- Introdução
Este artigo tem por objeto de investigação a aplicabilidade da Teoria Humanística de Paterson e Zderad aos cuidados de enfermagem realizados à criança/ao adolescente vítima de violência intrafamiliar e a sua família nas unidades de emergência.
Relata-se que, apesar de haver uma abordagem da violência contra a criança/o adolescente em um contexto abarcando perspectivas econômicas, políticas e sociais, a violência doméstica é a principal forma de manifestação da violência infantil, sendo a mais reconhecida e identificada pelos profissionais de saúde, inclusive aqueles que trabalham em equipes de saúde da família.1
O enfermeiro, que, na maioria das vezes, é o profissional responsável pelo primeiro atendimento hospitalar, necessita estar apto para detectar e decodificar os sinais e sintomas entre crianças e adolescentes vítimas de violência, cabendo ouvi-los, prestar-lhes cuidados e prosseguir com suas ações, para que ocorram os encaminhamentos dos casos ao Conselho Tutelar, a hospitais de referência ou a outros membros da equipe multiprofissional.1
Afirma-se que o contato cotidiano com a violência contra a criança pode ser capaz de despertar no enfermeiro um estado de atenção que o mobiliza a identificar sinais de alerta para detectá-la. A constatação da violência pelo enfermeiro na atualidade apoia de forma veemente a necessidade do uso de protocolos de atendimento institucionais que contribuam para minimizar erros na identificação desses casos e de uma rede de apoio ao profissional para cuidar melhor das vítimas e suas famílias.2
No que se reporta à Teoria Humanística, verifica-se que foi criada por Josephine E. Paterson e Loretta T. Zderad, que publicaram o livro Humanistic Nursing, em 1976, sendo posteriormente republicado em 1988. Acredita-se que essa teoria pode desenvolver-se a partir das experiências vivenciadas pela enfermeira e por seu cliente.3
De acordo com Praeger e colaboradores,3 “nesse caso, a enfermagem humanística surge como uma possível resposta ao movimento humanístico na psicologia”. Essa teoria tem por objetivo oportunizar uma visão mais extensa do ser humano, tentando entendê-lo a partir de suas experiências de vida exatamente porque “a prática da enfermagem humanística está enraizada no pensamento existencial”.
Verifica-se que a violência intrafamiliar contra a criança e o adolescente é um dos fenômenos sociais mais complexos e preocupantes do mundo atual. Mesmo nos dias atuais, com políticas públicas voltadas para a saúde da criança e do adolescente, percebe-se que não se consegue evitar todo esse massacre infantil. Ainda é notório e simultaneamente triste reconhecer que a violência intrafamiliar tem sido constatada de forma sistemática por meio de seus diversos tipos, como as violências sexual, física e psicológica e o abandono e a negligência. Essas violências podem ser praticadas de forma individual ou não, em geral, por mãe, pai, responsável, companheiro, padrasto, madrasta, conhecidos e pessoas com algum tipo de vinculação com a criança ou o adolescente.4
Por essa razão, no cuidado a crianças/adolescentes vítimas de violência intrafamiliar, é importante que o enfermeiro também esteja atento aos sinais ocultos, ou seja, ao choro ou à agitação, ou a algum outro tipo de sinal que indique que algo aconteceu, visto que nem sempre a criança ou adolescente falam abertamente sobre o ocorrido, sendo ressaltado que, na grande maioria dos casos, as agressões ocorrem dentro de suas residências, cometidas por seus pais e/ou irmãos.4
Considerando que as experiências pessoais dos autores deste artigo revelam que a violência intrafamiliar é causa frequente de atendimentos e de internações de crianças nas unidades primárias, secundárias e terciárias do setor saúde, indo ao encontro de uma expectativa de prestação de atendimento qualificado e holístico por parte do enfermeiro, essas perspectivas justificam a elaboração deste texto.
Esse panorama, além de justificar, constituiu a principal motivação para instigar e ampliar o debate sobre a atuação da equipe de enfermagem junto à criança/ao adolescente vitimados com a violência intrafamiliar, como também sobre as dificuldades e os desafios que esses profissionais encontram perante situações dessa natureza.
Dessa forma, este artigo tem como questões norteadoras:
- Quais são as condutas que a equipe de enfermagem pode realizar para oferecer bem-estar à criança/ao adolescente vítima de violência intrafamiliar na unidade de emergência?
- Quais são as dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem no momento em que assiste crianças/adolescentes vítimas de violência intrafamiliar e suas famílias na unidade de emergência?
- Como a Teoria Humanística de Paterson e Zderad pode contribuir para a melhoria do cuidado de enfermagem prestado à criança/ao adolescente vítima de violência intrafamiliar e sua família na unidade de emergência?
Releva-se o caráter do estudo a suas possibilidades de contribuição para pesquisa em enfermagem, uma vez que amplia o acervo bibliográfico existente sobre o tema.
Cabe ao enfermeiro e sua equipe não apenas perceber a violência intrafamiliar supostamente sofrida por uma criança ou um adolescente, mas também implementar ações de promoção, prevenção e tratamento adequado possíveis por meios da tomada de condutas específicas e do fornecimento de orientações necessárias. Desse modo, espera-se também que o artigo possa contribuir para a melhoria na assistência de enfermagem à criança e ao adolescente vítima de violência intrafamiliar, possibilitando a identificação de problemas vivenciados pelas famílias dessas crianças e adolescentes, e para a diminuição ou extinção da incidência de casos de crianças e adolescentes maltratados no cenário brasileiro atual.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- relacionar as condutas que a equipe de enfermagem pode realizar para proporcionar bem-estar à criança e ao adolescente que sofreu violência intrafamiliar na unidade de emergência;
- descrever as dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem no momento em que assiste as crianças/os adolescentes vítimas de violência intrafamiliar e suas famílias na unidade de emergência;
- perceber que a criança/o adolescente vítima de violência intrafamiliar e sua respectiva família devem ser considerados como seres humanos, a partir de suas experiências de vida, à medida que a prática da enfermagem humanística está enraizada no pensamento existencial;
- analisar a aplicabilidade da Teoria Humanística de Paterson e Zderad ao cuidado prestado à criança/ao adolescente vítima de violência intrafamiliar e sua família na unidade de emergência.
- Esquema conceitual