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O PAPEL DO EIXO MICROBIOTA–INTESTINO–CÉREBRO NA FISIOPATOLOGIA DOS TRANSTORNOS NEUROPSIQUIÁTRICOS

Tatiana Barichello

epub-BR-PROPSIQ-C9V4_Artigo3

https://doi.org/10.5935/978-65-87335-03-2.C0003

  • Introdução

A microbiota intestinal influencia o cérebro e pode estar envolvida em transtornos neuropsiquiátricos, modulando parcialmente a disponibilidade de triptofano circulante, os ácidos graxos de cadeia curta (AGCCácidos graxos de cadeia curta), a permeabilidade da barreira hematoencefálica (BHEbarreira hematoencefálica), a ativação de células imunes periféricas e de células microgliais. O eixo intestino–cérebro é conectado por uma via de sinalização bioquímica que comunica o trato gastrintestinal (TGItrato gastrintestinal) com o sistema nervoso central (SNCsistema nervoso central).1

Há mais de 2 mil anos, Hipócrates de Cós (460–377 a.C.), médico grego, proclamava: “Toda doença começa no intestino”.1 Na mesma sequência de pensamentos científicos, em meados do século 19, o cirurgião do exército americano William Beaumont (1785–1853) tratou um paciente que foi atingido acidentalmente por um projétil proveniente de uma arma de fogo. O cirurgião deixou uma fístula gástrica com uma abertura no intestino do paciente; todavia, quando o paciente apresentava irritação, sua digestão era afetada, demonstrando que o estado emocional influenciava o intestino.2

Seguindo os estudos muito bem fundamentados do Dr. Beaumont e usando modelo animal, Ivan Pavlov (1849–1936), sob a orientação de Carl Ludwig (1816–1895), médico e fisiologista alemão, demonstrou que as interações intestino–cérebro estavam presentes na fase cefálica da secreção gástrica e pancreática, seguidas por uma demonstração adicional do reflexo condicionado. Em 1904, Ivan Pavlov foi agraciado com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.3

LEMBRAR

Nas últimas décadas, os trilhões de microrganismos que vivem no intestino apresentam-se como reguladores do eixo intestino–cérebro. Várias linhas de estudo demonstraram evidências de que a microbiota intestinal afeta o cérebro.4,5

Primeiramente, estudos realizados em camundongos livres de germes demonstraram que o cérebro é afetado pela ausência de microrganismos.4,5 Em segundo plano, verificou-se que os animais tratados com microrganismos específicos apresentaram alterações comportamentais, e que a microbiota intestinal também afetava o comportamento dos animais.6,7 Em terceiro lugar, as pessoas e os animais afetados por processos infecciosos apresentaram modulação do eixo intestino–cérebro e mudanças comportamentais.8–10 Em quarto plano, a administração de antibióticos afetou o cérebro e o sistema nervoso entérico em estudos pré-clínicos e clínicos.11.12 Nesse contexto, é crucial entender o complexo processo envolvido entre o intestino e a microbiota que influencia o cérebro e o comportamento.

  • Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • descrever, em uma visão abrangente, o eixo da microbiota intestino–cérebro;
  • identificar e distinguir a comunicação cerebral por meio de diferentes vias, incluindo o sistema imunológico, o metabolismo do triptofano, o nervo vago e os metabólitos microbianos, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCCácidos graxos de cadeia curta) e compostos microbianos, como lipopolissacarídeo (LPSlipopolissacarídeos) e peptidoglicano;
  • comparar estudos com prebióticos, probióticos e transplante de microbiota fecal em pesquisas pré-clínicas e clínicas em transtornos neuropsiquiátricos.
  • Esquema conceitual
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