Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- revisar a terminologia utilizada em alcoolismo;
- avaliar a epidemiologia do alcoolismo na terceira idade;
- identificar as particularidades do diagnóstico do alcoolismo no idoso;
- listar as complicações do alcoolismo no idoso;
- sistematizar o atendimento ao paciente idoso com história de alcoolismo.
Esquema conceitual
Introdução
O alcoolismo no idoso é uma condição de grande relevância em função de sua alta prevalência (ainda que menor do que na fase adulta), do subdiagnóstico e das graves complicações, afetando a saúde física, psíquica, familiar e social do idoso.
Os desafios presentes no envelhecimento estão bastante implicados no gatilho ou na intensificação do hábito de beber: solidão, isolamento social, perdas como viuvez, aposentadoria, dificuldade financeira e frustrações durante todo seu ciclo de vida são situações comuns que contribuem para o alcoolismo.
As mudanças fisiológicas do próprio processo de envelhecimento aumentam a sensibilidade do idoso ao álcool, em função da menor reserva hídrica e maior tendência à desidratação, da redução da massa muscular corporal, da alteração da capacidade de metabolização hepática e da função renal. Com isso, a interação droga-medicamento deve ser sempre lembrada, podendo o álcool potencializar o efeito de outras substâncias em uso pelo paciente.
O diagnóstico do alcoolismo é, com frequência, bastante complexo, começando pela dificuldade do próprio idoso e dos familiares em reconhecer o problema e procurar ajuda e em função da atribuição errônea de seus sintomas ao estigma de “serem normais da idade” ou devido a outras comorbidades presentes.
São frequentes consequências como a incoordenação motora, levando a quedas e traumatismo — sendo os mais prevalentes, inclusive em unidades de emergência, o traumatismo craniencefálico e as fraturas,1 além de suicídio, homicídio, déficit cognitivo, piora do controle ou surgimento de comorbidades como diabetes, hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca, insuficiência hepática, neoplasias, osteoporose e transtornos do humor.2
Para que o tratamento seja adequadamente proposto ao paciente, de forma individualizada e interdisciplinar, o rastreamento do alcoolismo durante a anamnese se torna ponto crucial. Dependendo do padrão e da extensão do uso da substância, os pacientes idosos podem requerer desde intervenções breves e menos intensivas até internações prolongadas para sua maior segurança, enfatizando abordagens não confrontacionais.3