%;
  • ringer lactato.

A velocidade de infusão de fluidos depende da gravidade da desidratação, se há hipovolemia ou não e se o distúrbio de Na envolvido é agudo ou crônico.19,20

Para pacientes cuja desidratação é hipertônica e que se desenvolveu em um período de horas, a correção rápida (1mEq/L/h) de solução hipotônica melhora o prognóstico, sem risco de edema cerebral. Em pacientes com hipernatremia crônica, tratamento agressivo com soluções hipotônicas pode causar edema cerebral, o que pode levar a coma, convulsões e, até mesmo, à morte, sendo prudente, portanto, a reposição lenta.19–21

A redução da concentração de Na a uma taxa máxima de 0,5mEq/L/h previne edema cerebral. Consequentemente, a queda almejada na concentração sérica de Na não deve exceder 10mEq/L/dia.22

O mesmo princípio deve ser levado em consideração nos casos de desidratação hipotônica, no intuito de se evitar desmielinização osmótica em decorrência da rápida correção da hiponatremia crônica (maior que 2mEq/L/h ou 12mEq/L/dia); desse modo, recomenda-se uma taxa que não ultrapasse um ganho de Na sérico maior que 8mEq/L/dia.22,23

A correção parcial rápida de hiponatremia sintomática não tem sido associada a efeitos adversos; portanto, se o paciente é sintomático (com convulsões e rebaixamento do nível de consciência), está indicada a correção parcial mais rápida, de modo que se pode realizar infusão inicial de 1 a 2mEg/L/h nas primeiras 3 horas, distribuindo o restante da solução nas 21 horas subsequentes, objetivando o ganho de 8mEq/L/dia.22–24

Para determinar o volume de solução a ser infundido e estimar a variação esperada na natremia, existem várias fórmulas, como a proposta por Adrogué e Madias,24,25 descrita no Quadro 6.

QUADRO 6

FÓRMULA DE ADROGUÉ E MADIAS

Uso

Fórmula

Estimativa do efeito de 1L de solução infundida no Na+ sérico do paciente.

(Na+ em 1L da solução – Na+ sérico) água corporal total* + 1

Estimativa do efeito de 1L de solução contendo Na+ e K+ infundida no Na+ sérico do paciente.

(Na+ + K+ em 1L da solução) – Na+ sérico água corporal total* + 1

Na+: íon sódio; K+: íon K. *A água corporal total estimada (em litros) é calculada como uma fração constante do peso corporal. A constante é 0,6 em crianças; 0,6 e 0,5 em homens e mulheres jovens, respectivamente, e 0,5 e 0,45 em homens e mulheres idosos, respectivamente. // Fonte: Adaptado de Herdman e colaboradores (2021).25

As fórmulas para determinar o volume de solução a ser infundido e estimar a variação esperada na natremia são úteis no início da reposição, a qual deve ser titulada de maneira mais fidedigna por meio da dosagem seriada do Na sérico.24,25

A adição de K nas soluções de hidratação venosa está indicada para pacientes que tenham desenvolvido hipocalemia. Há situações nas quais a depleção de K se faz presente sem haver queda no K sérico, que pode estar normal ou até elevado, sendo exemplos clássicos a cetoacidose diabética e a hiperglicemia não cetótica, condições clínicas em que tanto a hiperosmolaridade quanto a deficiência de insulina promovem a saída de K das células, mascarando seu consumo.23–25

Raramente, o K sérico será baixo na ausência de um consumo real do íon, no entanto, tal achado pode estar presente em casos de tireotoxicose ou paralisia periódica familiar hipocalêmica.23–25

O K é tão osmoticamente ativo quanto o Na, de tal maneira que a adição de 40mEq de K em 1 litro de solução salina a 0,45% (77mEq/L de Na+) cria uma solução com menos água livre (correspondente a uma salina a 0,75%). Desse modo, deve-se redobrar a atenção ao infundir soluções com K em pacientes com hiperosmolaridade plasmática, como os hipernatrêmicos ou com DM descompensado.

Pacientes com hipovolemia grave e instabilidade hemodinâmica devem receber cerca de 30mL/kg de solução cristaloide nas primeiras 3 horas, objetivando queda do lactato sérico e débito urinário igual a ou maior que 0,5mL/kg/h.23–25

Nos casos de hipovolemia leve a moderada, a administração de fluidos deve apenas superar o volume de perdas (débito urinário + perdas insensíveis + outra fonte de perda, por exemplo, diarreia), o que pode ser alcançado com um balanço hídrico positivo em cerca de 50 a 100mL/h.23–25

ATIVIDADES

8. Sobre qual é a conduta necessária em casos de desidratação grave infantil, assinale a alternativa correta.

A) Buscar atendimento hospitalar imediato e administrar líquidos IVs.

B) Aumentar a ingestão de alimentos sólidos.

C) Aplicar compressas de gelo no corpo da criança.

