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CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL EM PACIENTES SUSPEITOS OU CONFIRMADOS COM COVID-19 EM UNIDADES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Vanessa Galdino de Paula

Fernanda de Souza Ignácio Gonçalves

Camila Tenuto Messias da Fonseca

Murilo Ribeiro de Mattos

Danilo Corrêa Silva da Cruz

Luana Ferreira de Almeida

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Introdução

No final de 2019, foi relatado, na cidade de Wuhan, na China, um surto de doença respiratória aguda, cujo agente causador foi identificado como um novo tipo de coronavírus, chamado de coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) — severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 —, nome recomendado pelo Comitê Internacional de Taxonomia Viral.

O SARS-CoV-2 é um vírus da família Coronaviridae, que apresenta semelhanças com as infecções respiratórias causadas pela síndrome da angústia respiratória aguda (SARS) — severe acute respiratory syndrome — no ano de 2002 e pelo coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) — Middle East respiratory syndrome coronavirus — em 2012. Dessa forma, entende-se que o SARS-CoV-2 possa ter características parecidas de transmissibilidade e origem evolutiva com esses vírus.

Apresentando rápida disseminação pelo mundo, em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, sendo posteriormente declarado como pandemia.1 Desde então, a crescente taxa de incidência da disseminação do coronavírus transformou-se em uma das maiores questões sanitárias da humanidade. Historicamente, o enfrentamento de uma pandemia infecciosa repete-se há séculos, com variações na forma tanto de propagação quanto de contenção dessas doenças.2

Os dados globais mais recentes sobre coronavírus apontam que as estatísticas de indivíduos com a doença do coronavírus 2019 (COVID-19) — coronavirus disease 2019 — apresentam uma curva ascendente tanto em letalidade quanto em mortalidade, sendo o Brasil um dos países que lideram esse ranking.3 A sigla COVID-19 vem da expressão em inglês coronavirus disease 2019, determinada pela OMS.1

Segundo o Ministério da Saúde (MS), a COVID-19 apresenta quadro clínico bastante diversificado, podendo variar desde infecções assintomáticas (infectados que não desenvolveram sintomas) até quadros graves respiratórios e que necessitam de internação hospitalar por exacerbação do quadro clínico.2

O período médio de incubação da infecção por coronavírus é de 5,2 dias, com intervalo de até 12,5 dias. Já o período de transmissibilidade dos pacientes infectados por SARS-CoV-2 é, em média, 7 dias após o início dos sintomas. Entretanto, há indícios de que a transmissão possa ocorrer na ausência de sinais e sintomas.4

A OMS aponta que aproximadamente 80% dos pacientes com COVID-19 podem apresentar nenhum sintoma ou sintomas leves (assintomáticos ou oligossintomáticos). Em torno de 20% dos casos, será necessário buscar atendimento hospitalar em virtude de sintomas respiratórios. Entre esses 20%, poderá ser necessária a utilização de suporte ventilatório em 5%.1

Embora somente uma minoria dos casos apresente uma maior gravidade, os pacientes hospitalizados nas unidades de urgência e emergência que apresentam sinais e sintomas compatíveis com infecção por COVID-19 exigem do profissional de enfermagem pronto reconhecimento, além de conhecimento científico atualizado para iniciar as medidas de precaução para equipe e os cuidados necessários.1

No contexto da COVID-19, o MS apresenta o protocolo de tratamento do novo coronavírus e considera algumas definições operacionais.4,5 Para o MS, a síndrome gripal (SG) é definida pela presença de quadro respiratório agudo, caracterizado por, pelo menos, dois dos seguintes sintomas: sensação febril ou febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos.4,5

Já a síndrome respiratória aguda grave (SRAG) é conceituada como todo indivíduo com SG que apresente dispneia/desconforto respiratório ou pressão persistente no tórax ou saturação de pulso de oxigênio (SpO2) menor que 95% em ar ambiente ou cianose nos lábios ou no rosto.4,5

