Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

• descrever as bases neurofisiológicas para o estudo da variabilidade da frequência cardíaca (VFC);
• correlacionar importantes variáveis da VFC na gestão da saúde e do desempenho do atleta;
• compreender as bases da análise e indicações do método da VFC para atletas de alto desempenho;
• identificar os benefícios da VFC para o monitoramento de atletas.

Esquema conceitual

Introdução

Videoaula sobre o capítulo

O esporte de alto rendimento não pode ser comparado a nenhum outro tipo de iniciativa esportiva, uma vez que os níveis de engajamento e competitividade do atleta se aproximam do máximo na maior parte da temporada, e o alto desempenho esportivo demanda uma estruturação maior e mais complexa em níveis de treinamento e elitização das competições.¹

Além disso, considera-se que, na maior parte do tempo, o atleta profissional está, por diversos fatores, sobrecarregado psicofisicamente, podendo chegar frequentemente ao overtraining. O iminente nível de desempenho pode ser influenciado por muitas variáveis, como tipo de treinamento, controle de carga, alimentação, sono, recuperação, nível e momento da competição, fatores ambientais, emocionais, dentre outros.²

Diante disso, é importante inserir o atleta em um programa multidisciplinar e integrado de treinamento e controle, no qual se avaliem de forma rotineira o monitoramento das condições de saúde e a integridade geral do atleta ao longo de uma temporada esportiva, uma vez que ele é diariamente submetido ao estresse de treinos, viagens e competições.²

Para contribuir com o melhor desempenho do atleta, é possível utilizar diversas metodologias para a sua avaliação física e mental, com destaque para o monitoramento e a avaliação da VFC.^3,4 Essa metodologia tem ganhado espaço por ser não invasiva, ser acessível, ser de baixo custo e científica, e capaz de monitorar o atleta tanto no local quanto remotamente. Inicialmente, as aplicações da VFC restringiam-se apenas à avaliação e ao diagnóstico de doenças. Nesse contexto, existem cada vez mais evidências que relacionam os parâmetros ligados à VFC com a saúde e o bem-estar.

A literatura⁵ aponta que uma baixa VFC parece estar associada à deterioração do sono, da atividade cognitiva, do bem-estar físico e emocional e também a diversas condições médicas e neuropsiquiátricas, como as doenças cardiovasculares, o diabetes melito e as crises de ansiedade.^6–9

Com o tempo, a VFC passou a ser aplicada ao esporte. Nesse sentido, pode-se utilizar a VFC para favorecer a avaliação do atleta e o controle de carga, descrevendo, por exemplo, o seu perfil frente ao treinamento instituído e/ou a determinação do período ideal de recuperação.^3,4 Em relação à utilização da VFC no contexto do esporte, observa-se que a modulação parassimpática é maior em indivíduos treinados, principalmente em atletas de endurance, quando comparada à de indivíduos não atletas.¹⁰

Alterações da modulação da VFC também foram verificadas a partir de fatores como avanço da idade, maiores intensidades (cargas) de treinamento e níveis de fadiga e aumento da composição corporal, assim, o monitoramento pode ser uma importante ferramenta para inferir o balanço autonômico em atletas, nos estágios pré, intra e pós-treino, detectando perturbações na homeostase e, desse modo, pode ajudar a prever variações de desempenho, além de ser útil no direcionamento dos processos de recuperação e prescrição do treinamento.^10,11

Considera-se, portanto, que a VFC pode colaborar à compreensão dos níveis de balanço simpatovagal, ao entendimento da correlação da demanda atlética com a resposta da frequência cardíaca (FC) e para as associações que podem ser realizadas com variáveis relacionadas à saúde e ao desempenho do atleta, fazendo-se presente de forma cada vez mais corriqueira no contexto do esporte.