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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CIRURGIA BARIÁTRICA

Autores: Maíra Stivaleti Colombarolli, Letícia Altheman Loureiro, Sonia Regina Pasian
epub-BR-PROPSICO-C6V4_Artigo

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • conceituar e descrever a obesidade como condição multifatorial que pode representar riscos à saúde e cujo tratamento envolve a abordagem de aspectos clínicos, nutricionais, psicológicos e socioeconômicos;
  • apresentar evidências da literatura acerca da associação da obesidade com transtornos psicológicos e sofrimento psicossocial;
  • descrever a cirurgia bariátrica como estratégia no tratamento da obesidade mórbida, bem como suas indicações e aplicações;
  • elucidar os impactos psicológicos da cirurgia bariátrica e a relevância dos fatores psicológicos na eficácia do tratamento cirúrgico;
  • apresentar, com embasamento técnico e científico, os fundamentos para a realização de avaliação psicológica no contexto da cirurgia bariátrica.

Esquema conceitual

Introdução

A obesidade é uma condição de etiologia multifatorial, o que torna complexa a sua prevenção e o seu tratamento. Está associada a diversas comorbidades, como aumento da resistência à insulina, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, distúrbios musculoesqueléticos, dislipidemias e alguns tipos de câncer. Em casos graves, há diminuição da expectativa de vida e aumento da mortalidade por causa cardiovascular. Genes, ambiente, fatores emocionais e estilo de vida são alguns fatores que interagem para o desenvolvimento da obesidade, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.1

O padrão de vida urbano moderno consiste em fator de grande influência à obesidade, dado o aumento da ingestão de alimentos com alta densidade energética, a realização de refeições em espaço de tempo cada vez menor e o aumento do consumo de fast food, bem como a diminuição dos níveis de atividade física. Populações com maior grau de pobreza e de menor nível educacional também estão mais propensas à obesidade, pois estão mais expostas à insegurança alimentar e ao baixo custo de alimentos calóricos.1

A obesidade não é classificada como um transtorno psiquiátrico, embora se configure como adoecimento humano. Fatores emocionais e psicológicos estão a ela fortemente associados, incluindo acentuado estigma social. Desde crianças, pessoas com obesidade são discriminadas e taxadas de forma pejorativa como preguiçosas e fora do padrão de beleza socialmente vigente e que valoriza o corpo magro, podendo favorecer comportamentos de isolamento social e sentimentos de inferioridade, cronificando dificuldades adaptativas. O estresse, a ansiedade, o nervosismo, a depressão e a compulsão alimentar também estão claramente relacionados com esse quadro.1

A obesidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma epidemia, com forte impacto no serviço público de saúde. Por isso, buscar a sua prevenção e tratamentos eficazes devem ser um foco da pesquisa científica da área. Para casos graves da doença, o tratamento cirúrgico pode ser indicado.2 De acordo com a ABESO,1 as indicações formais para cirurgia bariátrica envolvem indivíduos entre 18 e 65 anos de idade, com: a) índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 40kg/m2; b) IMC entre 35 e 40kg/m2 com graves comorbidades e que comprovem não ter conseguido perder ou manter o peso perdido após 2 anos consecutivos de tratamento clínico.

A cirurgia bariátrica é considerada um método eficaz para a perda de peso e redução das principais comorbidades associadas à obesidade mórbida. No entanto, o procedimento é vulnerável à dinâmica do funcionamento psicossocial do paciente, o que interfere nos resultados. A cirurgia demanda ajustes importantes no estilo de vida, em especial no comportamento alimentar. Nesse contexto, um adequado processo de avaliação e preparo psicológico se torna indispensável, pois a realização da cirurgia pode implicar em melhora de comorbidades prévias, mas também no surgimento de outras, como a compulsão alimentar.

Além disso, sintomas psicológicos ou psiquiátricos, se presentes no pós-operatório, tendem a interferir na perda de peso e aumentar o risco de reganho, prejudicando o desfecho positivo do procedimento tanto em termos de peso perdido quanto em termos de saúde mental e qualidade de vida do paciente.1,3

Neste capítulo, será apresentada uma visão abrangente da função e utilidade do processo de avaliação psicológica no contexto da cirurgia bariátrica, bem como de seus principais alcances e limitações. Espera-se que, ao final da leitura, o leitor possa compreender a obesidade em sua complexidade clínica, identificando variáveis relevantes para seu tratamento e sua prevenção a partir de achados gerados em processos psicodiagnósticos. A adequada identificação das demandas psíquicas do paciente com obesidade e de seu contexto psicossocial podem dirigir a equipe multiprofissional para cuidados mais específicos, favorecendo o desfecho positivo do tratamento cirúrgico de casos graves da doença.

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