Uma revisão narrativa descreveu que os sinais e sintomas mais comuns são: febre, considerada como temperatura maior ou igual a 37,8ºC, tosse, dispneia, mialgia e fadiga. Os sintomas menos comuns são anosmia (perda do olfato), hiposmia (diminuição do olfato) e ageusia (perda do sentido do paladar). Nesse estudo, foram referidos também sintomas gastrintestinais, como diarreia, náuseas, vômitos e dor abdominal.6

Ressalta-se que a transmissão de SARS-CoV-2 pode acontecer por meio do contato direto de uma pessoa doente com outra ou por contato próximo por meio do aperto das mãos contaminadas, gotículas de saliva, espirro, tosse, secreção traqueal e objetos ou superfícies contaminadas.6

Assim, para reduzir a propagação do vírus, deverão ser adotadas medidas como higienização das mãos com água e sabão ou com solução alcoólica a 70%, cobrir o nariz e a boca ao tossir ou espirrar, não tocar olhos, nariz, boca ou máscara de proteção sem higienizar as mãos, manter a distância mínima de 1 metro entre pessoas em lugares públicos e de convívio social, evitar abraços, beijos e apertos de mãos, higienizar objetos de uso pessoal com frequência e não compartilhá-los e utilizar máscaras em todos os ambientes.7

Os casos de COVID-19 podem ser confirmados por critérios clínico, clinicoepidemiológico, clínico-imagem e laboratorial. No critério clínico, há presença de SG ou SRAG associada à anosmia ou ageusia aguda sem outra causa. No critério clinicoepidemiológico, o aparecimento de SG ou SRAG está relacionado com contato próximo ou domiciliar 10 dias antes do surgimento dos sinais e sintomas, associado aos casos confirmados laboratorialmente para COVID-19.

No critério clínico-imagem, encontram-se os casos de SG ou SRAG ou óbito por SRAG que não puderam ser confirmados ou descartados por critério laboratorial e que apresentem alterações tomográficas.

No critério laboratorial, o diagnóstico é realizado por meio da técnica de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) em tempo real, de sequenciamento parcial ou total do genoma viral, de exame imunológico, da pesquisa de antígeno reagente ou de critérios laboratoriais em indivíduo assintomático com resultado de exame de biologia molecular detectável para SARS-CoV-2, realizado pelo método RT-PCR em tempo real, imunológico com resultado reagente para imunoglobulina A (IgA) e/ou imunoglobulina M (IgM) e/ou imunoglobulina A (IgG) realizado pelos métodos de ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA), imunocromatografia (teste rápido) para detecção de anticorpos ou imunoensaio por eletroquimioluminescência (ECLIA).5,8

No enfrentamento à pandemia da COVID-19, o enfermeiro que atua nos setores de urgência e emergência tem como principais atribuições utilizar a classificação de risco, com o objetivo de identificar os pacientes que pertencem a grupos de risco, selecionar os atendimentos prioritários, bem como detectar aqueles que podem ter seu estado agravado e necessitar de transferência para unidade de terapia intensiva (UTI).9

Além disso, o enfermeiro deve ser capaz de tomar decisões rápidas e precisas, prestar assistência e realizar o acompanhamento e monitoramento da evolução clínica dos pacientes suspeitos ou confirmados com a COVID-19, utilizando raciocínio clínico e habilidades técnico-científicas com vistas a um cuidado seguro e de qualidade.9

Nesse cenário, torna-se frequente a realização de procedimentos invasivos, sobretudo para manutenção da permeabilidade das vias aéreas, visto que a principal e mais grave complicação da COVID-19 está relacionada à mecânica ventilatória, sendo a IOT a melhor forma de auxiliar o paciente na obtenção da oxigenação adequada.9

Deve-se enfatizar a necessidade de redução à exposição ao vírus, ressaltando para a equipe de saúde as medidas necessárias preconizadas, como higienização das mãos, paramentação e desparamentação conforme recomendado, IOT pela técnica de intubação de sequência rápida (ISR), entre outros cuidados abordados ao longo deste capítulo.

Objetivos

Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de

 

  • prevenir os eventos adversos relacionados à intubação orotraqueal (IOT) na emergência;
  • caracterizar a SG e SRAG;
  • reconhecer a necessidade da IOT em pacientes com COVID-19;
  • identificar os cuidados de enfermagem antes, durante e após a intubação.

Esquema conceitual

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