- Introdução
A tarefa de ser terapeuta não pode ser considerada simples. O terapeuta está intrinsecamente próximo ao objeto de estudo da ciência psicológica: observa e se relaciona o tempo todo com os outros, se comporta, sente, se emociona, pensa. É muito natural que todos tenham alguma opinião para dar sobre questões que envolvem o conhecimento e a prática do psicólogo.
As pessoas possuem experiências anteriores quando decidem pelo curso de psicologia. Entre suas vivências, e com suas diferenças, pode-se dizer que elas desenvolvem habilidades interpessoais, têm experiência em ajudar amigos, parentes, pessoas próximas ou até mais distantes e estão frequentemente engajadas em tentar auxiliar os outros a tomar decisões, a resolver problemas e a melhorar suas relações.
Um dos primeiros desafios que o estudante de psicologia enfrenta é a passagem do conhecimento interpessoal, que ele adquiriu em sua experiência pessoal, para contextos profissionais. O segundo, talvez, seja a passagem do conhecimento conceitual sobre abordagens teóricas para a prática clínica do terapeuta, o que, em geral, ocorre nos últimos anos da formação, caso ele opte por esse caminho.
O desenvolvimento do profissional terapeuta não ocorre de maneira abrupta. Nesse processo, naturalmente, surgem muitas questões, como: Será que com tão pouca habilidade ou conhecimento prático poderei auxiliar meu cliente? O que eu preciso saber e quais habilidades preciso ter para ajudá-lo? Tenho características que podem prejudicar meu trabalho como terapeuta? É correto igualar tempo de experiência com ser um melhor terapeuta?
Essas questões são exploradas até em publicações que tratam do assunto de forma mais trivial. Os pesquisadores Bernard Schwartz e John V. Flowers1 publicaram um livro que é uma espécie de guia para terapeutas profissionais chamado “Como falhar na relação?” “Os 50 erros que os terapeutas mais cometem”. Uma das partes do livro é dedicada ao tema “Como destruir a relação terapeuta–cliente”, na qual os autores explanam como os terapeutas precisam lidar o tempo todo com a diversidade, o que exige habilidades interpessoais no mínimo flexíveis e variadas.
Em “Cartas a um jovem terapeuta”, o psicanalista Calligaris2 também apontou alguns aspectos interessantes sobre as dificuldades de se formar um terapeuta. Entre os pontos apresentados, está a concepção de que a formação para um psicoterapeuta se dá muito além dos estudos, ou seja, exige experiência, contato com os clientes e, para o autor, com suas próprias mazelas pessoais.
Este artigo tem como principal foco explanar as principais convergências entre as terapias analítico-comportamental e cognitivo-comportamental em relação aos principais desafios do terapeuta iniciante, suas habilidades, competências e atitudes que precisa desenvolver.
- Objetivos
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
- diferenciar alguns dos pressupostos teóricos das abordagens terapêuticas cognitivo-comportamentais e analítico-comportamentais;
- apreender as convergências das abordagens cognitivo-comportamentais e analítico-comportamentais em relação às habilidades do terapeuta;
- identificar algumas das habilidades que o terapeuta iniciante deve se preocupar em desenvolver;
- reconhecer informações sobre a importância da supervisão para identificar e desenvolver habilidades terapêuticas.
- Esquema conceitual