Introdução
Em razão de suas particularidades, a atenção básica (AB) demanda do fisioterapeuta um olhar integral sobre o indivíduo, o contexto social e o ambiente, possibilitando a criação e o exercício de novos modos de prestar o cuidado. Junto à bagagem profissional historicamente relacionada à reabilitação, na AB, o profissional pode atuar em uma equipe interprofissional, desde a prevenção de agravos até a promoção da saúde. Nesse sentido, ele colabora para a coordenação do cuidado e a articulação da rede de atenção à saúde (RAS), sempre objetivando o incentivo à autonomia dos usuários.
O olhar ampliado e o modo de cuidado na AB vão ao encontro da literatura ao considerar a reabilitação um processo que tem como metas:1,2
- prevenção de complicações secundárias físicas ou cognitivas;
- redução e recuperação precoce dos déficits sensório-motores e cognitivos, por meio da neuroplasticidade e do reaprendizado;
- aproveitamento máximo do potencial residual das funções;
- adaptação nas esferas social, comportamental, familiar e profissional;
- autonomia;
- reintegração à comunidade;
- participação cidadã;
- qualidade de vida.
Neste capítulo, será abordada a reabilitação da pessoa pós-acidente vascular cerebral (AVC) atentando a todo o processo do cuidado. Para isso, será considerada como base a definição do termo reabilitação proposta pela British Society of Rehabilitation Medicine (BSRM).3
De acordo com a BSRM, reabilitação é “um processo de mudança ativa pelo qual uma pessoa que se tornou deficiente adquire os conhecimentos e habilidades necessários para a melhora de suas funções física, psicológica e social”.3
A definição proposta pela BSRM considera a importância de a reabilitação de pessoas pós-AVC ser realizada por uma equipe multi/interprofissional. Os objetivos desse processo incluem melhorar os sintomas dos pacientes e maximizar sua independência funcional e sua participação (integração social) por meio de um modelo biopsicossocial holístico, conforme definido pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Assim, entende-se que a reabilitação do indivíduo requer esforços sustentados e coordenados de diversos atores, como:4
- o próprio indivíduo, guiado por seus objetivos;
- familiares;
- amigos;
- cuidadores;
- diversos profissionais de saúde.
Esforços isolados, sem a comunicação e a coordenação entre todos os envolvidos, têm poucas chances de alcançar todo o potencial da reabilitação da pessoa pós-AVC.4
Este capítulo visa à reflexão sobre as possibilidades de cuidado a pessoas que sofreram AVC na AB pelo fisioterapeuta, considerando a diversidade de contextos da RAS no Brasil. Além disso, busca contribuir para a prática profissional e o ensino acadêmico.
Objetivos
Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de
- identificar os atributos da AB;
- descrever o papel do fisioterapeuta na AB;
- discutir a atuação do fisioterapeuta no cuidado a pessoas pós-AVC na AB;
- selecionar as estratégias adequadas para o cuidado ao paciente que sofreu AVC, considerando a prática baseada em evidências.