Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- reconhecer os aspectos que envolvem a avaliação nutricional no paciente em período pré-operatório;
- identificar o paciente em risco nutricional em período pré-operatório;
- discutir a suplementação nutricional pré-operatória;
- destacar a importância da suplementação pré-operatória;
- relacionar as indicações da suplementação oral pré-operatória;
- reconhecer a necessidade de iniciar precocemente a terapia nutricional oral (TNO) no paciente em período pré-operatório.
Esquema conceitual
Introdução
Não é recente o reconhecimento do papel da nutrição na cirurgia. Há tempos, foi estabelecida a necessidade de diagnosticar e propor intervenções a pacientes que estão em risco de desnutrição como fator de proteção contra complicações cirúrgicas.1
O primeiro efeito adverso da desnutrição foi documentado há mais de 80 anos, quando Hiram Studley demonstrou que, em pacientes submetidos a cirurgia de úlcera duodenal perfurada, a mortalidade pós-operatória foi 10 vezes maior nos que perderam mais de 20% do peso corporal no período pré-operatório quando comparados aos que perderam menos.1 A relevância desse estudo proporcionou o olhar atento para o potencial da nutrição antes da cirurgia, alertando para a necessidade do diagnóstico precoce da desnutrição.
Pesquisas com pacientes submetidos a cirurgias revelam dados que corroboram a importância da intervenção nutricional precoce. Conforme essas investigações, a diminuição do consumo alimentar estava associada a um atraso na alta hospitalar por aproximadamente um dia ou mais, e a perda ponderal estava associada a uma razão de chances ligeiramente maior para óbito hospitalar em pacientes cirúrgicos em comparação com pacientes não cirúrgicos.2,3
A European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) publicou diretrizes baseadas em evidências atualizadas sobre nutrição perioperatória que auxiliam o cuidado nutricional do paciente cirúrgico.4
Em 2018, foi publicado um documento referente ao posicionamento de especialistas da ESPEN que aborda os cuidados nutricionais e metabólicos ideais na prática perioperatória, fundamentados nas principais causas e consequências da desnutrição pré-operatória e nas abordagens de tratamento disponíveis nos períodos pré e pós-operatórios.4
Em tempos remotos, o preparo requerido ao paciente no pré-operatório exigia jejum prolongado, amplificando o catabolismo já previsto pela cirurgia. Atualmente, esse paradigma foi interrompido pela proposta de abreviação do tempo de jejum pré-operatório (antes igual ou superior a 8 horas) para 1 a 2 horas. A nova prática está entre as diretrizes publicadas em guidelines citados e é fundamentada em evidências científicas que comprovam associação com melhor resposta ao estresse cirúrgico.5
Outra medida recentemente estimulada é a alimentação precoce do paciente após a cirurgia, com o objetivo de atenuar possíveis perdas musculares, auxiliar na recuperação funcional imediata, promover estímulo da função gastrintestinal, como também proporcionar alívio da dor.5–8 Essas intervenções visam minimizar possíveis complicações pós-operatórias, reduzir o tempo de internação hospitalar, bem como readmissões hospitalares pós-alta.
Nutricionistas que atuam na assistência a pacientes cirúrgicos devem estar atentos aos riscos nutricionais, a fim de minimizar possíveis complicações e contribuir com a recuperação clínica. Dessa forma, esse profissional exerce papel relevante na equipe multiprofissional e pode subsidiar decisões quanto ao manejo terapêutico ao qual seus pacientes serão submetidos, otimizando a recuperação cirúrgica.