- Introdução
A cirrose hepática é a doença mais grave que acomete o fígado, e apresenta taxas crescentes de prevalência no Brasil e no mundo. Atualmente, a doença figura como oitava principal causa de morte entre homens, sendo uma causa importante de perda da saúde global, ainda que amplamente evitável e subestimada. Além da mortalidade, são fatores que têm colocado a cirrose hepática como uma constante preocupação de saúde pública:1
- altas taxas de morbidade;
- internações consecutivas;
- absenteísmo no trabalho;
- aumento dos custos sociais.
O novo conceito no tratamento de pacientes com cirrose deve considerar a prevenção e a intervenção precoce para estabilizar a progressão da doença. O objetivo é evitar ou retardar a descompensação clínica e a necessidade de transplante hepático, bem como melhorar o bem-estar dos indivíduos acometidos por essa enfermidade.2
A atividade física ou o exercício regular são importantes aliados na manutenção da capacidade física funcional, na qualidade de vida e na redução da morbidade para diversas condições crônicas. No entanto, embora pareça plausível e lógico promover a intervenção por meio do incremento da atividade, em pacientes com cirrose hepática, ainda se espera maior conhecimento dessa temática no que tange a segurança, tolerância e eficácia. O principal motivo é que, para o bom desempenho durante o exercício, é crucial a integração de três grandes engrenagens: os sistemas respiratório, cardiovascular e muscular.
Entretanto, os pacientes com cirrose hepática manifestam consequências da doença em uma ou mais engrenagens, o que leva ao surgimento de sinais e sintomas que podem culminar em riscos e limites de tolerância ao exercício.
O sistema respiratório pode ser gravemente afetado pela síndrome hepatopulmonar (SHPsíndrome hepatopulmonar), com grande comprometimento da oxigenação arterial. Já o sistema cardiopulmonar tem como principal agressor a hipertensão porto-hepática. A engrenagem do sistema cardiovascular se modifica para um estado de circulação hiperdinâmica, podendo levar à cardiomiopatia cirrótica. A alteração da engrenagem do sistema muscular, que parece ser de origem multifatorial, é acometida por sarcopenia e disfunção.
Com base nessas constatações, torna-se fundamental um maior entendimento da fisiopatologia clínica e do exercício em pacientes com cirrose hepática; uma competência destinada a clínicos e pesquisadores envolvidos no manejo e no processo de reabilitação dos enfermos.
- Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever as características clínicas da cirrose hepática;
- definir e detectar sinais e sintomas que limitam o exercício físico em pacientes com cirrose hepática;
- reconhecer os riscos e os benefícios ao paciente com cirrose hepática, que podem ser impulsionados pelo exercício físico;
- prescrever e supervisionar um programa de exercícios físicos para pacientes com cirrose hepática.
- Esquema conceitual