- Introdução
A obesidade é uma doença crônica cuja prevalência vem aumentando em proporções epidêmicas. A de grau 3, definida como um índice de massa corporal (IMCíndice de massa corporal) maior ou igual a 40 kg/m2, acompanha essa tendência, atingindo 6,8% da população mundial.1
No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que as taxas de obesidade triplicaram desde o ano de 1974.2
A cirurgia bariátrica (CBcirurgia bariátrica) é o tratamento mais eficaz para tratar a obesidade grave. A seleção de possíveis candidatos para o procedimento baseia-se, essencialmente, nas recomendações dadas no ano de 1991 pelo National Institute of Health (NIHNational Institute of Health).3 Nesse consenso ficou estabelecido que os dois critérios de elegibilidade para a CBcirurgia bariátrica seriam os seguintes:
- pacientes com IMCíndice de massa corporal de 40 kg/m2 ou mais;
- pacientes com IMCíndice de massa corporal de 35 kg/m2 ou mais e que apresentam pelo menos uma comorbidade associada com a obesidade, sempre que seja comprovado o insucesso do tratamento clínico realizado anteriormente.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFMConselho Federal de Medicina), por meio da Resolução de 2010, segue os critérios propostos pelo NIHNational Institute of Health para realização da CBcirurgia bariátrica.4 A idade mínima para o procedimento é de 16 anos e não há uma idade máxima estabelecida, devendo ser considerados o risco cirúrgico e o risco-benefício do paciente.4
Recentemente, o CFMConselho Federal de Medicina aumentou o rol de comorbidades para indicação de CBcirurgia bariátrica em pacientes com IMCíndice de massa corporal entre 35 e 40 kg/m2. Assim, além de diabetes melito tipo 2 (DM2), apneia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia, doença coronária e osteoartrites, na nova Resolução, consta a inclusão de5
- osteoartrose;
- hérnia discal;
- disfunção erétil;
- esteatose hepática;
- colecistopatia calculosa;
- doenças cardiovasculares;
- asma grave não controlada;
- pancreatite aguda de repetição;
- infertilidade masculina e feminina;
- estigmatização social e depressão;
- hipertensão intracraniana idiopática;
- veias varicosas e doença hemorroidária;
- síndrome dos ovários policísticos (SOPsíndrome dos ovários policísticos);
- incontinência urinária de esforço na mulher;
- refluxo gastresofágico com indicação cirúrgica.
Não há consenso com relação às contraindicações para a CBcirurgia bariátrica. No entanto, admite-se que o elevado risco cirúrgico, a dependência ao álcool ou a substâncias ilícitas e doenças psiquiátricas graves são fatores que contraindicam a cirurgia.
A CBcirurgia bariátrica baseia-se em uma mudança anatômica do trato gastrintestinal, que pode ser6
- restritiva — é criado um pequeno reservatório gástrico (por exemplo, banda gástrica, gastrectomia vertical ou sleeve gastrectomy [SGsleeve gastrectomy]);
- disabsortiva — consiste no desvio de segmentos do intestino delgado, o qual provoca diminuição de absorção de alimentos (por exemplo, derivação biliopancreátrica [DBPderivação biliopancreátrica], cirurgia de Scopinaro ou derivação biliopancreátrica com desvio duodenal — em inglês, duodenal switch [DSdesvio duodenal]);
- mista — são utilizados os dois mecanismos supracitados (por exemplo, bypass gástrico em Y de Roux [BGYRbypass gástrico em Y de Roux] ou cirurgia de Fobi-Capella).
A CBcirurgia bariátrica pode ser executada por laparotomia ou, de preferência, por videolaparoscopia, técnica que mais cresce no mundo.7
Independentemente da técnica adotada, a CBcirurgia bariátrica cursa com alterações nutricionais importantes. Muitas dessas deficiências estão presentes no paciente no período pré-operatório, porém são detectadas somente após a CBcirurgia bariátrica.6
As deficiências nutricionais são múltiplas e devem ser rapidamente reconhecidas e tratadas, pois podem evoluir e provocar complicações clínicas graves. A suplementação de vitaminas e minerais exige o acompanhamento do paciente a longo prazo, sendo um dos grandes obstáculos no pós-operatório.6 Os procedimentos disabsortivos e os procedimentos mistos, em geral, apresentam maior propensão ao desenvolvimento dessas carências nutricionais.8
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- identificar e tratar as principais complicações nutricionais que os pacientes submetidos à CBcirurgia bariátrica podem apresentar;
- avaliar as situações especiais que expõem os pacientes que passaram por uma CBcirurgia bariátrica a um risco maior de complicações nutricionais.
- Esquema conceitual