Objetivos
Ao final deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar os principais fatores de risco para a ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC) em crianças;
- identificar rapidamente uma criança em risco para AVC;
- indicar o tratamento de um paciente com AVC, principalmente no que se refere à anticoagulação.
Esquema conceitual
Introdução
A incidência estimada dos AVCs em crianças varia de 1,3 a 13 por 100 mil e, em recém-nascidos (RNs), de 1 por 2.500 a 5 mil nascidos vivos.1 Por volta de dois terços das crianças evoluem com importantes deficiências cognitivas e/ou motoras, e essa morbidade representa um grande desafio aos responsáveis pelas crianças e gastos importantes com a assistência em saúde. Existe grande probabilidade de esses números serem subestimados em razão de situações como:
- ausência de suspeição clínica;
- reconhecimento tardio (impacto direto no tratamento);
- sinais clínicos inespecíficos (quanto mais nova a criança, pior);
- disponibilidade limitada de exames de imagem em locais menos desenvolvidos;
- diagnósticos diferenciais muito variados;
- procura muito atrasada pelos serviços de saúde.
Os AVCs em crianças são condições raras; porém, reconhecidas com frequência cada vez maior graças à importância de suas complicações e à variedade de diagnósticos diferenciais. O diagnóstico requer alto índice de suspeição clínica, uma vez que os sinais e sintomas manifestados pela criança, em um primeiro momento, podem carecer de especificidade de maneira a mimetizar outras apresentações clínicas de doenças neurológicas ou além do sistema nervoso central.
Estudos demonstram que o intervalo entre o início das manifestações clínicas e o diagnóstico pode variar de 24 a 72 horas. Um recente estudo retrospectivo demonstrou menor tempo diagnóstico em crianças com AVC hemorrágico, provavelmente em razão da maior gravidade dos sintomas.2,3 Os fatores de risco, as manifestações clínicas e os desfechos são diferentes dos encontrados na população adulta.
A detecção precoce do AVC é fundamental para profissionais de saúde e tem potencial translacional para a aplicação de intervenções trombolíticas, neuroprotetoras e antitrombóticas, bem como de reabilitação, melhorando a qualidade de vida para pacientes e seus familiares.4,5,6
O propósito deste capítulo é avaliar os principais mecanismos fisiopatológicos que levam a criança a apresentar um AVC e revisar as mais recentes recomendações acerca do manejo dos quadros agudos.