Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar as principais diferenças entre os mecanismos de modificação epigenética;
- distinguir as principais contribuições da dieta para a metilação do DNA (DNAm);
- discutir as principais contribuições da nutrição materna para a DNAm.
Esquema conceitual
Introdução
A mudança no estilo de vida da população, com a adoção de hábitos pouco saudáveis, como dieta inadequada, tem contribuído para o aumento da obesidade e da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), incluindo diabetes melito (DM), hipertensão, depressão e câncer. No entanto, os estados de adoecimento não são apenas associados ao estilo de vida, mas também a fatores genéticos, intrínsecos aos indivíduos, em associação com o ambiente.
Os componentes da dieta podem atuar diretamente como fatores de transcrição, além de influenciar eventos epigenéticos, alterando a expressão gênica e o risco de doenças que podem ser transmitidas aos descendentes.
A origem da palavra epigenética é grega, e o prefixo epi significa sobre. O termo pode ser traduzido como aquilo que está sobre ou além da molécula de DNA.1 A definição de epigenética foi proposta em 1942 pelo geneticista Conrad Waddington. O início dos estudos sobre a temática teve por finalidade compreender a alta variedade genética de todas as células de um mesmo indivíduo sem que a sequência do DNA se alterasse.2
Epigenética consiste em alterações herdáveis da expressão gênica que não conseguem alterar a sequência do DNA, mas são transmitidas durante a divisão celular ao longo das gerações.3 As principais alterações epigenéticas são as seguintes:
- DNAm;
- alterações nas histonas;
- interferências de RNA não codificante (ncRNA);
- acetilação de histonas (desacetilases [HDAC]);
- proteínas remodeladoras da cromatina.
A DNAm e as alterações nas histonas compreendem dois mecanismos implicados nas manifestações ambientais sobre o DNA mais conhecidas como epigenética.4 Nesse contexto, são mecanismos largamente estudados. Além disso, é possível encontrar interferências de ncRNA,5 HDAC6 e proteínas remodeladoras da cromatina.6
Nos últimos anos, os estudos têm se concentrado em entender como o ambiente materno pode influenciar o perfil epigenético da prole, especialmente em relação à dieta da mãe. Esse interesse surge porque durante esse período crítico do desenvolvimento humano, os indivíduos estão particularmente sensíveis a mudanças ambientais e a qualquer trauma que as mães possam ter vivenciado.
Este capítulo objetiva trazer ao leitor os conceitos-chave que envolvem a alimentação materna e a relação com a epigenética, em específico, com a DNAm da prole.