Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar a definição, a classificação e a etiologia da desnutrição e da caquexia em pacientes com câncer;
- listar os critérios para a identificação e o diagnóstico da desnutrição e da caquexia oncológica;
- associar as características do câncer com o desenvolvimento da desnutrição e da caquexia;
- discutir o impacto da desnutrição e da caquexia em pacientes oncológicos;
- reconhecer a relevância da prevenção e do tratamento da desnutrição e da caquexia em pacientes oncológicos;
- identificar as recomendações nutricionais para pacientes oncológicos com níveis de desnutrição e caquexia;
- descrever as possibilidades de tratamento para a desnutrição e a caquexia em pacientes com câncer.
Esquema conceitual
Introdução
A desnutrição é uma condição com etiologia variada, uma vez que pode ser decorrente de doenças, fome ou envelhecimento.1 Essa condição vem sendo investigada e discutida há muito tempo; existem registros sobre o impacto do comprometimento nutricional na qualidade de vida que datam de mais de 2 mil anos.2
Hipócrates é conhecido pela crença de que a medicina teve sua origem nos distúrbios nutricionais. Além disso, em suas observações, ele verificou que dietas semelhantes não se adequam ao homem tanto na saúde quanto na doença.2 Em 176 d.C., Claudio Galeno publicou o primeiro estudo sobre desnutrição, no qual elencou três principais causas para a condição: jejum, envelhecimento e febre. Já nessa época, ele observou que os casos de desnutrição causados por envelhecimento e doenças seriam os mais difíceis de tratar, já que apenas a alimentação não conseguiria reverter o quadro nutricional.2
Ao longo dos anos, estudos vêm discutindo o impacto da desnutrição em desfechos clínicos diversos, como mortalidade e readmissão hospitalar. Tem sido verificado, sobretudo, o impacto dessa condição nos custos hospitalares. Isso evidencia a importância de identificar, documentar e tratar a desnutrição com abordagens multidisciplinares.2
Compreender a desnutrição nos pacientes oncológicos é primordial, pois esse grupo é mais suscetível a desenvolver desnutrição do que os pacientes de qualquer outra especialidade médica. No mundo, de 25 a 70% dos indivíduos com câncer apresentam desnutrição.3 No Brasil, em um estudo com 4.700 pacientes oncológicos, foram identificadas as taxas de 45,3% moderadamente desnutridos e 11,8% gravemente desnutridos. A maior frequência de desnutrição estava associada a cânceres de trato gastrintestinal (TGI), pulmão, cabeça e pescoço.4
A caquexia é um tipo de desnutrição associada à doença; o câncer é uma das muitas doenças crônicas relacionadas a ela. Essa condição leva a disfunção progressiva, alto risco de morbidade e mortalidade e aumento de complicações cirúrgicas.5 A caquexia está presente em aproximadamente 50% dos pacientes com câncer avançado. Sua identificação precoce e seu manejo no câncer são grandes desafios para a equipe multiprofissional.6
Os tratamentos quimioterápico e radioterápico frequentemente induzem efeitos como:5
- anorexia;
- náusea;
- vômitos;
- diarreia;
- mucosite;
- anemia;
- imunossupressão.
Essas condições contribuem para a piora nutricional. Como nem todos os pacientes respondem de forma igual ao tratamento, estratégias multimodais para enfrentar tanto a ingestão reduzida quanto as mudanças metabólicas têm sido pesquisadas para melhorar a função e a qualidade de vida.5
Com base em dados recentes da literatura, McGovern e colaboradores7 sugerem que a caquexia do câncer, também denominada caquexia oncológica, deva ser vista sob a perspectiva de uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica; esse entendimento abre novos horizontes para seu tratamento, conforme será amplamente discutido neste capítulo.