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ALTERAÇÕES HEPÁTICAS EM EXPOSIÇÕES OCUPACIONAIS: RASTREAMENTO E CONTROLE

Autores: Dvora Joveleviths, Sheila de Castro Cardoso Toniasso, Maria Carlota Borba Brum
epub-BR-PROMEDTRAB-C3V3_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • identificar os aspectos epidemiológicos relacionados à lesão hepática;
  • caracterizar a doença hepática;
  • conceituar a hepatotoxicidade e a doença hepática ocupacional e ambiental (DHOA), bem como a doença hepática gordurosa tóxica/esteato-hepatite associada a tóxicos (TAFLD/TASH) (do inglês, toxicant-associated fatty liver disease/toxicant associated steatohepatitis);
  • identificar os fatores de risco ocupacionais para a hepatotoxicidade;
  • estabelecer o diagnóstico relacionado à hepatotoxicidade;
  • diferenciar a hepatotoxicidade de outras etiologias frente a uma exposição ocupacional;
  • orientar, controlar e tratar a doença hepática conforme necessário;
  • indicar a prevenção da doença hepática por meio de um fluxograma.

Esquema conceitual

Introdução

O fígado é a maior glândula do corpo humano e está associado a funções vitais metabólicas do organismo, sendo fundamental para o equilíbrio bioquímico. Está associado a reações metabólicas de carboidratos, lipídeos e proteínas, tendo papel determinante na síntese de aminoácidos não essenciais.1 Além disso, participa da cascata de coagulação do sangue por meio da síntese de protrombina e de fatores de coagulação de acordo com a disponibilidade de vitamina K. O hepatócito é a célula hepática responsável pela maior parte das funções metabólicas e de transporte do fígado. Destacam-se, como suas principais funções:

 

  • processamento de aminoácidos, carboidratos, lipídeos e vitaminas provenientes da dieta;
  • remoção de microrganismos e toxinas oriundos da circulação esplâncnica;
  • síntese de várias proteínas séricas, como os fatores de coagulação e a albumina;
  • degradação dos hormônios;
  • biotransformação, detoxificação e excreção biliar de xenobióticos.

O termo “hepatotoxicidade” é definido como lesão no fígado desencadeada pelo uso de fármacos, plantas e xenobióticos.

O dano hepático é induzido por um amplo espectro de substâncias que vão desde fármacos, suplementos dietéticos até produtos químicos que promovem o dano ambiental, incluindo os agrotóxicos. Por essas razões, o estudo da hepatotoxicidade e o estabelecimento do nexo, quando longos períodos de exposição a baixos níveis dessas substâncias estão em questão, é um grande desafio para o médico do trabalho. Muitas vezes, os trabalhadores apresentam-se em estágio avançado de hepatopatia de causa indeterminada, e a história de alcoolismo ou de hepatite viral, que pode estar associada à síndrome metabólica, pode confundir ainda mais o diagnóstico.2

O fígado é suscetível à ação de produtos químicos ambientais e/ou ocupacionais graças a seu papel central na metabolização de 95% desses compostos. Muitos desses produtos são degradados e neutralizados; outros, porém, podem resultar em metabólitos mais tóxicos do que os originais, o que leva à lesão hepática.

É reconhecida a hepatotoxicidade do tetracloreto de carbono (CCI4), do trinitrotolueno (TNT) e de alguns produtos químicos industriais, embora os prováveis danos ocupacionais sejam raramente suspeitados ou corretamente diagnosticados, já que, geralmente, a lesão hepática decorrente de exposição industrial pode ocorrer em razão da combinação de várias substâncias químicas, e as alterações clínico-laboratoriais variam desde achados inespecíficos até o desenvolvimento de hepatite fulminante, cirrose e câncer.3

A DHOA é um conceito que envolve a lesão hepática relacionada à exposição ocupacional e ambiental.4,5

Alguns importantes conceitos estão intimamente ligados à DHOA, seja por compartilharem os mecanismos de lesão hepática ou por surgirem em um contexto ocupacional. É o caso da doença hepática induzida por drogas (DHID) (do inglês, drug-induced liver injury — DILI) e da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) (do inglês, nonalcoholic fatty liver disease — NAFLD), hoje também conhecida como doença hepática gordurosa metabólica (MAFLD) (do inglês, metabolic-associated fatty liver disease) e, quando envolvida com produtos químicos, como TAFLD/TASH.4,5

A lesão hepática aguda ou crônica decorrente de exposição a químicos industriais não difere, clínica ou histologicamente, daquela induzida por medicamentos, fitoterápicos, suplementos, álcool ou drogas.

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