Entrar

AFETO PSEUDOBULBAR: DIAGNÓSTICO, ESCALAS E TRATAMENTO DAdoença de Alzheimer "DOENÇA DO CORINGA"

Almir Tavares

epub-BR-PROPSIQ-C9V4_Artigo2

https://doi.org/10.5935/978-65-87335-03-2.C0002

  • Introdução

O afeto pseudobulbar (APBafeto pseudobulbar) também é denominado riso e choro patológico, riso e choro espasmódicos, labilidade emocional, labilidade afetiva, incontinência emocional, incontinência afetiva, desregulação emocional, emocionalismo, emotividade patológica e transtorno da expressão emocional involuntária.

Trata-se de um intrigante fenômeno neuropsiquiátrico, que surge ao longo do curso de variadas condições neurológicas e injúrias, que incluem acidente vascular encefálico (AVEacidente vascular encefálico), traumatismo cranioencefálico (TCEtraumatismo cranioencefálico), doenças do neurônio motor — em particular, esclerose lateral amiotrófica (ELAesclerose lateral amiotrófica) e esclerose lateral primária —, esclerose múltipla, atrofia de múltiplos sistemas de tipo cerebelar, neoplasias cerebrais, doença de Alzheimer (DAdoença de Alzheimer), doença de Parkinson e outros.1

O quadro clínico do APBafeto pseudobulbar se caracteriza por ataques (episódios), abruptos e breves, de riso e/ou choro. Por vezes, em pacientes do sexo masculino, há riso e raiva, em vez de riso e choro. São episódios estereotipados, involuntários, imprevisíveis e desproporcionais. Esses episódios são independentes do humor que podem apresentar natureza congruente ou incongruente com as emoções dominantes. Podem ser frequentes, ocorrendo diversas vezes em um dia, ou podem aparecer esparsos, dependendo de modificações neurais subjacentes. A capacidade de controlar a própria expressão emocional encontra-se alterada. O controle voluntário é suficiente tão somente para apenas amenizar parcialmente os episódios.

O paciente, em geral, admite que apresenta alguma incapacidade ou inadequação da regulação do próprio afeto, embora nem sempre consiga perceber de modo integral toda a fenomenologia de seus episódios. Parte das informações precisam ser coletadas entrevistando-se familiares e/ou cuidadores. O APBafeto pseudobulbar pode assumir proporções perturbadoras e embaraçosas para o paciente e para seus cuidadores, já sobrecarregados com o ônus da doença neurológica primária.2

O APBafeto pseudobulbar acrescenta mais dificuldades àquelas já preexistentes para a socialização e a reabilitação. Comparados a pacientes com as mesmas doenças neurológicas e que não apresentam APBafeto pseudobulbar, os pacientes com APBafeto pseudobulbar manifestam maior frequência de sintomas depressivos e ansiosos, redução em funções executivas, alterações de funcionamento sexual e pior desempenho em atividades de vida diária.

Apesar de toda a sua relevância, este trastorno é pouco divulgado entre médicos e profissionais de saúde, sendo subdiagnosticado e subvalorizado. Assim, poucas vezes um tratamento é direcionado exclusivamente para o APBafeto pseudobulbar, que acaba sendo, com frequência, confundido com transtornos depressivos ou com uma reação psicológica a uma doença neurológica.

O tema ganhou alcance do público geral com o filme de 2019 Coringa (Joker), de Todd Phillips. O personagem central, Arthur Fleck (interpretado pelo ator Joaquim Phoenix, laureado no início de 2020 com o Oscar de melhor ator), apresenta episódios de riso descontrolados e desproporcionais, iniciados após um TCEtraumatismo cranioencefálico ocorrido no passado. Embora não diretamente explicitada no filme, essa situação poderia representar uma alusão ao quadro clínico do APBafeto pseudobulbar.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • conceituar o APBafeto pseudobulbar, identificar suas características clínicas, os critérios diagnósticos, o diagnóstico diferencial e a epidemiologia;
  • reconhecer as duas principais escalas de avaliação de sintomas do ABP, a Pathological Laughing and Crying Scale (PLACSPathological Laughing and Crying Scale) e a Center for Neurologic Study – Lability Scale (CNS- LS);
  • levantar as hipóteses que embasam a fisiopatologia e a neurofarmacologia subjacente aos tratamentos;
  • compreender os principais tratamentos psicofarmacológicos, particularmente aqueles com antidepressivos (ADantidepressivos) e com a combinação de quinidina e dextrometorfano.
  • Esquema conceitual
Este programa de atualização não está mais disponível para ser adquirido.
Já tem uma conta? Faça login