D) Utilizar medicamentos adequados que estiverem disponíveis, independentemente de prescrição médica.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


Procurar um hospital em casos de desidratação infantil grave é vital e de suma importância para garantir uma avaliação e tratamento adequados, prevenir complicações graves e garantir uma recuperação completa e rápida da criança.

Resposta correta.


Procurar um hospital em casos de desidratação infantil grave é vital e de suma importância para garantir uma avaliação e tratamento adequados, prevenir complicações graves e garantir uma recuperação completa e rápida da criança.

A alternativa correta é a "A".


Procurar um hospital em casos de desidratação infantil grave é vital e de suma importância para garantir uma avaliação e tratamento adequados, prevenir complicações graves e garantir uma recuperação completa e rápida da criança.

9. Sobre a melhor forma de prevenir desidratação na criança, assinale a alternativa correta.

A) Oferecer líquidos regularmente e em quantidade adequada.

B) Restringir o consumo de líquidos, para evitar que ela urine com frequência.

C) Aumentar a ingestão de alimentos salgados.

D) Reduzir a quantidade de líquidos oferecidos durante as atividades físicas.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "A".


A melhor forma de prevenir desidratação em crianças é oferecer líquidos de forma regular e em quantidade adequada, lembrando que a criança é mais suscetível à desidratação se comparada ao adulto, por fatores como grande nível metabólico, perdas mínimas obrigatórias maiores decorrentes de maior superfície corporal em relação ao peso e maior FR, imaturidade do sistema imunológico e imaturidade renal.

Resposta correta.


A melhor forma de prevenir desidratação em crianças é oferecer líquidos de forma regular e em quantidade adequada, lembrando que a criança é mais suscetível à desidratação se comparada ao adulto, por fatores como grande nível metabólico, perdas mínimas obrigatórias maiores decorrentes de maior superfície corporal em relação ao peso e maior FR, imaturidade do sistema imunológico e imaturidade renal.

A alternativa correta é a "A".


A melhor forma de prevenir desidratação em crianças é oferecer líquidos de forma regular e em quantidade adequada, lembrando que a criança é mais suscetível à desidratação se comparada ao adulto, por fatores como grande nível metabólico, perdas mínimas obrigatórias maiores decorrentes de maior superfície corporal em relação ao peso e maior FR, imaturidade do sistema imunológico e imaturidade renal.

10. Considerando a reposição hidreletrolítica adequada para crianças com desidratação, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).

Para crianças de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 500mL/kg.

Para crianças de 11 a 20kg, o fluido necessário é de 1.000mL/kg + 50mL/kg a cada quilograma acima de 10kg.

Para crianças com mais de 20kg, o fluido diário necessário é de 1.000mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL diários.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V — F — V

B) F — F — V

C) F — V — F

D) V — V — F

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


Em relação à reposição hidreletrolítica adequada a crianças com desidratação, a primeira afirmativa é falsa porque, para as de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 100mL/kg. A terceira afirmativa é falsa porque, para crianças com mais de 20kg, necessita-se de 1.500mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL por dia.

Resposta correta.


Em relação à reposição hidreletrolítica adequada a crianças com desidratação, a primeira afirmativa é falsa porque, para as de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 100mL/kg. A terceira afirmativa é falsa porque, para crianças com mais de 20kg, necessita-se de 1.500mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL por dia.

A alternativa correta é a "C".


Em relação à reposição hidreletrolítica adequada a crianças com desidratação, a primeira afirmativa é falsa porque, para as de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 100mL/kg. A terceira afirmativa é falsa porque, para crianças com mais de 20kg, necessita-se de 1.500mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL por dia.

Sistematização da assistência de enfermagem ao paciente com distúrbios hidreletrolíticos

A SAE possibilita ao enfermeiro identificar os diagnósticos de enfermagem (DEs) e planejar e implementar as intervenções de enfermagem adequadas ao atendimento das necessidades e respostas dos pacientes com distúrbios hidreletrolíticos.

É importante o acompanhamento, como visto anteriormente, pois um volume de líquidos alterado pode ocasionar desregulação dos níveis de eletrólitos, comprometendo a saúde do paciente. Dessa forma, as ações de enfermagem devem ser sistematizadas, com o objetivo de restabelecer o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar sua recuperação.

Neste tópico, serão indicados os DEs para os principais distúrbios hidreletrolíticos e suas respectivas implementações de enfermagem.

Desequilíbrios do volume de líquido extracelular

Para desequilíbrios do volume de LEC, os DEs são os seguintes:25,26

  • Volume de líquido deficiente associado a perdas excessivas de LEC ou diminuição da ingestão de líquidos;
  • Débito cardíaco diminuído associado a perdas excessivas do LEC ou diminuição da ingestão de líquidos;
  • Risco de volume de líquidos deficiente associado a perdas excessivas do LEC ou diminuição da ingestão de líquidos;
  • Volume de líquido excessivo associado a aumento da retenção de Na e/ou água;
  • Risco de desequilíbrio do volume de líquidos associado a aumento da retenção de Na e/ou água;
  • Distúrbio da imagem corporal associado à alteração da aparência do corpo secundária ao edema.

