- Introdução
Os primeiros anos de vida são particularmente importantes devido às intensas transformações que ocorrem funcionalmente em diversas áreas do desenvolvimento e nos processos cerebrais. A avaliação do desenvolvimento é parte importante da atenção global à saúde da criança. Estima-se que de 15 a 18% das crianças apresentam algum transtorno no seu desenvolvimento (incluindo comportamento) em uma ou mais áreas.1-3
O pediatra tem papel fundamental no reconhecimento e na intervenção adequada nos desvios do desenvolvimento. A detecção precoce, seguida de intervenção correta, pode mudar o prognóstico de vida das crianças e de suas famílias. Assim, o pediatra deve estar preparado para exercer a promoção, a vigilância e a triagem do desenvolvimento infantil, bem como a orientação adequada nos casos de desvios da normalidade.
As alterações podem apresentar-se como atrasos ou como desvios, e o pediatra deve saber como proceder nesses casos para poder intervir adequadamente. No entanto, a impressão clínica subjetiva, baseada em observações informais, detecta menos de 30% das alterações do desenvolvimento. A abordagem clínica subjetiva detecta menos de 50% dos casos, mesmo em casos mais graves de alterações comportamentais e emocionais, o que pode resultar em um atraso na detecção e na pronta intervenção.4
A dificuldade na sondagem de alterações comportamentais e emocionais foi detectada pela Academia Americana de Pediatria (AAPAcademia Americana de Pediatria), que, em 2006 (reafirmada em 2010), elaborou um algoritmo para facilitá-la, combinando a vigilância do desenvolvimento à triagem em idades consideradas chaves para uma avaliação mais direcionada.5 No entanto, os países da união europeia não adotam a prática rotineira da triagem.
Na Inglaterra, por exemplo, a vigilância do desenvolvimento faz parte do cuidado com a criança em cada consulta. Caso identificado algum risco, ela é então referenciada para um rastreamento. O ponto principal é a vigilância sobre o desenvolvimento infantil, aspecto em destaque neste artigo. Além disso, serão apresentados alguns instrumentos de triagem para que o leitor tome conhecimento e os aplique se julgar adequado.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de:
- admitir que o desenvolvimento infantil deve ser investigado sob a ótica de um perfil de desenvolvimento contínuo durante todas as consultas pediátricas;
- identificar as crianças em risco para alterações no desenvolvimento ou com desvios do desenvolvimento para que seja realizada uma intervenção apropriada;
- reconhecer a importância da queixa familiar como parte do processo de investigação do desenvolvimento infantil;
- estabelecer um processo de investigação para alterações do desenvolvimento infantil, que abrange diferentes etapas, de modo a poder intervir de maneira oportuna.
- Esquema conceitual