Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- reconhecer o conceito de doença do refluxo gastresofágico (DRGE);
- discutir a fisiopatologia da DRGE e seus fatores de risco;
- identificar as manifestações clínicas e a evolução natural da DRGE e suas repercussões;
- reconhecer o processo de investigação diagnóstica da DRGE;
- discutir o planejamento terapêutico farmacológico e não farmacológico da DRGE, de acordo com a faixa etária.
Esquema conceitual
Introdução
O refluxo gastresofágico (RGE) é definido como a passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, associado ou não a regurgitação e vômito. O fluxo retrógrado do conteúdo gástrico do RGE pode ser considerado evento fisiológico tanto em crianças quanto em adultos, caso seja assintomático ou haja poucos sintomas relacionados. Em lactentes, o RGE fisiológico habitualmente não surge antes do primeiro mês e após o sexto mês de vida, tem resolução antes dos 2 anos, apresenta episódios de curta duração, além de não causar lesão no esôfago e outras complicações.1-4
A DRGE é considerada quando o retorno do conteúdo gástrico para o esôfago é acompanhado de sintomas e/ou complicações no esôfago e/ou outros sistemas. Além do relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior, outros fatores que podem ocasionar DRGE são menor pressão do esfíncter esofágico inferior, aumento da pressão intra-abdominal e maior intervalo de tempo para esvaziamento gástrico.1,2
O quadro clínico da DRGE é diverso e pode variar conforme a faixa etária da criança e se há comorbidades associadas. Os achados clínicos mais comuns da DRGE são queimação retroesternal e regurgitação. Também é possível a ocorrência de manifestações extraesofágicas, como rouquidão, erosão dentária, tosse crônica, asma e laringite.5,6
É importante ressaltar que o quadro clínico da DRGE é inespecífico e pode se sobrepor a outros agravos, como esofagite eosinofílica, dispepsia, acalasia e hérnia paraesofágica.5,6
Embora haja diversos exames complementares indicados para diagnosticar a DRGE em crianças, até o momento, nenhum é visto como padrão-ouro, por isso o diagnóstico é essencialmente clínico.7 A abordagem terapêutica da DRGE envolve modificações do estilo de vida, uso de medicamentos e, se indicada, intervenção cirúrgica, visando o controle dos sintomas e a prevenção de complicações.2