A implementação de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC inclui ingestão e eliminação, isto é, realizar o registro das ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas. Também é necessário estimar as perdas de líquidos ocorridas em feridas e pela transpiração.25,26

Em relação a alterações cardiovasculares em desequilíbrios, é necessário observar sinais e sintomas de excesso e déficit de volume de LEC, como alteração da pressão sanguínea, força da pulsação e distensão venosa jugular.

Nas alterações respiratórias, o procedimento da enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC consiste em realizar a ausculta, observando-se a ocorrência de estertores úmidos, verificar falta de ar, tosse irritativa, aumento da FR e diminuição da perfusão tecidual. Nas alterações neurológicas, é necessário avaliar nível de consciência, resposta pupilar à luz, movimentação voluntária dos membros, grau de força muscular e reflexos.25,26

Em relação às pesagens diárias em desequilíbrios do volume de LEC, deve-se manter a pesagem acurada do paciente sempre no mesmo horário, todos os dias, removendo excesso de roupas e esvaziando bolsas de drenagem antes de pesá-lo.25,26

Na avaliação e cuidados com a pele em casos de desequilíbrios do volume de LEC, deve-se observar o turgor da pele, preferencialmente, nas áreas do esterno, abdome e antebraço; se, após beliscá-la, ela permanecer enrugada por 20 a 30 segundos, o turgor está diminuído. A pele pode ficar úmida e fria em razão da vasoconstrição para compensar a diminuição do volume de líquidos.25,26

Outras medidas de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC incluem monitorar a velocidade de infusão de soluções de líquidos IVs, impedir a ingesta de água do paciente com drenagem nasogástrica (NG), já que pode intensificar a perda de eletrólitos, e promover o alívio da sede oferecendo gaze umedecida ao paciente.25,26

Hiponatremia

Para hiponatremia, os DEs são:25,26

  • Risco de lesão relacionado com alterações sensoriais e diminuição do nível de consciência secundária à função anormal do SNC;
  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a perda excessiva de Na e/ou ingestão excessiva ou retenção de água;
  • Complicação potencial: alterações neurológicas acentuadas.

Na implementação de enfermagem em casos de hiponatremia, deve-se administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG. O Na sérico não deve ser aumentado em mais de 12mEq/L em 24 horas, para evitar lesão neurológica decorrente de desmielinização. Nos pacientes com síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH), lítio ou demeclociclina podem antagonizar o efeito osmótico do ADH sobre o túbulo coletor medular.25,26

Pacientes com hiponatremia com lesão cerebral traumática podem receber pequenos volumes de uma solução de Na hipertônica, com o objetivo de aliviar o edema cerebral. Soluções de Na muito hipertônicas devem ser administradas lentamente.25,26

Hipernatremia

Para hipernatremia, os DEs são os seguintes:25,26

  • Risco de lesão relacionado com alterações sensoriais e convulsões secundárias à função anormal do SNC;
  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a ingestão excessiva de Na e/ou perda de água;
  • Complicação potencial: convulsões e coma levando ao dano cerebral irreversível.

Na hipernatremia, deve-se realizar redução gradual do nível de Na sérico por meio da infusão de uma solução eletrolítica hipotônica, como cloreto de Na (NaCl) a 0,3%, ou uma solução não fisiológica isotônica, como SG a 5% (indicado quando a água precisa ser reposta sem o Na).25,26

Ainda, na hipernatremia, é necessário avaliar perdas anormais de água ou baixa ingestão de água, bem como grandes ganhos de Na em decorrência da ingestão de medicamentos com alto conteúdo de Na, e administrar água suficiente para manter os níveis normais de Na sérico e ureia ao utilizar alimentos enterais.25,26

Hipopotassemia

Para hipopotassemia, os DEs são:25,26

  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a perda excessiva de potássio;
  • Risco de lesão relacionado com a fraqueza muscular e hiporreflexia;
  • Potencial complicação: disritmias.

Na hipopotassemia, a implementação de enfermagem engloba repor K por VO por meio de alimentos com alto teor de K, como frutas, legumes, grãos integrais e leite, e, se necessário, fazer a reposição cautelosa de K por via IV.25,26

Para níveis de hipopotassemia grave (2mEq/L), é obrigatória a reposição IV por bomba de infusão, podendo variar entre cloreto de K (KCl), acetato de K (C2H3KO2) ou fosfato de K (KH2PO4). O K nunca é administrado por via IV, em bolo ou intramuscular (IM), para evitar a reposição muito rapidamente. É necessário realizar cuidadoso monitoramento hídrico. Deve-se, ainda, observar as alterações do eletrocardiograma (ECG) e a elevação dos níveis de HCO3 e pH.25,26

Hiperpotassemia

Para hiperpotassemia, os DEs são os seguintes:25,26

  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a retenção excessiva ou liberação celular de potássio;
  • Risco de lesão relacionado com a fraqueza da musculatura dos membros e convulsões;
  • Complicação potencial: disritmias.

