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CONCUSSÃO CEREBRAL EM CRIANÇAS

André Polli Fujita

Ricardo Guilherme Eid

Carlos Hermano da Justa Pinheiro

Gustavo Pompêo de Camargo Leme

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Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • inferir a fisiopatologia da concussão cerebral;
  • identificar a epidemiologia da concussão cerebral infantil nos esportes;
  • memorizar o processo de avaliação da criança que sofreu concussão cerebral;
  • aplicar o processo de reabilitação da criança que sofreu concussão cerebral;
  • utilizar evidências na prevenção da concussão cerebral.

Esquema conceitual

Introdução

A concussão é um dos distúrbios neurológicos mais frequentes na atualidade e envolve complexos processos fisiopatológicos no cérebro, podendo levar a danos neurológicos e resultar, ou não, em perda da consciência.1

Atualmente, não existe uma definição universalmente aceita de concussão relacionada ao esporte, o que seria importante para discutir a lesão com os pacientes e seus pais, para os profissionais de saúde fazerem o diagnóstico correto e para os pesquisadores terem padrões uniformes ao realizarem estudos sobre concussão.2

Ainda existe um debate sobre a utilização do termo concussão ou traumatismo craniencefálico leve (TCEL) como o mais adequado para descrever a lesão; frequentemente, a concussão é considerada um subconjunto do TCEL.2

Vários simpósios internacionais sobre concussão no esporte foram realizados desde 2001. O Concussion in Sport Group, um grupo de especialistas em concussão no esporte, definiu a concussão como “uma lesão cerebral traumática induzida por forças biomecânicas”.

Esse consenso também inclui 5 características comuns do traumatismo craniano concussivo: a concussão pode ser causada por um golpe direto na cabeça, no rosto, no pescoço ou em qualquer outro local do corpo com uma força impulsiva transmitida à cabeça; normalmente, a concussão resulta no início rápido do comprometimento de curta duração da função neurológica que se resolve espontaneamente. No entanto, em alguns casos, sinais e sintomas podem evoluir ao longo de alguns minutos a horas; a concussão pode resultar em alterações neuropatológicas, mas os sinais e sintomas clínicos agudos refletem, em grande parte, um distúrbio funcional, e não uma lesão estrutural e, como tal, nenhuma anormalidade é observada nos estudos padrão de neuroimagem; a concussão resulta em uma série de sinais e sintomas clínicos que podem ou não envolver perda de consciência.

A resolução dos sintomas clínicos e cognitivos, geralmente, segue um curso sequencial. No entanto, em alguns casos, os sintomas podem ser prolongados; os sinais e sintomas clínicos não podem ser explicados pelo uso de drogas, álcool, medicamentos, por outras lesões (como lesões cervicais, disfunção vestibular etc.) ou outras comorbidades (por exemplo, fatores psicológicos ou condições médicas coexistentes).2

Em 2014, uma revisão sistemática foi publicada por um grupo de especialistas com o intuito de desenvolver uma definição de concussão baseada em evidências.3 Esse estudo encontrou os seguintes indicadores prevalentes e consistentes de uma concussão: desorientação ou confusão observada e documentada imediatamente após o evento; comprometimento do equilíbrio dentro de 1 dia após a lesão; tempo de reação mais lento dentro de 2 dias após a lesão; comprometimento da aprendizagem verbal e da memória dentro de 2 dias após a lesão.

As concussões na população pediátrica são comuns e foram reconhecidas como fonte de risco potencial para o neurodesenvolvimento saudável, com possíveis consequências agudas e em longo prazo.4

A plasticidade do cérebro em desenvolvimento é considerada um fator protetor em pacientes pediátricos com lesão cerebral, mas essa crença é questionada durante a juventude. Muitos estudos mostram que a incidência de concussão em atletas de ensino médio é maior do que em atletas mais velhos.5

Atletas jovens podem ser mais suscetíveis a concussões por causa de maior proporção do tamanho da cabeça em relação ao corpo, músculos do pescoço mais fracos e maior vulnerabilidade do cérebro em desenvolvimento.6 Embora a literatura sobre concussão no atleta competitivo adulto tenha progredido muito, pouca atenção tem sido dada ao manejo no atleta jovem e a como esse resultado varia entre os esportes.6

O conhecimento da concussão pediátrica e as abordagens de gestão progrediram desde que a Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou seu primeiro relatório clínico sobre o assunto, em 2010. O gerenciamento eficaz pode ajudar na recuperação e reduzir potencialmente o risco de sintomas e complicações em longo prazo.2

Como os sintomas de concussão, frequentemente, interferem na escola, na vida social, nos relacionamentos familiares e no esporte, também podem afetar o bem-estar emocional do atleta lesionado.2

O tempo médio de normalização dos testes neurocognitivos para linha de base pré-concussão em estudantes de ensino médio fica entre 10 e 14 dias. Nos atletas universitários, esse período é de 5 a 7 dias, e, em atletas profissionais, de 3 a 5 dias.4

Como as evidências sugerem que crianças e adolescentes levam mais tempo para se recuperar do que os adultos após uma concussão, normalmente é exigida uma abordagem mais conservadora do manejo, com consequente aumento no período de retorno ao esporte. A concussão no atleta pediátrico e adolescente é uma lesão esportiva comum que tem sido subestimada e maltratada.6

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