- Introdução
Desde os primórdios da humanidade, o homem estabelece vínculos entre si baseados na vida em comunidade. Essas ligações são formadas nos mais diversos ambientes nos quais se está inserido, incluindo no cuidado em saúde. A prática clínica e a academia têm demonstrado que o efeito de um tratamento proposto a um paciente não é resultado exclusivo dos recursos terapêuticos ofertados em uma intervenção fisioterápica. Existem alguns efeitos não específicos às técnicas aplicadas, que possivelmente decorrem das relações construídas nesse processo.
Um exemplo claro da importância da conexão entre o terapeuta e o paciente em seu prognóstico tem sido trabalhado extensivamente nos últimos anos, a saber, o modelo de prática baseada em evidência (PBEprática baseada em evidência).1
A PBEprática baseada em evidência envolve:1
- evidência científica de alta qualidade;
- experiência clínica do profissional; e
- as preferências do paciente.
Para saber mais:
É possível aprofundar as leituras sobre o tema da PBEprática baseada em evidência no volume 2 deste ciclo, no artigo intitulado Prática baseada em evidências: como efetivamente utilizar na prática clínica?.
Portanto, para ofertar cuidado de maneira efetiva, é necessária a integração entre esses três itens. Por isso, a abordagem clínica deve ser vinculada ao paciente para haver sucesso na intervenção. Assim, é clara a necessidade de se estabelecer o referido vínculo também com aqueles que estão envolvidos no processo saúde-doença.
Apenas recentemente as pesquisas têm explorado o efeito da interação do paciente com seu terapeuta nos desfechos relevantes de uma intervenção de fisioterapia, muito embora a relação entre eles seja preconizada na área de saúde. Esses efeitos são conhecidos como efeitos não específicos, os quais não podem ser negligenciados pelo fisioterapeuta, que, muitas vezes, se foca exclusivamente no treinamento de suas habilidades para conquista de resultados específicos em suas propostas.
Efeitos não específicos que favoreçam desfechos clínicos devem ser identificados, estudados e treinados para que profissionais de saúde possam aperfeiçoar sua eficiência na prestação de serviço relevante visando desfechos funcionais positivos.
Muito investigada em psicoterapia, a aliança terapêutica (ATaliança terapêutica), a relação de trabalho estabelecida entre paciente e terapeuta durante a oferta de um tratamento, também é construída entre o fisioterapeuta e seu paciente, que se encontram rotineiramente durante o processo de intervenção terapêutica. A colaboração construída entre este par mostra-se necessária ao longo do processo de decisão clínica envolvendo objetivos de tratamento, estratégias a serem executadas para o alcance dos objetivos e o estabelecimento de vínculo terapêutico ao longo desse processo.
Recentes evidências na área da fisioterapia apontam que a construção da ATaliança terapêutica favorece desfechos em saúde positivos para o paciente, como aumento de função e redução de sintomatologia dolorosa. Além disso, a aliança estabelecida aumenta a satisfação e a adesão desse paciente com o tratamento ofertado.
A ATaliança terapêutica pode ser mensurada, mas instrumentos que mensurem a aliança no contexto da fisioterapia precisam ser elaborados e refinados. Fisioterapeutas devem compreender que estratégias para criação da aliança devem ser adquiridas mediante treinamento, visando à otimização de sua colaboração com o paciente e, assim, ao sucesso de sua intervenção.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- conceituar ATaliança terapêutica;
- nomear e caracterizar os fatores de comunicação verbais e não verbais essenciais entre o fisioterapeuta e seu paciente;
- identificar efeitos da ATaliança terapêutica nos desfechos almejados na reabilitação dos pacientes;
- reconhecer a importância do treinamento de fisioterapeutas para competências de comunicação com seus pacientes.
- Esquema conceitual