A implementação de enfermagem para hiperpotassemia consiste em identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais de hiperpotassemia. Ainda:25,26

  • verificar o equilíbrio hídrico e a presença de sinais de fraqueza muscular (fazer exame físico) e arritmias (realizar ECG);
  • obter o pulso apical quando aferir os SSVV;
  • avaliar sintomas gastrintestinais, como náuseas e cólica intestinal;
  • observar a presença de parestesias.

É necessário realizar o monitoramento constante dos pacientes com risco de hiperpotassemia, cujos sinais mais evidentes podem ser obtidos por meio dos níveis de K sérico; além disso, deve-se verificar os valores de ureia, creatinina, glicose e gasometria arterial.25,26

Hipocalcemia

Os DEs relacionados à hipocalcemia são:25,26

  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a diminuição da produção de paratormônio (PTH);
  • Risco de lesão relacionado com a tetania e convulsões;
  • Complicações potenciais: fraturas e parada respiratória.

Na hipocalcemia, a implementação de enfermagem engloba avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial. Os níveis de Ca sérico podem ser afetados por anormalidades nos níveis de albumina sérica. O nível de Ca sérico total é subestimado em, aproximadamente, 0,8mg/dL para cada diminuição sérica de albumina de 1g/dL abaixo de 4g/dL.25,26

É necessário, na hipocalcemia, realizar a reposição de Ca por via IV utilizando um sal de Ca, como gluconato de Ca (C12H22CaO14) e cloreto de Ca (CaCl2), e atentar para o cuidado ao administrar Ca IV em pacientes que recebem medicamentos digitálicos, já que podem causar intoxicação e efeitos cardíacos adversos.25,26

Na hipocalcemia, não utilizar SF (NaCl a 0,9%) junto com o Ca, pois pode causar perda de Ca renal. As soluções com PO43– ou HCO3 não devem ser utilizadas com Ca porque podem provocar a precipitação quando o Ca é adicionado. Ainda, deve-se manter o paciente no leito durante a administração de Ca e monitorar a pressão arterial (PA), pois o Ca pode causar hipotensão.25,26

A administração por via IV muita rápida pode causar parada cardíaca, antecedida por bradicardia. Assim, é importante diluir o Ca em SG a 5% e administrá-lo como bolo IV lento ou infusão IV lenta por meio de uma bomba de infusão.25,26

Hipercalcemia

Os DEs de hipercalcemia são:25,26

  • Risco de desequilíbrio eletrolítico relacionado com a excessiva destruição óssea;
  • Risco de lesão relacionado com alterações neuromusculares e sensórias;
  • Complicação potencial: disritmias.

Em relação à implementação de enfermagem, na hipercalcemia, são observadas alterações cardiovasculares, que podem incluir uma diversidade de arritmias, como bloqueios cardíacos e a abreviação do intervalo QT e do segmento ST, além da prolongação do intervalo PR no ECG.25,26

Na hipercalcemia, é importante verificar a frequência cardíaca (FC) e o ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades. Deve-se monitorar a hipercalcemia em pacientes de risco, por exemplo, aqueles que têm tumores malignos e hiperparatireoidismo, e indivíduos em uso crônico de lítio e diuréticos tiazídicos.25,26

O incentivo à deambulação e à ingestão de líquido pode evitar a hipercalcemia ou, pelo menos, minimizá-la. É necessário motivar o paciente a beber de 2,8 a 3,8 litros de líquido diariamente e incluir fibras adequadas na dieta para compensar a tendência de constipação intestinal.25,26

ATIVIDADES

11. Sobre a relevância da SAE no cuidado ao paciente com distúrbios hidreletrolíticos, assinale a alternativa correta.

A) A SAE viabiliza ao enfermeiro estabelecer as intervenções de enfermagem de urgência ao atendimento das necessidades e respostas do paciente com distúrbios hidreletrolíticos.

B) As ações de enfermagem devem ser sistematizadas para reconstituir o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar o encaminhamento ao especialista adequado.

C) A SAE viabiliza ao enfermeiro especificar os DEs para que o médico possa planejar e estabelecer as intervenções necessárias ao atendimento das necessidades do paciente com distúrbios hidreletrolíticos.

D) O acompanhamento é importante, considerando que um volume de líquidos alterado pode causar desregulação dos níveis de eletrólitos e debilitar a saúde do paciente com distúrbios hidreletrolíticos.

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "D".


