- Introdução
Didaticamente, os pilares da visão tradicional da anestesia são analgesia, hipnose, imobilidade e controle autonômico. Tal estrutura de pensamento é relativamente moderna. Até a década de 1960, quando houve a criação do primeiro opioide sintético (fentanil), os objetivos da anestesia geral de hipnose, imobilidade e estabilidade hemodinâmica eram alcançados com altas doses de anestésico inalatório e de hipnóticos, tais como tiopental sódico. Como consequência do uso desses fármacos, eram observadas grandes alterações hemodinâmicas.
A partir de 1960, com a síntese do fentanil e a subsequente popularização dos opioides, foi possível o aperfeiçoamento da anestesia, especialmente para cirurgias de grande porte, com satisfatório controle das repercussões hemodinâmicas quando da associação de fentanil a anestésicos inalatórios. Nessa época, buscava-se a chamada stress-free anesthesia, dando início à era da anestesia fundamentada em altas doses de opioides. Contudo, um novo cenário na prática anestésica está em construção.
A anestesia livre de opioides ainda é um tema controverso. Devido à escassez de literatura específica, a adoção mais usual da técnica ainda encontra limitações, razão pela qual é individualizada, de acordo com cada paciente e procedimento. Por isso, o estudo da anestesia livre de opioides representa uma oportunidade de traçar estratégias de redução no uso desses fármacos, em uma abordagem denominada anestesia poupadora de opioides. Em tal perspectiva, a anestesia livre de opioides, bem como um espectro de sua aplicação — a anestesia poupadora de opioides —, será objeto de estudo deste artigo.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- explicar o contexto associado à técnica de anestesia livre de opioides;
- identificar os pacientes e cenários associados a maior potencial de benefícios perioperatórios com o uso da anestesia livre de opioides;
- descrever os principais fármacos utilizados;
- prever complicações e desafios durante o uso da técnica;
- construir visão crítica sobre o tema, atentando para limitações e possíveis mudanças de paradigmas;
- fortalecer a importância da visão global ao paciente cirúrgico, envolvendo os momentos pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório (POpós-operatório).
- Esquema conceitual