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ATENDIMENTO EM SITUAÇÕES DE PICADAS POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NA TERAPIA INTENSIVA

Andréia Martins Specht

Deborah Hein Seganfredo

Flávia Feron Luiz

Naylanny Gonçalves Torres Cunha

Sofia Louise Santin Barilli

Vítor Monteiro Moraes

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • descrever o perfil epidemiológico de vítimas de acidentes com animais peçonhentos;
  • apresentar diagnóstico diferencial para cada tipo de animal envolvido;
  • identificar as manifestações clínicas de vítimas de animais peçonhentos;
  • indicar o tratamento de pessoas que sofreram picadas de animais peçonhentos no cenário da terapia intensiva.

Esquema conceitual

Introdução

A palavra peçonha deriva do latim potionare e remete a bebida ou líquido venenoso. Animais com peçonha são aqueles com capacidade de produzir e inocular substâncias tóxicas, seja como defesa contra predadores naturais ou como forma de ataque mais eficaz à presa.1

Esses animais produzem peçonha (veneno) em um grupo de células ou órgão secretor (glândula) e possuem ferramenta capaz de injetar o líquido venenoso em sua presa ou em seu predador. Tal aparato inoculador pode ser:1

 

  • presas — cobras;
  • aguilhão — escorpiões;
  • quelíceras — aranhas;
  • ferrões — abelhas.

Muitas espécies peçonhentas produzem substâncias altamente tóxicas e que podem levar a quadros de maior gravidade, inclusive ao óbito. Dessa forma, acidentes com tais animais representam uma grande preocupação à saúde pública, sendo classificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um tipo de doença tropical negligenciada.2

O crescimento populacional e a expansão urbana não planejada em áreas periféricas de grandes cidades e regiões metropolitanas acabam por mesclar áreas urbanas com o habitat natural de animais potencialmente perigosos. Assim, nesses territórios há uma coabitação entre humanos e animais silvestres, propiciando uma maior ocorrência de acidentes.3

A vulnerabilidade social de populações periféricas e a desinformação, especialmente de residentes em zonas rurais, são fenômenos intimamente ligados a acidentes com animais peçonhentos.3,4 A desinformação expõe essas populações em razão das condições insalubres de trabalho associadas ao uso deficitário de equipamentos de proteção individual nas atividades laborais.3

Os acidentes com animais peçonhentos também respeitam certa sazonalidade, relacionada ao comportamento de cada espécie animal. Acidentes ofídicos — causados por serpentes que, no Brasil, são mais conhecidas como cobras — ocorrem com maior frequência em temporadas chuvosas, pois as serpentes tendem a sair das regiões alagadas e acabam entrando em contato com humanos.4

Da mesma forma, os escorpiões, que são animais de hábitos noturnos e altamente adaptados ao ambiente urbano — o que justifica as elevadas e crescentes taxas de prevalência de acidentes com esses animais —, durante o dia, repousam debaixo de troncos e pedras, protegidos da luz e do sol forte. Assim, não são vistos por indivíduos que, desavisadamente, deparam-se com eles e acabam sendo atacados. O mesmo ocorre com algumas espécies de aranhas.5,6

Em razão da relevância epidemiológica, ao longo deste capítulo serão abordados mais detalhadamente os acidentes envolvendo serpentes, escorpiões, aranhas, lagartas e abelhas.