A SAE propicia que o enfermeiro especifique os DEs e planeje e estabeleça as intervenções de enfermagem adequadas ao atendimento das necessidades e respostas do paciente com distúrbios hidreletrolíticos. As ações de enfermagem devem ser sistematizadas para recompor o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar a sua recuperação.

Resposta correta.


A SAE propicia que o enfermeiro especifique os DEs e planeje e estabeleça as intervenções de enfermagem adequadas ao atendimento das necessidades e respostas do paciente com distúrbios hidreletrolíticos. As ações de enfermagem devem ser sistematizadas para recompor o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar a sua recuperação.

A alternativa correta é a "D".


A SAE propicia que o enfermeiro especifique os DEs e planeje e estabeleça as intervenções de enfermagem adequadas ao atendimento das necessidades e respostas do paciente com distúrbios hidreletrolíticos. As ações de enfermagem devem ser sistematizadas para recompor o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar a sua recuperação.

12. Considerando os distúrbios hidreletrolíticos e as ações iniciais dos cuidados de enfermagem ao paciente, correlacione as colunas.

1 Desequilíbrios do volume de LEC

2 Hiponatremia

3 Hipernatremia

4 Hipopotassemia

5 Hiperpotassemia

6 Hipocalcemia

7 Hipercalcemia

Identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais dessa condição.

Avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial.

Administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG.

Repor K por VO com alimentos com alto teor de K e, se necessário, fazer a reposição cautelosa de K por via IV.

Reduzir gradualmente o nível de Na sérico com infusão de solução eletrolítica hipotônica ou solução não fisiológica isotônica.

Verificar FC e ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades, e incentivar deambulação e ingestão de líquido pode evitar essa condição ou minimizá-la.

Registrar as ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 1 — 2 — 4 — 5 — 6 — 3 — 7

B) 7 — 3 — 1 — 6 — 5 — 2 — 4

C) 5 — 6 — 2 — 4 — 3 — 7 — 1

D) 4 — 7 — 3 — 1 — 2 — 5 — 6

Confira aqui a resposta

Resposta incorreta. A alternativa correta é a "C".


A implementação de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC engloba realizar registro das ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas. Na hiponatremia, administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG. Na hipernatremia, realizar diminuição gradual do nível de Na sérico com infusão de uma solução eletrolítica hipotônica ou uma solução não fisiológica isotônica. Na hipopotassemia, repor K por VO com alimentos com alto teor de K, como frutas, legumes, grãos integrais e leite, e, se preciso, repor cautelosamente o K por via IV. Na hiperpotassemia, identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais dessa condição. Na hipocalcemia, avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial. Na hipercalcemia, verificar a FC e o ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades, e estimular deambulação e ingestão de líquido pode evitar ou, ao menos, minimizar essa condição.

Resposta correta.


A implementação de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC engloba realizar registro das ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas. Na hiponatremia, administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG. Na hipernatremia, realizar diminuição gradual do nível de Na sérico com infusão de uma solução eletrolítica hipotônica ou uma solução não fisiológica isotônica. Na hipopotassemia, repor K por VO com alimentos com alto teor de K, como frutas, legumes, grãos integrais e leite, e, se preciso, repor cautelosamente o K por via IV. Na hiperpotassemia, identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais dessa condição. Na hipocalcemia, avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial. Na hipercalcemia, verificar a FC e o ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades, e estimular deambulação e ingestão de líquido pode evitar ou, ao menos, minimizar essa condição.

A alternativa correta é a "C".


A implementação de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC engloba realizar registro das ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas. Na hiponatremia, administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG. Na hipernatremia, realizar diminuição gradual do nível de Na sérico com infusão de uma solução eletrolítica hipotônica ou uma solução não fisiológica isotônica. Na hipopotassemia, repor K por VO com alimentos com alto teor de K, como frutas, legumes, grãos integrais e leite, e, se preciso, repor cautelosamente o K por via IV. Na hiperpotassemia, identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais dessa condição. Na hipocalcemia, avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial. Na hipercalcemia, verificar a FC e o ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades, e estimular deambulação e ingestão de líquido pode evitar ou, ao menos, minimizar essa condição.

L. C. N., menina de 4 anos, pesando 14kg, acompanhada de sua genitora, chegou ao serviço de pediatria apresentando sinais e sintomas sugestivos de desidratação.

Segundo informações fornecidas pela mãe, a criança apresentou vômito e diarreia nas últimas 24 horas, além de ter diminuído a ingestão de líquidos. Também foi informado que ela parecia estar mais cansada e irritada do que o habitual. Não há histórico prévio de doenças crônicas ou hospitalizações.

Ao exame físico, a criança mostrou sinais de desidratação moderada. A pele estava levemente enrugada e perdeu sua elasticidade normal. Os olhos estavam um pouco afundados e a mucosa oral, seca. A FC e a PA estavam normais. O exame abdominal revelou discreto aumento da sensibilidade à palpação em todo o abdome.

