- Introdução
O parto e o nascimento mantêm sua aura de mistério, apesar do conhecimento produzido e circulante nos mais diversos meios. Quando se fala em parto iminente vem à tona um misto de sensações que remetem ao medo de se aproximar de uma experiência que surge inesperadamente, pouco conhecida, ligada à vida, mas também à possibilidade de morte. Nessas ocasiões, frequentemente surge o questionamento: o que fazer? Ou melhor, o que fazer em primeiro lugar?
A situação do nascimento iminente, quando não faz parte do fazer cotidiano, traz a sensação de que há informações insuficientes, inadequadas e pouco atualizadas sobre o assunto. As práticas que vêm à mente nessas ocasiões para pessoas leigas são desordenadas e muitas vezes fantasiosas, como a possibilidade de nascimento logo após a ruptura das membranas ovulares sem que a mulher tenha passado por um trabalho de parto. Ou a possibilidade de o recém-nascido (RNrecém-nascido) não estabelecer sua oxigenação extrauterina caso o cordão não seja seccionado imediatamente.
Na busca de material para a organização deste artigo, foram encontradas poucas descrições de assistência ao parto iminente, e nenhum artigo científico nacional foi indexado nos últimos 10 anos. Em publicações internacionais, foram encontrados protocolos e diretrizes para atenção ao parto iminente onde essa prática está incluída na rede de serviços de saúde oferecidos. As publicações encontradas sempre descrevem procedimentos que requerem a utilização de materiais, equipamentos e medicamentos comumente utilizados em ambientes hospitalares ou em serviços de atendimento móvel de urgência (SAMUserviço de atendimento móvel de urgência).
Na atualidade, partos e nascimentos ocorrem predominantemente em instituições hospitalares. No Brasil, em 2015, menos de 2% dos nascimentos ocorreram fora de instituições hospitalares,1 ou seja, 47.704 cidadãos nascidos em domicílio, aldeias ou outros locais. O baixo percentual de nascimentos extra-hospitalares não diminui a importância do assunto, uma vez que o parto iminente também ocorre dentro das instituições de saúde não organizadas para o atendimento de partos.
Neste artigo, serão discutidas práticas relacionadas com o parto iminente direcionadas para profissionais da saúde que não atuam diretamente na assistência ao parto e ao nascimento, mas que eventualmente necessitam prestar cuidados nessas situações. Propõe-se, também, oferecer subsídios a socorristas ou outros profissionais que possam ser surpreendidos a auxiliar em nascimentos que ocorram em ambiente extra-hospitalar (ruas, táxis, ônibus, domicílios, entre outros) até a chegada do SAMUserviço de atendimento móvel de urgência, prevenindo agravos de saúde para a mãe e para o bebê. Alguns mitos sobre situações relacionados com o cordão umbilical, bolsa das águas, posição e local de parto serão abordados, com a finalidade de subsidiar as práticas com base em evidências científicas.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- descrever os contextos de parto iminente, bem como cada período clínico do parto;
- empregar o passo a passo para a assistência ao parto iminente;
- explicar sobre os cuidados com o RNrecém-nascido;
- identificar situações de urgência que necessitam de transporte imediato;
- orientar quanto aos mitos relacionados com o parto e com o parto iminente;
- identificar um parto iminente, colocando-se junto à mulher e assistindo-a de forma segura.
- Esquema conceitual