Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- definir as demências potencialmente reversíveis;
- distinguir os tipos de demências potencialmente reversíveis;
- realizar o diagnóstico das demências potencialmente reversíveis;
- descrever o tratamento de demências potencialmente reversíveis.
Esquema conceitual
Introdução
A perda de memória e as mudanças nas atividades de vida diária e sociais são características do déficit cognitivo e podem ser indícios de uma síndrome demencial, com todas suas implicações nefastas e com o temor de tratar-se de uma das formas de demências irreversíveis, principalmente pelos dados globais de demência que mostram que a cada 3 segundos surge um novo demenciado no mundo e que esse número praticamente dobrará a cada 20 anos.
Com o aumento acentuado da população idosa, superando o de outras faixas etárias,1 o esquecimento é um dos motivos mais frequentes para que essas pessoas procurem um médico. Juntamente com essa queixa, vem o temor do paciente, ou de seus familiares, de que uma demência possa estar se instalando, principalmente com a mais comum delas em mais de 50%, a doença de Alzheimer (DA),1 que tem caráter progressivo e irreversível, com mudanças na personalidade, desorientação, comportamento inapropriado e problemas ao fazer atividades da vida diária (AVDs) e atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), entre outras alterações,2 e, infelizmente, até o momento, não tem perspectiva de cura.3–5
De acordo com dados recentes, temos atualmente diagnosticados ao menos 1,76 milhão de brasileiros com mais de 60 anos com algum tipo de demência. A previsão é que que esse número chegue a 2,78 milhões no final desta década e a 5,5 milhões em 2050. Esses números são muito preocupantes.6
Por enquanto, apenas o que se tem são medicamentos para tratamento sintomático, tais como os inibidores da acetilcolinesterase (donepezila, galantamina e rivastigmina), usados nas fases inicial, moderada e grave, e o antagonista do receptor N-metil D-aspartato (NMDA), que é a memantina, usada nas fases moderada e grave.7–9
Existem vários outros tipos de demências, degenerativas ou não, e o prognóstico também é extremamente ruim e inexorável.
A demência é uma síndrome que surge devido a doenças que lesionam o sistema nervoso central (SNC) e geralmente é de natureza progressiva, crônica e inexorável, com distúrbios das funções corticais superiores, incluindo memória, pensamento, orientação, funções executivas, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento.10,11 A consciência não está afetada, o que é um dos fatores diferenciadores do delirium.12
Atualmente, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 5ª edição,13 fala-se em outro termo para designar demência: transtorno neurocognitivo (TNC). Ambos os termos são intercambiáveis e se considera que a utilização do termo “TNC” seja mais abrangente do que “demência” e mais apropriado para as condições que afetam indivíduos de faixa etária menor, como é o caso de dano cognitivo devido a etiologias secundárias.
Com a demência, não só o paciente fica doente, mas também afeta todo o núcleo familiar, que acaba adoecendo de várias maneiras, tanto física quanto mentalmente.14–17
Por isso, duas medidas são muito importantes: a primeira é a prevenção, que deve começar precocemente18 desde a juventude, com exercícios físicos e mentais — cognitivos —; e a segunda é a busca de um diagnóstico seguro,19–22 para confirmar não tratar-se de um dos tipos de demências potencialmente reversíveis, presentes em uma porcentagem de 5 a 10% e escopo deste capítulo.23
O diagnóstico exato permite identificar os quadros potencialmente reversíveis. Se forem tratados precoce e corretamente, esses quadros podem curar ou melhorar consideravelmente as alterações cognitivas e evitar a progressão para as tão famigeradas demências irreversíveis, antes de rotular o paciente como “demente” e selar sua sorte pelo resto de sua vida.
Neste capítulo serão apresentadas, de forma sucinta, as demências potencialmente reversíveis, limitando-se aos aspectos cognitivos e sem a pretensão de querer esgotar um assunto tão amplo e complexo.