ATIVIDADES

13. Descreva as condutas que devem ser realizadas no atendimento da paciente do caso clínico.

Confira aqui a resposta

O tratamento da desidratação infantil depende do grau de desidratação e dos sintomas apresentados pela criança. No caso clínico, considerando-se que a paciente apresenta sinais de desidratação moderada, a conduta inicial será RO. Será administrada uma SRO contendo sais e eletrólitos para recuperação dos fluidos e eletrólitos perdidos. Os pais serão orientados a oferecer à criança pequenas quantidades da solução, em intervalos frequentes, observando-se a recepção dela. Além disso, será recomendado o restabelecimento intestinal, com uma dieta leve e de fácil digestão, evitando-se alimentos gordurosos e ricos em fibras. Os pais serão orientados a observar a criança quanto à melhora dos sintomas, como diminuição do número de episódios de vômitos e diarreia, aumento da micção, melhora do estado geral e hidratação da mucosa oral. A criança será monitorada de perto durante o tratamento, e, se houver piora dos sintomas, como aumento dos vômitos, diarreia incontrolável, piora do estado geral ou sinais de desidratação grave, poderá ser necessária internação hospitalar para terapia IV e cuidados mais intensivos. Os pais seguem orientações quanto à prevenção da desidratação, como estímulo à ingestão adequada de líquidos, principalmente água, e cuidados de higiene, para evitar doenças infecciosas que podem causar vômitos e diarreia. Quanto ao seguimento, será agendado retorno para avaliação da criança dentro de 48 horas, a fim de verificar a evolução do quadro clínico e avaliar a necessidade de ajustes no tratamento.

Resposta correta.


O tratamento da desidratação infantil depende do grau de desidratação e dos sintomas apresentados pela criança. No caso clínico, considerando-se que a paciente apresenta sinais de desidratação moderada, a conduta inicial será RO. Será administrada uma SRO contendo sais e eletrólitos para recuperação dos fluidos e eletrólitos perdidos. Os pais serão orientados a oferecer à criança pequenas quantidades da solução, em intervalos frequentes, observando-se a recepção dela. Além disso, será recomendado o restabelecimento intestinal, com uma dieta leve e de fácil digestão, evitando-se alimentos gordurosos e ricos em fibras. Os pais serão orientados a observar a criança quanto à melhora dos sintomas, como diminuição do número de episódios de vômitos e diarreia, aumento da micção, melhora do estado geral e hidratação da mucosa oral. A criança será monitorada de perto durante o tratamento, e, se houver piora dos sintomas, como aumento dos vômitos, diarreia incontrolável, piora do estado geral ou sinais de desidratação grave, poderá ser necessária internação hospitalar para terapia IV e cuidados mais intensivos. Os pais seguem orientações quanto à prevenção da desidratação, como estímulo à ingestão adequada de líquidos, principalmente água, e cuidados de higiene, para evitar doenças infecciosas que podem causar vômitos e diarreia. Quanto ao seguimento, será agendado retorno para avaliação da criança dentro de 48 horas, a fim de verificar a evolução do quadro clínico e avaliar a necessidade de ajustes no tratamento.

O tratamento da desidratação infantil depende do grau de desidratação e dos sintomas apresentados pela criança. No caso clínico, considerando-se que a paciente apresenta sinais de desidratação moderada, a conduta inicial será RO. Será administrada uma SRO contendo sais e eletrólitos para recuperação dos fluidos e eletrólitos perdidos. Os pais serão orientados a oferecer à criança pequenas quantidades da solução, em intervalos frequentes, observando-se a recepção dela. Além disso, será recomendado o restabelecimento intestinal, com uma dieta leve e de fácil digestão, evitando-se alimentos gordurosos e ricos em fibras. Os pais serão orientados a observar a criança quanto à melhora dos sintomas, como diminuição do número de episódios de vômitos e diarreia, aumento da micção, melhora do estado geral e hidratação da mucosa oral. A criança será monitorada de perto durante o tratamento, e, se houver piora dos sintomas, como aumento dos vômitos, diarreia incontrolável, piora do estado geral ou sinais de desidratação grave, poderá ser necessária internação hospitalar para terapia IV e cuidados mais intensivos. Os pais seguem orientações quanto à prevenção da desidratação, como estímulo à ingestão adequada de líquidos, principalmente água, e cuidados de higiene, para evitar doenças infecciosas que podem causar vômitos e diarreia. Quanto ao seguimento, será agendado retorno para avaliação da criança dentro de 48 horas, a fim de verificar a evolução do quadro clínico e avaliar a necessidade de ajustes no tratamento.

Conclusão

Neste capítulo, abordou-se, de forma abrangente e detalhada, a desidratação grave em adultos e crianças, com informações essenciais e atualizadas para os profissionais da saúde. Ao longo do tema, os principais aspectos do tratamento e manejo dessa condição clínica desafiadora foram explorados.

