Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- iniciar o atendimento sistematizado ao paciente grande queimado;
- discutir a avaliação inicial da queimadura e da superfície corporal queimada (SCQ);
- identificar e demonstrar a ressuscitação hídrica no paciente grande queimado;
- discutir a sedação e a analgesia adequadas para o paciente grande queimado;
- reconhecer o manejo dos curativos e cuidados com feridas do paciente grande queimado;
- identificar hipermetabolismo, prurido, infecção secundária e outras potenciais complicações no paciente grande queimado;
- discutir o diagnóstico e o tratamento da lesão inalatória no paciente queimado;
- reconhecer o tratamento da vítima de choque elétrico;
- determinar a necessidade de transferência do paciente para um centro de queimados.
Esquema conceitual
Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as queimaduras sejam responsáveis por aproximadamente 180 mil mortes anualmente. Elas constituem a quinta causa mais comum de lesões não fatais na infância. Globalmente, os pacientes pediátricos representam quase metade dos casos de acidentes com queimaduras (42%). As queimaduras pediátricas acometem principalmente crianças pequenas (de 1 a 5 anos); essa faixa etária corresponde a 62% dos casos em indivíduos com idade menor ou igual a 18 anos.1
As taxas de morte infantil por queimadura são mais de sete vezes maiores em países de baixa e média renda do que naqueles de alta renda. Isso reflete as diferenças existentes no que se refere a exposição a fatores de risco e capacidade de atendimento.1
Com relação ao Brasil, nos últimos dois anos, foram registradas aproximadamente 14 mil hospitalizações de crianças e adolescentes no Sistema Único de Saúde (SUS) por acidentes com queimaduras. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ocorreram 6.924 casos em 2022 e 6.981 em 2023, com uma média 20 hospitalizações diárias por queimaduras na faixa etária de 0 a 19 anos. O levantamento focou apenas os casos graves, ou seja, aqueles com indicação de acompanhamento hospitalar.2
O prognóstico em longo prazo de crianças vítimas de queimaduras depende principalmente da abordagem inicial e do tratamento instituído, que podem reduzir a mortalidade, o número de complicações e cicatrizes e a necessidade de futuras cirurgias reconstrutivas. É importante que a avaliação inicial caracterize corretamente o tamanho e a gravidade das queimaduras, visando ao manejo e ao encaminhamento adequado para um centro especializado.
O manejo do grande queimado obedece ao ABCDE do trauma, com atendimento sistematizado, identificação, tratamento e reavaliação. Crianças com SCQ superior a 15% apresentam síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e necessitam de ressuscitação hídrica para prevenir o choque e a morte. Após a fase inicial, o tratamento das feridas e a atenuação do hipermetabolismo são importantes para um desfecho favorável.1
Neste capítulo, serão abordados os aspectos fundamentais do tratamento inicial para a melhora do prognóstico no manejo do paciente grande queimado.