Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- atualizar-se sobre as práticas de cuidado baseadas em evidências relacionadas à COVID-19;
- revisar as principais atualizações sobre a COVID-19;
- prevenir e controlar a infecção por COVID-19 na urgência e emergência pré e intra-hospitalar;
- propor medidas para o cuidado a pacientes com COVID-19 moderada a grave.
Esquema conceitual
Introdução
Os coronavírus são uma grande família de vírus comuns que parasitam muitas espécies de animais. Esses vírus, que raramente infectam animais, podem infectar pessoas, tendo como exemplo o coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV).1
Em dezembro de 2019, ocorreu a transmissão e a rápida disseminação de pessoa para pessoa de um novo coronavírus: o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2), o qual foi identificado em Wuhan na China, sendo a doença mundialmente chamada de doença do coronavírus 2019 (COVID-19).1
A sigla COVID vem do nome em inglês para coronavirus disease, que literalmente quer dizer doença do coronavírus. Já o número 19 diz respeito ao ano em que a doença foi identificada pela primeira vez: no final de 2019.1
Nos últimos 15 anos, os vírus respiratórios mostraram que não são causadores apenas de infecções de vias aéreas superiores, mas também de infecções em vias aéreas inferiores — como bronquiolite, bronquite, pneumonia e até mesmo síndrome respiratória aguda grave (SARS) —, que nada mais são do que pneumonias graves e que podem levar à insuficiência respiratória aguda, necessitando de uso de ventilação mecânica não invasiva (VMNI) ou ventilação mecânica invasiva (VMI), apresentando alta letalidade.1
Além das epidemias causadas por coronavírus, os vírus da Influenza — entre eles, o Influenza virus (H1N1), responsável pela epidemia em 2009 — são os principais vírus respiratórios causadores de SARS. Outros vírus respiratórios, como o vírus sincicial respiratório (VSR) e os rinovírus, também podem causar pneumonia viral.1
Desde a notificação da COVID-19, os pesquisadores e especialistas de todo o mundo se voltaram para a construção de conhecimento para o enfrentamento da doença em todos os continentes, visto que o meio de transmissibilidade e letalidade do vírus tem preocupado todas as esferas sociais.
Segundo Dias e colaboradores, os coronavírus descobertos em aves domésticas na década de 1930 causam doença respiratória, gastrintestinal, hepática e neurológica nos animais. Hoje em dia, são sete os coronavírus que causam infecções em humanos. Quatro desses causam sintomas de resfriados comuns, mais frequentemente. Todavia, três dos sete coronavírus causam infecções respiratórias mais graves nos humanos, por vezes fatais. Esses últimos estão relacionados a grandes surtos de pneumonia graves no século XXI.1
A COVID-19 é caracterizada como uma SARS e rapidamente foi decretada uma pandemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início de 2020. Logo que isso ocorreu, os órgãos públicos de saúde estavam em alerta sobre a velocidade de disseminação e transmissão do novo coronavírus.2
Em um cenário em que o desconhecido impossibilitava definir terapias medicamentosas eficazes para a prevenção e o tratamento da doença, as medidas de higiene pessoal e isolamento social foram excessivamente enfatizadas pelos órgãos de saúde de todo o mundo como as únicas medidas eficazes no desaceleramento da disseminação e transmissão da doença, em especial, no contexto social.2
O SARS-CoV-2 é dotado de proteínas virais em sua superfície externa que facilitam a ligação às células hospedeiras por meio da enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2). Trata-se de um betacoronavírus com fita simples de RNA. O mapeamento genômico mostrou que o SARS-CoV-2 está intimamente relacionado ao coronavírus 1 (SARS-CoV-1) e ao MERS-CoV, identificados antes na China e no Oriente Médio, respectivamente. Por essa semelhança estrutural com outros vírus, diversas terapias antivirais têm sido testadas em ensaios clínicos.3
Desde 5 de dezembro de 2020, mais de 66 milhões de casos da COVID-19 foram relatados globalmente, incluindo mais de 1,5 milhão de mortes. Os idosos acima de 60 anos, institucionalizados em asilos, casas de repouso e casas de saúde, as pessoas com condições médicas crônicas degenerativas, as grávidas, os transplantados e os portadores de neoplasias, doenças renais, obesidade e outras condições imunocomprometedoras estão sob o risco de desenvolver a forma grave da doença.4
Apenas 20% das pessoas estão sob maior risco de adquirir a forma grave da doença, que são idosos, transplantados, pessoas com câncer, pessoas com condições médicas preexistentes e demais imunocomprometidos. No entanto, a transmissibilidade do vírus é muito alta e, com isso, a capacidade de disseminação acelerada tem causado muitas mortes.
No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) é o órgão responsável pela emissão do Boletim Epidemiológico, editado pela Secretaria de Vigilância em Saúde em âmbito nacional. Trata-se de uma publicação de caráter técnico-científico, de acesso livre e formato eletrônico com periodicidade mensal e semanal para os casos de monitoramento e investigação de doenças específicas sazonais. Os dados epidemiológicos da COVID-19 são publicados no boletim com atualização periódica.5
Até a semana epidemiológica de 4 a 30 de janeiro de 2021, foram confirmados 102.016.862 casos de COVID-19 no mundo. Os Estados Unidos foram o país com o maior número de casos acumulados, gerando em torno de 26.074.885 casos, seguido pela Índia com 10.746.174, pelo Brasil com 9.176.975, pelo Reino Unido com 3.806.993 e pela Rússia com 3.790.265 casos.5
Em relação aos óbitos e referente à mesma semana epidemiológica do boletim de 4 a 30 de janeiro de 2021, foram confirmados 2.208.389 casos no mundo até o dia 30 de janeiro de 2021. Os Estados Unidos apresentaram o maior número acumulado, chegando em torno de 439.530 óbitos, seguido do Brasil com 223.945, do México com 158.074, da Índia com 154.274 e do Reino Unido com 105.777 óbitos, respectivamente.5
Porém, para uma análise mais crítica desses casos, é usado o coeficiente de incidência bruta, que relaciona o número de casos com a população total e, nesse aspecto, o Brasil apresentou uma taxa de 43.337,6 casos para cada 1 milhão de habitantes, não estando presente na lista dos 20 países de maior incidência para a referida doença.5
No coeficiente de mortalidade, o Brasil apresentou 1.057,6 óbitos/1 milhão habitantes, ocupando a vigésima posição no ranking mundial da mortalidade pela COVID-19. Vale ressaltar a ocorrência de atualização periódica dos dados e a disponibilização digital para consultas.5
Nesse cenário de caos social, inúmeros foram os desafios vivenciados pela comunidade dos profissionais de saúde na pandemia pelo novo coronavírus, uma vez que se tratava inicialmente de algo desconhecido e com várias hipóteses de disseminação e contágio.6
Nesse cenário de incertezas e com uma série de publicações em massa acerca da COVID-19, um plano estratégico de preparação e resposta foi elaborado pela OMS para minimizar os impactos da pandemia e, ao mesmo tempo, auxiliar as partes interessadas no desenvolvimento de uma abordagem sistematizada, que pudesse garantir mais segurança principalmente aos profissionais atuantes na linha de frente.6
Os principais objetivos desse plano foram diminuir a velocidade e deter a transmissão, fornecer o atendimento especializado a todos os pacientes e minimizar o impacto da epidemia nos sistemas de saúde, nos serviços sociais e nas atividades econômicas.6
A pandemia da COVID-19 levou a uma grave crise mundial sanitária, econômica, social e política e, desde o seu início até os dias atuais, vem exigindo atuação expressiva da enfermagem na assistência direta e/ou indireta à população.