A correção do desequilíbrio hidreletrolítico adequada desempenha papel fundamental no tratamento da desidratação grave. Destaca-se a importância da SAE, por meio da administração criteriosa da terapia IV, aliada à monitoração contínua de SSVV, balanço hídrico e da resposta terapêutica do paciente, essenciais para garantir uma assistência segura e eficaz.

O tratamento da desidratação grave requer uma abordagem interdisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, nutricionistas e demais profissionais da saúde. A comunicação e a colaboração efetivas entre a equipe são essenciais para proporcionar um cuidado integrado e individualizado, visando à melhor qualidade de vida e à recuperação do paciente.

Por fim, espera-se que as informações e os conhecimentos compartilhados neste capítulo auxiliem as condutas aplicadas no atendimento de urgência e emergência, pautado em manejo adequado, prevenção de complicações e metas terapêuticas da desidratação, o que possibilitará ao enfermeiro emergencista desenvolver a SAE no intuito de promover um cuidado centrado na prevenção de distúrbios hidreletrolíticos e promover cuidados de enfermagem.

Além disso, é crucial reconhecer o papel fundamental que os enfermeiros desempenham no tratamento da desidratação em cenários de urgência e emergência. Os enfermeiros são frequentemente a primeira linha de contato para os pacientes que buscam assistência médica e, como tal, desempenham um papel vital na avaliação inicial, triagem e intervenção imediata. Eles são capacitados para reconhecer sinais e sintomas de desidratação, avaliar a gravidade da condição e iniciar rapidamente o tratamento adequado, que pode incluir a administração de fluidos intravenosos, o monitoramento contínuo dos sinais vitais e o ajuste dos planos de cuidados conforme necessário. Além disso, os enfermeiros desempenham um papel essencial na educação dos pacientes e de seus familiares sobre a importância da hidratação adequada, os sinais de alerta de desidratação e as medidas preventivas. Seu papel holístico no cuidado do paciente contribui significativamente para a eficácia do tratamento e para a recuperação bem-sucedida dos pacientes afetados pela desidratação.

Atividades: Respostas

Atividade 1 // Resposta: B

Comentário: A desidratação é uma condição comum, que se dá quando o corpo perde mais líquidos do que é capaz de repor, o que resulta em desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos; ela pode ser sobretudo preocupante em idosos e crianças na urgência ou emergência em saúde.

Atividade 2 // Resposta: A

Comentário: A terceira afirmativa é falsa porque plasma é o elemento não celular do sangue e realiza constantes trocas, de vários elementos, com o líquido intersticial, que corresponde a aproximadamente três quartos do LEC, e fica fora dos vasos sanguíneos, irrigando as células e mantendo-as estáveis.

Atividade 3 // Resposta: D

Comentário: A desidratação se dá quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, levando a desequilíbrio nos níveis de água e eletrólitos.

Atividade 4 // Resposta: B

Comentário: As causas de desidratação hipertônica são ingestão insuficiente de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de medicamentos diuréticos.

Atividade 5 // Resposta: C

Comentário: Os principais exames laboratoriais utilizados na avaliação de paciente adulto com desidratação grave são hemograma completo, eletrólitos séricos, gasometria arterial e avaliação da função renal.

Atividade 6 // Resposta: A

Comentário: Os principais eletrólitos avaliados em exames de eletrólitos séricos em pacientes gravemente desidratados são Na+, K+, Cl e outros parâmetros, como HCO3 e Ca2+.

Atividade 7 // Resposta: D

Comentário: A gasometria arterial é útil na avaliação de pacientes gravemente desidratados porque oferece informações acerca do equilíbrio acidobásico e dos níveis de O2 e CO2 no sangue arterial, que podem ser afetados por esse tipo de desidratação.

Atividade 8 // Resposta: A

Comentário: Procurar um hospital em casos de desidratação infantil grave é vital e de suma importância para garantir uma avaliação e tratamento adequados, prevenir complicações graves e garantir uma recuperação completa e rápida da criança.

Atividade 9 // Resposta: A

Comentário: A melhor forma de prevenir desidratação em crianças é oferecer líquidos de forma regular e em quantidade adequada, lembrando que a criança é mais suscetível à desidratação se comparada ao adulto, por fatores como grande nível metabólico, perdas mínimas obrigatórias maiores decorrentes de maior superfície corporal em relação ao peso e maior FR, imaturidade do sistema imunológico e imaturidade renal.

Atividade 10 // Resposta: C

Comentário: Em relação à reposição hidreletrolítica adequada a crianças com desidratação, a primeira afirmativa é falsa porque, para as de 3,5 a 10kg, o fluido diário necessário é de 100mL/kg. A terceira afirmativa é falsa porque, para crianças com mais de 20kg, necessita-se de 1.500mL + 20mL/kg a cada quilograma acima de 20kg, até o máximo de 2.400mL por dia.

