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CÉLULAS IMUNES E REPARO TECIDUAL: ASPECTOS BÁSICOS, PRÁTICOS E OS EFEITOS DE AGENTES FISIOTERAPÊUTICOS

Lucas Schipper

Pedro Roosevelt Torres Romão

Gilson Pires Dorneles

Alessandra Peres

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Objetivos

Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de

  • explicar aspectos básicos do sistema imune;
  • enumerar os conceitos básicos do dano muscular induzido pelo exercício;
  • identificar o curso de tempo do dano muscular induzido pelo exercício;
  • descrever a resposta inflamatória aguda no tecido muscular após o exercício físico;
  • explicar a relação entre inflamação muscular e recuperação funcional do músculo;
  • descrever as principais evidências sobre estratégias de recuperação tecidual e suas relações com a inflamação intramuscular no pós-exercício.

Esquema conceitual

Referências

Eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos, seguidamente proporcionam momentos de grande assombro e admiração em espectadores e entusiastas do esporte por causa de extraordinários desempenhos fisiológicos e mentais de atletas nos mais diversos ambientes, incluindo pistas, campos, quadras, na água e no ar, e esportes. Esses esforços e o grande desempenho dos atletas ocorrem graças aos anos de intensa dedicação ao treinamento físico, e o desempenho esportivo é determinado por uma complexa interação de fatores biológicos, mentais e ambientais.1

Em grande parte, o desempenho nos mais diversos esportes e na prática esportiva é altamente dependente da teoria da adaptação biológica ao treinamento físico, a qual preconiza que o estresse fisiológico desencadeado por sucessivas sessões de exercício físico, em um contexto de periodização no qual metas e objetivos são previamente estabelecidos, proporciona modificações funcionais e estruturais em todos os sistemas biológicos.1

O princípio da sobrecarga é outro grande princípio que rege a periodização e a programação do treinamento esportivo, independentemente do esporte praticado, com o intuito de auxiliar no entendimento de como uma sessão de exercício físico é um estímulo suficiente para desencadear as adaptações biológicas ao longo do treinamento.1

A sobrecarga no exercício físico consiste na aplicação de uma carga de trabalho (ou seja, a sessão de exercício) que altere momentaneamente o estado homeostático do atleta, gerando um período de prejuízo na função fisiológica e de catabolismo sistêmico imediatamente após a sessão de exercício e um subsequente período de supercompensação da função fisiológica por meio das adaptações positivas em inúmeros tecidos e sistemas biológicos.1

De modo interessante, o período catabólico identificado em uma janela de tempo após a sessão de exercício físico, que pode perdurar de horas até dias e é dependente do volume e da intensidade da sessão de treinamento, relaciona-se a eventos de alto estresse físico e alta magnitude do dano tecidual, sobretudo no tecido musculoesquelético. A indução de dano muscular decorrente do exercício físico é um tema de grande interesse nas ciências do esporte.2

O dano tecidual é uma condição caracterizada por diversas modificações transitórias na forma e na função do músculo.2

Quando há dano tecidual, identificam-se ruptura ultraestrutural transitória nas miofibrilas, perda na capacidade de geração de diversas manifestações de força muscular (força máxima isotônica, força isométrica, resistência de força e potência muscular), dor muscular de início tardio (DMIT), inchaço, redução na amplitude de movimento (ADM) no membro afetado e efluxo sistêmico de diversas enzimas e proteínas miocelulares (p. ex.: creatinoquinase [CK, do inglês, creatine kinase]; lactato desidrogenase [LDH], mioglobina) em decorrência de ruptura de membrana sarcoplasmática.2

Evidências bem estabelecidas demonstram que as alterações mecânicas e o estresse metabólico e fisiológico decorrentes do dano muscular são os principais eventos desencadeadores de um intrincado processo de ativação de fatores de transcrição, estímulo para síntese proteica e estimulação de diversos tipos de células para iniciar o reparo e o remodelamento tecidual, e a consequente evolução da função do tecido. Novas descobertas da biologia do tecido muscular demonstram o envolvimento de células imunológicas e de mediadores inflamatórios durante os processos de limpeza do tecido, de reparo e no remodelamento.3

Macrófagos residentes, neutrófilos, mastócitos, monócitos e outros leucócitos, como linfócitos T, além de células vasculares e do estroma (fibroblastos) interagem entre si e com células satélites na matriz extracelular do tecido musculoesquelético. A dinâmica das interações celulares e a expressão de mediadores pró-inflamatórios determinam a efetividade e o curso de tempo da recuperação do dano muscular.2

Desse modo, são necessárias uma correta coordenação entre uma fase pró-inflamatória para “limpar” o tecido muscular e uma subsequente fase anti-inflamatória e de ativação de fatores anabólicos e miogênicos. Os diferentes estágios de recuperação após o dano muscular implicam em padrões únicos de regulação molecular e celular e envolvem sobretudo as células da imunidade inata.4

A resposta coordenada entre inflamação e regeneração muscular possui uma considerável importância em regular o completo processo regenerativo do tecido musculoesquelético. Em uma fase inicial, uma grande resposta inflamatória mediada por citocinas pró-inflamatórias ativa funções fagocíticas e proteolíticas de macrófagos e neutrófilos que possuem como alvo os restos celulares decorrentes do dano tecidual.5

Em uma segunda fase, uma resposta imune de tipo 2 (conhecida popularmente como “anti-inflamatória”) coordena a ativação de mecanismos de renovação tecidual, incluindo:5

  • ativação de células satélites;
  • angiogênese;
  • síntese de matriz extracelular.

Todos esses fatores são necessários para a reconstrução de um ambiente funcional do tecido muscular.5 No entanto, a aplicação de recursos terapêuticos pode diretamente impactar na dinâmica da resposta inflamatória após o exercício, modificando o curso de adaptações musculoesqueléticas dependentes da fase inflamatória.

Neste capítulo, apresentam-se uma recapitulação de conceitos-chave da resposta imune no tecido muscular e a respeito do impacto de recursos fisioterapêuticos sobre a dinâmica inflamatória após o exercício.

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