Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- descrever os principais aspectos da avaliação pré-anestésica (APA) de pacientes hepatopatas, bem como os principais exames laboratoriais e de imagem a serem solicitados;
- explicar o conceito e a fisiopatogenia das síndromes de insuficiência hepatocelular e de hipertensão portal;
- identificar os principais achados clínicos, laboratoriais e imaginológicos da síndrome portopulmonar e da síndrome hepatopulmonar (SHP);
- calcular e interpretar os escores de Child-Turcotte-Pugh e Model for End-stage Liver Disease (MELD);
- elencar as principais contraindicações para cirurgias eletivas em pacientes hepatopatas;
- apresentar os achados da circulação hiperdinâmica característica de pacientes cirróticos;
- resumir os principais achados clínicos e eletrocardiográficos da cardiomiopatia cirrótica;
- reconhecer os principais aspectos do planejamento anestésico em hepatopatas;
- listar os benefícios e as limitações dos diversos métodos de monitorização hemodinâmica perioperatória;
- citar os principais fármacos inotrópicos e vasopressores disponíveis para uso clínico.
Esquema conceitual
Introdução
A anestesia no paciente com doença hepática avançada é marcada por diversos desafios. Compreender as repercussões sistêmicas da disfunção hepática — seja ela aguda ou crônica —, assim como as mudanças farmacocinéticas e farmacodinâmicas das drogas utilizadas no perioperatório, é essencial para a condução adequada de qualquer ato anestésico.
Hepatopatas crônicos representam um grupo de alto risco para complicações pós-operatórias, com taxas de mortalidade após cirurgias abdominais de até 80% em pacientes Child C, segundo relatos mais antigos.1 Além disso, mesmo quando submetidos a cirurgias extra-abdominais, apresentam maior risco de infecção, necessidade transfusional e internação prolongada.2
Apesar desses achados, estudos mais recentes demonstram reduções importantes nas taxas de mortalidade, as quais, atualmente, giram em torno de 12% para pacientes cirróticos Child C submetidos a cirurgias abdominais. Esses dados evidenciam o impacto do avanço de técnicas cirúrgicas, anestésicas e cuidados perioperatórios, entre eles, a monitorização hemodinâmica.3