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RETORNO AO ESPORTE APÓS ENTORSE DE TORNOZELO

Gabriel Theodoro Peixoto

Victor Silva Alves

epub-PROFISIO-ESP-C10V4_Artigo3

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

  • listar exemplos de alterações biomecânicas, lesões secundárias e lesões associadas à entorse de tornozelo;
  • identificar as diferentes fases que constituem o retorno ao esporte;
  • avaliar, de maneira adequada, os critérios clínicos relacionados ao tornozelo no momento do retorno ao esporte;
  • reconhecer a importância do uso de questionários autorrelatados para atletas que sofreram entorse de tornozelo;
  • aplicar e interpretar testes funcionais que avaliam a articulação do tornozelo;
  • fornecer orientações quanto ao uso de órteses ou bandagens no momento do retorno ao esporte.

Esquema conceitual

Introdução

A entorse de tornozelo está entre as lesões musculoesqueléticas mais frequentes entre praticantes de esportes recreacionais e competitivos,1 compreendendo até 45% de todas as lesões.2 Nos Estados Unidos, estima-se uma taxa de incidência de 3,29 entorses de tornozelo por mil pessoas ao ano, sendo que apenas a entorse lateral é responsável por uma taxa de 3,02 por mil pessoas ao ano.3 No Reino Unido, a taxa de incidência relatada é de 5,27 por mil habitantes.4

A entorse de tornozelo traz diversos impactos negativos, como a ausência no trabalho e na prática esportiva,5 afetando a produtividade e a qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Outro fator importante a ser analisado é o custo de saúde gerado por esse tipo de lesão. A média de gastos com cada entorse de tornozelo nos departamentos de emergência dos Estados Unidos foi avaliada em 1.029 dólares.3 Verifica-se que essa lesão tem um impacto financeiro relevante na economia em geral e, especialmente, na saúde pública, provocando gastos com consultas médicas, internação e tratamento.

Apesar da dificuldade de identificar estudos que forneçam dados específicos relacionados à exposição e ao número de entorses de tornozelo por faixa etária, uma revisão sistemática com metanálise identificou que crianças e adolescentes são mais suscetíveis a essa lesão.1 Provavelmente, isso se deve ao fato de que indivíduos nessas faixas etárias não apresentam funções sensório-motoras ideais para a realização de atividades esportivas dinâmicas. Assim, eles não conseguem obter um controle neuromuscular adequado para que a tarefa proposta seja executada, elevando o risco de lesões.6

Quanto à diferença entre gêneros, as mulheres apresentam um risco maior de entorse de tornozelo comparadas aos homens (13,6 por mil exposições e 6,94 por mil exposições, respectivamente). No entanto, ainda não está claro se essa diferença entre gêneros pode ser específica para cada atividade, estando relacionada aos distintos tipos de treinamento, ou se, de fato, está associada apenas a distinções anatômicas e fisiológicas entre os gêneros.1

Diferenças epidemiológicas entre modalidades esportivas são observadas na literatura. Ao agrupar diferentes esportes em categorias, identifica-se que esportes indoor e de quadra, como basquete, voleibol e tênis, apresentam maior risco para entorse de tornozelo, seguidos de esportes de campo, como futebol, futebol americano e rúgbi. A prevalência e a incidência por mil horas praticadas nessas categorias esportivas são de, respectivamente, 12,17% e 4,9 para esportes indoor e de quadra e 11,3% e 3,85 para esportes de campo.1

Existem vários fatores que podem aumentar o risco de um indivíduo sofrer uma entorse de tornozelo. O principal fator extrínseco parece ser o esporte praticado, tendo maiores incidências as modalidades previamente citadas.7 Além disso, a prática em níveis competitivos demonstra aumentar o risco para a lesão.8

Dentre os fatores intrínsecos modificáveis para entorse de tornozelo, destacam-se a restrição de amplitude de movimento (ADM) para dorsiflexão, a propriocepção reduzida e deficiências no equilíbrio unipodal. O índice de massa corporal (IMC) mais baixo também parece ser um fator de risco, apesar de esse ser um dado conflitante na literatura. Com relação aos fatores intrínsecos não modificáveis, nota-se que mulheres apresentam um maior risco em relação a homens. Apesar de entorses prévias serem difundidas como preditoras, há controvérsia se esse fator é, de fato, significativo.7

Considerando que ter histórico de entorse pode ser um fator de risco para o surgimento de uma nova entorse,9 torna-se importante reconhecer o momento ideal para liberar o retorno ao esporte após essa lesão, a fim de evitar recidivas ou lesões secundárias.

Como não há, na literatura, padronização sobre os critérios de retorno ao esporte após a entorse de tornozelo, é comum que profissionais com formações e campos de atuação similares usem critérios distintos na prática clínica. Portanto, avaliações criteriosas, por meio da obtenção de dados quantitativos e qualitativos, juntamente com o raciocínio clínico do fisioterapeuta, se tornam fundamentais para a tomada de decisão.

O presente capítulo apresenta informações pertinentes a respeito de quando e como liberar um atleta às atividades esportivas após sofrer uma entorse de tornozelo. Com o intuito de não adentrar em outros assuntos além do tema proposto, o manejo agudo e as intervenções a serem utilizadas no decorrer do processo de reabilitação não serão abordados.

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