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ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS EM PSIQUIATRIA

Lucas Alves Pereira

Ricardo Henrique-Araújo

Eduardo Pondé de Sena

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • indicar os aspectos históricos da introdução dos ADTs na prática clínica;
  • classificar os ADTs quanto às suas especificidades e reconhecer as principais diferenças entre os membros desse grupo de fármacos;
  • identificar as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas e as possíveis interações farmacológicas envolvendo os ADTs;
  • descrever as principais indicações clínicas dos ADTs, os cuidados necessários para a prescrição e os principais efeitos adversos;
  • reconhecer as peculiaridades do uso dos ADTs em situações especiais.

Esquema conceitual

Introdução

Na primeira metade do século XX, os recursos farmacológicos para o tratamento das depressões eram limitados a agentes sintomáticos específicos, como hidrato de cloral, barbitúricos, anfetaminas e opioides.1 Ao longo da década de 1950, a chamada década de ouro da psicofarmacologia, foram introduzidos os primeiros medicamentos psiquiátricos, como clorpromazina, iproniazida e imipramina, os dois últimos agentes antidepressivos (ADs), cuja descoberta tornou a depressão uma doença passível de tratamento farmacológico.2,3

A isoniazida e a iproniazida, a partir de 1951, causaram uma revolução no tratamento da turberculose, salvando os pacientes que não respondiam bem à estreptomicina. A iproniazida teve seus efeitos descobertos graças às observações clínicas durante o seu uso como tuberculostático, pois muitos pacientes mostravam mais vitalidade e interesse em atividades sociais.4

Os primeiros resultados que mostraram efeitos positivos da isoniazida foram feitos por Salzer e Lurier, em 1953.4 Essas medicações são os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs), e é possível considerar que eles foram os primeiros ADs. De início, foram chamados de “timoanalépticos”, haja vista que o termo “antidepressivo” foi criado depois por Delay e colaboradores.5 Somente em 1957, Kline apresentou seu trabalho acerca da eficácia da iproniazida em pacientes deprimidos não tuberculosos, e o trabalho foi publicado no ano seguinte.6

Em 1956, o psiquiatra suíço Roland Kuhn, ao testar uma das várias substâncias derivadas do iminodibenzil (G 22335 — laboratório Ciba Geigy), estruturalmente similar à clorpromazina, mas que não havia demonstrado efeito neuroléptico, observou efeitos comportamentais distintos.7 A substância, depois chamada de imipramina, foi capaz de melhorar o estado do humor de três pacientes gravemente deprimidos.

Em seguida, Kuhn ministrou a imipramina a 37 pacientes deprimidos, constatando sua eficácia antidepressiva. Os dados foram apresentados no ano seguinte por ocasião do Segundo Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em Zurique, Suíça, em 1957, e publicados no American Journal of Psychiatry em 1958.7

De acordo com Kuhn:7

Os pacientes acordam de manhã por vontade própria, falam mais alto e mais rapidamente, sua expressão facial se torna mais viva. Eles iniciam alguma atividade por conta própria, novamente buscando contato com outras pessoas, começam a se divertir, participam de jogos, ficam mais alegres e são mais uma vez capazes de rir.

Os antidepressivos tricíclicos (ADTs), por sua vez, foram os principais ADs utilizados na prática psiquiátrica, de 1957 até 1987, quando foram introduzidos os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS).8

Neste capítulo serão discutidos aspectos históricos, farmacológicos e clínicos dos ADTs, com especial ênfase naqueles disponíveis no Brasil.

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