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ANTIBIOTICOTERAPIA PROFILÁTICA EM UROLOGIA

Autores: José Carlos Souza Trindade Filho, Rafael Nakamura Atolino, Fernando Ferreira Gomes Filho, Carlos Márcio Nóbrega de Jesus
Antibioticoterapia profilática em urologia - Secad

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • descrever a profilaxia antimicrobiana correta em procedimentos urológicos invasivos;
  • indicar a antibioticoterapia profilática, a dose adequada do fármaco, a dinâmica da difusão tecidual do antimicrobiano e o tempo adequado para administração prévia ao procedimento;
  • avaliar a manutenção do nível plasmático e a segurança na descontinuação do fármaco após o procedimento urológico;
  • diferenciar profilaxia de tratamento empírico.

Esquema conceitual

Introdução

As infecções de sítio cirúrgico (ISC) são responsáveis por aproximadamente 12% das infecções nosocomiais e 40% das infecções cirúrgicas, além de estarem associadas a internações prolongadas, maior morbidade (como retardo de cicatrização, deiscência, infecção, sepse), custos hospitalares aumentados e maior mortalidade.1–3 O paciente internado que adquire ISC tem 60% de chance de atendimento em unidade de terapia intensiva, maior risco de reinternação em até 30 dias (até 15 vezes) e aumento do período de internação de 6 a 10 dias.4,5

Vários fatores influenciam a ocorrência de ISC, como o local de inoculação, a virulência bacteriana, a capacidade de defesa, a imunidade do hospedeiro e os cuidados peri e intraoperatórios. Do ponto de vista epidemiológico, considera-se ISC quando ocorre a infecção em até 30 dias de pós-operatório (ou em até 1 ano quando há implante). A ISC é classificada como superficial (envolvendo pele e subcutâneo), profunda (tecidos moles) ou do órgão/espaço.6

A ocorrência de bactérias resistentes a múltiplos antibióticos é responsável pelo aumento de infecções hospitalares e, além de acometer até 3% dos pacientes hospitalizados nos Estados Unidos, também está associada a maior mortalidade.4,7

Patógenos multirresistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina, Enterococcus resistente à vancomicina, Escherichia coli com espectro estendido para β-lactamase e Candida spp., também estão implicados em infecções de feridas cirúrgicas.8 O uso prolongado de antibióticos está associado ao risco de infecção com Clostridioides difficile.9

A resistência antimicrobiana é um desafio global que não respeita fronteiras geopolíticas. Embora seja um fenômeno natural, houve uma aceleração de sua ocorrência nas últimas décadas.10–12 De acordo com estudos recentes, ocorreram 33 mil mortes por bactérias multirresistentes na União Europeia em 201510 e 35 mil nos Estados Unidos. Em 2019, 2,8 milhões de pacientes apresentaram infecções multirresistentes.11 Esses números mostram que o problema se agravou nos últimos anos, pois, em relatório semelhante de 2013, a estimativa era de 2 milhões de infectados e 23 mil óbitos.12

Vários fatores contribuem para a ocorrência de resistência antimicrobiana, como excessivas prescrições clínicas desnecessárias, consumo inadequado de antibióticos, uso extensivo de antimicrobianos na produção pecuária e uso desnecessário e excessivo em cirurgias com grupo farmacológico, dose e tempo de administração inadequados.13,14

Para disciplinar o uso de antimicrobianos, há o desenvolvimento coordenado de campanhas globais, governamentais e institucionais.13 Esses programas, como o Projeto para Melhoria da Atenção à Cirurgia,15 envolvem equipes multidisciplinares, treinamento de profissionais e divulgação de relatórios estruturados.16 Entre essas medidas, há que se destacar a instituição de protocolos para profilaxia antimicrobiana.

As principais indicações para profilaxia estão voltadas para pacientes imunocompetentes, pacientes com doenças como infecção do trato urinário recorrente ou em procedimentos invasivos. Esses programas, quando implantados corretamente, demonstraram o benefício do uso racional dos antibióticos sem que haja aumento do risco de reinternações ou óbitos.17 Segundo relatório do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, as ISC diminuíram em 7% entre 2015 e 2019 com o uso de protocolo estruturado.11

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