Atividade 11 // Resposta: D

Comentário: A SAE propicia que o enfermeiro especifique os DEs e planeje e estabeleça as intervenções de enfermagem adequadas ao atendimento das necessidades e respostas do paciente com distúrbios hidreletrolíticos. As ações de enfermagem devem ser sistematizadas para recompor o equilíbrio hidreletrolítico do paciente e proporcionar a sua recuperação.

Atividade 12 // Resposta: C

Comentário: A implementação de enfermagem em desequilíbrios do volume de LEC engloba realizar registro das ingestões, incluindo a VO e a IV, tubos de alimentação e irrigantes retidos, e eliminações no período de 24 horas. Na hiponatremia, administrar cuidadosamente Na por VO, parenteral ou tubo NG. Na hipernatremia, realizar diminuição gradual do nível de Na sérico com infusão de uma solução eletrolítica hipotônica ou uma solução não fisiológica isotônica. Na hipopotassemia, repor K por VO com alimentos com alto teor de K, como frutas, legumes, grãos integrais e leite, e, se preciso, repor cautelosamente o K por via IV. Na hiperpotassemia, identificar pacientes com risco de excesso de K, como aqueles com insuficiência renal, e monitorar os sinais dessa condição. Na hipocalcemia, avaliar os níveis de Ca sérico, albumina sérica e pH arterial. Na hipercalcemia, verificar a FC e o ritmo cardíaco em relação a quaisquer anormalidades, e estimular deambulação e ingestão de líquido pode evitar ou, ao menos, minimizar essa condição.

Atividade 13

RESPOSTA: O tratamento da desidratação infantil depende do grau de desidratação e dos sintomas apresentados pela criança. No caso clínico, considerando-se que a paciente apresenta sinais de desidratação moderada, a conduta inicial será RO. Será administrada uma SRO contendo sais e eletrólitos para recuperação dos fluidos e eletrólitos perdidos. Os pais serão orientados a oferecer à criança pequenas quantidades da solução, em intervalos frequentes, observando-se a recepção dela. Além disso, será recomendado o restabelecimento intestinal, com uma dieta leve e de fácil digestão, evitando-se alimentos gordurosos e ricos em fibras. Os pais serão orientados a observar a criança quanto à melhora dos sintomas, como diminuição do número de episódios de vômitos e diarreia, aumento da micção, melhora do estado geral e hidratação da mucosa oral. A criança será monitorada de perto durante o tratamento, e, se houver piora dos sintomas, como aumento dos vômitos, diarreia incontrolável, piora do estado geral ou sinais de desidratação grave, poderá ser necessária internação hospitalar para terapia IV e cuidados mais intensivos. Os pais seguem orientações quanto à prevenção da desidratação, como estímulo à ingestão adequada de líquidos, principalmente água, e cuidados de higiene, para evitar doenças infecciosas que podem causar vômitos e diarreia. Quanto ao seguimento, será agendado retorno para avaliação da criança dentro de 48 horas, a fim de verificar a evolução do quadro clínico e avaliar a necessidade de ajustes no tratamento.

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AUTORES

ADRIANA ELISA CARCERERI DE OLIVEIRA // Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA). Pós-graduada em Enfermagem em Terapia Intensiva Adulto e Neonatal. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Especialista em Residência Multiprofissional em Intensivismo/Urgência e Emergência pelo Hospital Maternidade Therezinha de Jesus, Juiz de Fora/MG. Docente da Graduação de Enfermagem e Medicina na SUPREMA. Coordenadora da Pós-graduação de Enfermagem em Terapia Intensiva na SUPREMA.

EVERTON BAZANELLA FERLA // Graduado em Enfermagem pelo Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (FAG), Cascavel/PR. Pós-graduado em Urgência e Emergência. Especialista em Atendimento Pré-Hospitalar pela RG Treinamentos. Docente no Curso Técnico de Enfermagem na Master Cursos, Novo Progresso/PA. Enfermeiro Coordenador de Média e Alta Complexidade da Secretária Municipal de Saúde de Novo Progresso/PA. Bombeiro Civil, formado pela Mestra Treinamentos, Novo Progresso/PA.

ESTEFANI DA SILVA BRAGA // Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Itaituba/PA. Docente no Curso Técnico de Enfermagem na Master Cursos, Novo Progresso/PA. Enfermeira Assistencial no Hospital Municipal de Novo Progresso/PA.

Como citar a versão impressa deste documento

Oliveira AEC, Ferla EB, Braga ES. Abordagem da desidratação na urgência e emergência em pacientes adultos e pediátricos. In: Associação Brasileira de Enfermagem; Unicovsky MAR, Waldman BF, Spezani RS, organizadores. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Urgência e Emergência: Ciclo 11. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2024. p. 9–42. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 3). https://doi.org/10.5935/978-85-514-1267-1.C0001